Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES sabe muito bem que este que escreve já levantou diversos pontos positivos e negativos sobre o trabalho de Pia Sundhage à frente da Seleção Feminina. A derrota de virada para a Suécia, no entanto, deixou bem claro que a treinadora sueca esta coberta de razão quando fala da parte física e da concentração das nossas jogadoras. Na verdade, essa diferença no condicionamento físico e necessidade de evoluir nesse aspecto foi esfregada na nossa cara nesta terça-feira (28). Isso porque a equipe fez excelentes 60 minutos de partida até sucumbir diante do volume de jogo intenso e quase insano imposto pela equipe comandada por Kurt Gerhardsson. Podemos falar muitas outras coisas sobre o jogo disputado na Friends Arena. Mas não podemos fechar os olhos para essa necessidade cada vez mais urgente.
É lógico que podemos afirmar que a Seleção Feminina ainda dá a impressão de estar “engessada” no 4-4-2/4-2-4 de Pia Sundhage. Também podemos falar sobre a falta de variações na formação inicial da equipe. Mas é preciso compreender que o condicionamento físico vem antes de todos esses elementos. E por um motivo simples. Não há como se impor diante dos adversários (por mais fortes que eles sejam) se uma equipe não consegue vencer as divididas e manter a posse da bola. Isso é básico no futebol em todos os níveis. E também é um dos principais motivos pelos quais as equipes sul-americanas não conseguem superar as seleções do primeiro escalão.
Fora isso, ter intensidade máxima significa manter a concentração em cada lance. E os primeiros 60 minutos da Seleção Feminina nos mostraram isso muito bem. A Seleção Feminina foi organizada na marcação, soube sair da pressão da Suécia sem muitas dificuldades e conseguia conter o ataque adversário com bom posicionamento e botes certeiros. O 4-4-2 de Pia Sundhage tinha Luana e Angelina na proteção da zaga, uma Tamires atenta e certeira na defesa pela esquerda, Fê Palermo aparecendo bem no outro lado e muita velocidade nos contra-ataques. O Brasil fazia boa partida e não se deixava intimidar pelas suas fortes adversárias.
A grande verdade é que o time se comportou bem enquanto teve fôlego para se defender e contra-atacar em alta intensidade. Kerolin aproveitava bem os espaços às costas das zagueiras Ilestedt e Ericsson, Debinha se movimentava bastante na entrelinha e Ary Borges era uma das principais válvulas de escape do time pelo lado esquerdo. Do outro lado, Adriana (embora não comprometesse na defesa) parecia jogar uma rotação abaixo das demais companheiras de equipe. Com a defesa saindo da pressão com facilidade (principalmente Rafaelle), a Seleção Feminina encontrava espaços suficientes para encaixar suas escapadas ao ataque e se impunha diante de uma adversária mais qualificada e mais entrosada. Este que escreve vê na atuação brasileira no primeiro tempo vários pontos positivos. Há uma ideia clara de jogo sendo colocada em prática.
O belo gol de Debinha (nascido de jogada iniciada por Rafaelle no campo de defesa e que passou por Angelina e Fê Palermo antes de chegar na camisa 9 e capitã brasileira) fazia justiça ao que se via em campo até aquele momento. No entanto, a Seleção Feminina já começava a dar sinais de desgaste físico. E é aí que morava o perigo. Muito mais do que as entradas de Bia Zaneratto e Duda Santos nos lugares de Ary Borges e Luana respectivamente. Bastou um cochilo na defesa para que Kaneryd empatasse a partida aos 19 da segunda etapa. E nesse momento já não era difícil perceber o recuo excessivo da Seleção Feminina e as falhas de posicionamento da defesa causadas pela quebra na concentração. Dois minutos depois, Hurtig marcou o gol da virada sueca em lance que começou no meio-campo e que mostrou como a defesa brasileira estava mal posicionada.
A partir daí, o que se via era o já mencionado abismo no condicionamento físico das duas equipes em campo e o desmanche da Seleção Feminina na parte mental. A falta de concentração era facilmente perceptível em lances como o lance em que Bia Zaneratto desperdiçou finalização na marca do pênalti após cruzamento de Geyse e os erros na frente da área da goleira Lorena (que salvou o Brasil com pelo menos três grandes defesas). Nota-se aqui que tudo está ligado ao condicionamento físico. Sem fôlego, a perna falha, os passes saem errados e o time começa a “correr errado”. A maneira como as jogadoras estavam posicionadas no início do lance do (belo) gol de Blackstenius é um bom exemplo. Bia Zaneratto, Duda Santos e Debinha apenas assistem a jogada sair da defesa e chegar na camisa 11 do time de Kurt Gerhardsson.
A derrota desta terça-feira (28) chega a ser mais doída do que a sofrida diante da Dinamarca, visto que a Seleção Feminina fez um ótimo primeiro tempo e executou o plano de jogo de Pia Sundhage à risca. Aliás, este que escreve precisa reconhecer que Tamires se saiu muito bem jogando na lateral-esquerda e mostrando muita inteligência na marcação e na saída de bola. A questão, no entanto, é que o segundo tempo da partida disputada em Estocolmo escancarou a necessidade de se equilibrar a parte física. Ao mesmo tempo, difícil não perceber também que as jogadoras que entraram na segunda etapa não mantiveram o mesmo desempenho das que estavam em campo. A própria Pia Sundhage falou sobre isso na coletiva de imprensa após o jogo. Mas ficou claro para este que escreve que algumas ali pareciam estar em outra sintonia das demais.
A chave para uma boa campanha na Copa América Feminina passa incialmente pela melhora na concentração das nossas jogadoras e pela boa execução do planejamento de Pia Sundhage. Conforme mencionado anteriormente, podemos falar muitas coisas sobre suas ideias, a formação escolhida para a equipe e a maneira como as jogadoras atacam e se defendem. Mas a questão física é algo básico no futebol de alto rendimento. E as derrotas para Dinamarca e Suécia escancararam essa necessidade. Mas também é preciso deixar bem claro que isso tudo também passa por uma série de medidas impopulares pra muita gente que diz apoiar a modalidade. A começar pelo ajustamento do nosso calendário COMO UM TODO, pela melhora no nível da nossa principal liga e por melhores condições de tabalho nos nossos clubes. Estes também possuem uma bela parcela de responsabilidade.
Podemos criticar Pia Sundhage por uma série de escolhas feitas ao longo dos últimos meses. Mas também é necessário entender que tudo passa pela questão física. E essa é uma pedra cantada pela sueca desde a sua chegada na Seleção Feminina. Temos talento, temos material humano, mas nos falta condicionamento, intensidade e fôlego para encarar as equipes do primeiro escalão. Dar esse salto é mais do que necessário.