É possível dizer que eu e você vimos a melhor versão do Vasco (até o momento) na vitória sobre o Cruzeiro neste domingo (12), num Maracanã tomado por mais de 63 mil torcedores ensandecidos. O escrete comandado interinamente por Emílio Faro entendeu que precisava diminuir espaços na frente da sua área e acertar o pé nas transições ofensivas assim que a posse da bola fosse retomada. O gol marcado por Getúlio seguiu exatamente essa linha. Com a defesa e o ataque bem sincronizados e concentrados, o Trem Bala da Colina conseguiu segurar o time comandado por Paulo Pezzolano sem sofrer muito e demonstrou uma solidez que não se via há muito tempo. Melhor para o torcedor vascaíno que voltou a sorrir depois de muito tempo ao ver seu time do coração entrar de vez na briga pelo título brasileiro da Série B.
É verdade que a atmosfera no Maracanã ajudou e muito na vitória obtida neste domingo (12). E por mais que o Cruzeiro tenha ficado mais com a bola (62% de posse de acordo com o SofaScore) e finalizado mais a gol (quatorze em toda a partida), o Vasco se manteve fiel ao plano traçado por Emílio Faro e soube como fechar as linhas de passe do seu adversário. Aliás, o grande mérito da equipe de São Januário foi entender o que a partida pedia e o contexto que ia se desenhando. Enfrentar o escrete comandado por Paulo Pezzolano de peito aberto não era a melhor estratégia para uma equipe que se defendia bem, mas que dependia do toque de classe de Nenê para criar suas chances de gol.
É por isso que Emílio Faro apostou numa postura mais cautelosa. O bloco mais baixo de marcação do Vasco tinha esse objetivo claro de trazer o Cruzeiro para seu campo e explorar a velocidade de Figueiredo, Getúlio e Gabriel Pec se lançando às costas do trio formado por Geovane Jesus, Oliveira e Zé Ivaldo. É por isso que a Raposa ficou mais com a bola durante quase todo o jogo disputado neste domingo (12). Além da estratégia acertada nos treinamentos e na preleção, o Vasco também se mostrava mais intenso em todas as transições e sempre esteve melhor posicionado nas bolas aéreas ofensivas e defensivas. Muito dessa boa atuação coletiva tinha a ver com toda a concentração do time.
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Na prática, o time de São Januário permitia que o Cruzeiro chegassem à intermediária para aplicar uma forte pressão nos jogadores mais criativos, retomar a posse e acionar o setor ofensivo com bolas longas para os ponteiros ou buscando Nenê no espaço entre o meio-campo e a zaga celeste. O 4-2-3-1 de Emílio Faro tinha “cara” de 4-4-1-1, já que Getúlio voltava mais do que o camisa 10 vascaíno na marcação a Willian Oliveira e Neto Moura, os volantes do 3-4-1-2 de Paulo Pezzolano. Com Matheus Barbosa posicionado mais próximo de Gabriel Dias e Figueiredo um pouco mais preso do que o normal, o Vasco conseguiu conter as investidas da Raposa pelo lado direito com Jajá e Matheus Bidu. Mais à frente, Edu (o “homem-gol” do escrete celeste) perdia a maioria dos duelos contra Quintero e Anderson Conceição.
O gol marcado por Getúlio (aos 23 minutos da primeira etapa) seguiu toda a cartilha de Emílio Fato. Matheus Barbosa roubou a bola de Zé Ivaldo e lançou Gabriel Pec na esquerda. O camisa 11 avançou até a intermediária e viu Nenê aparecendo às costas de Geovane Jesus. O veterano arrastou a marcação de Oliveira com ele e colocou a bola na cabeça de Getúlio. O atacante se antecipou a Matheus Bidu e estufou as redes de Rafael Cabral. O gol premiava todo o trabalho coletivo do Vasco na partida e toda a concentração do time em cada lance. E vale destacar aqui a grande atuação de Yuri Lara. O camisa 5 pode não ser um primor na saída de bola, mas se transformou num verdadeiro cão de guarda da área vascaína. Se o Cruzeiro encontrava dificuldades para entrar na área, muito se deve ao trabalho feito pelo volante.
É interessante notar que o Cruzeiro só foi ter grandes chances de gol mais para o final da partida, quando Paulo Pezzolano desfez o 3-4-1-2 e partiu para o “abafa” numa espécie de 3-2-5 altamente ofensivo com as entradas de Filipe Machado, Rafa Silva, Daniel Júnior e Rafael Santos. Mesmo assim, este que escreve não se lembra de nenhuma grande defesa (daquelas milagrosas) feitas por Thiago Rodrigues. Se o ataque vascaíno fazia o goleiro Rafael Cabral trabalhar lá na frente, a defesa cumpria bem seu papel mais atrás. É verdade que Rafa Silva, Matheus Bidu e Filipe Machado quase empataram a partida nas poucas vezes em que o Cruzeiro conseguiu encontrar espaços no terço final. Mas o escrete comandado por Emílio Faro se manteve firme e pôde comemorar a vitória no Maracanã. E com toda a justiça.
São seis vitórias e seis empates em doze rodadas na Série B (o único time invicto na competição), com 12 gols marcados e apenas cinco sofridos. Os números do Vasco comprovam que a equipe parece finalmente ter compreendido o contexto na qual está inserida. A atitude vista em campo é bem diferente daquela que vimos em 2021. As partidas sofríveis e sem confiança parecem ter dado lugar para atuações consistentes e sólidas em aspectos táticos e técnicos. E a vitória sobre o Cruzeiro (ainda líder da Série B com 28 pontos) também não deixa de ser uma senhora injeção de ânimo para um clube que sofreu tanto nos últimos anos. O time de Paulo Pezzolano é organizado, tem um padrão tático interessante e sabe como se comportar com e sem a bola. E isso só mostra o tamanho do feito do time de Emílio Faro.
O jogo deste domingo (12) pode e deve ser tomado como exemplo de atuação coletiva para o Vasco nesses próximos dias. O caminho das pedras foi trilhado na base da solidez defensiva, da eficiência do ataque e do apoio da sua torcida no Maracanã. E fica também a certeza de que esse time pode crescer ainda mais na competição. A distância para o Cruzeiro diminuiu para quatro pontos e abriu sete do Grêmio (quinto colocado). O futuro parece promissor pela primeira vez em muito tempo.
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