São Paulo explora os pontos fracos do Palmeiras e emplaca a terceira vitória seguida dentro de casa
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o "Choque-Rainha" desta segunda-feira (13) e as escolhas de Lucas Piccinato e Hoffmann Túlio
A vitória do São Paulo no “Choque-Rainha” da tarde desta segunda-feira (13) comprova a tese defendida por este que escreve mais de uma vez aqui neste espaço. O futebol feminino jogado aqui no Brasil está ficando cada vez mais estratégico, disputado e competitivo. Ao invés das goleadas frequentes (num passado nem tão distante assim), vemos partidas mais estudadas e equipes mais organizadas pelo menos na elite da modalidade. Difícil não perceber que a equipe de Lucas Piccinato executava um plano de jogo bem claro e explorou os pontos fracos do Palmeiras de Hoffmann Túlio com inteligência e muita concentração. A terceira vitória seguida no Brasileirão Feminino e os 100% de aproveitamento como mandante na competição são marcas significativas de um São Paulo que se mostra cada vez mais ambicioso.
Quem viu os últimos jogos do Palmeiras percebeu que o time comandado por Hoffmann Túlio tem sim muita força no seu setor ofensivo e muito volume de jogo nas transições para o ataque. Principalmente com Bia Zaneratto jogando muito mais como uma ponta de lança atrás de Carol Baiana, Duda Santos e Chú abertas e duas volantes pisando na área. Jogar de “peito aberto” contra as Palestrinas não é uma boa ideia. É por isso que Lucas Piccinato mudou um pouco a estratégia para a partida desta segunda-feira (13), visto que seu forte adversário tinha pontos fracos que poderiam sim ser explorados por sua equipe na base da inteligência, concentração e boa ocupação dos espaços no terço final.
Ao invés do 4-4-2/3-4-2-1 com Fê Palermo atuando como “lateral-base” pelo lado direito, o treinador do São Paulo apostou num 4-2-3-1 mais nítido com Cacau e Micaelly se rezando por dentro e pelo lado esquerdo. O objetivo aqui era explorar os espaços que Bruna Calderan deixava às suas costas e arrastar a marcação e Agustina e Day Silva para que Yaya, Maressa e Naná pudessem pisar na área. Mais atrás, Formiga ditava o ritmo da saída de bola e a dupla de zaga formada por Pardal e Thaís Regina controlava bem a profundidade e não dava campo para Carol Baiana e Bia Zaneratto atacarem. O Tricolor Paulista esteve sempre bem posicionado e parecia sempre um passo na frente das Palestrinas em Cotia.
A estratégia de Lucas Piccinato começou a dar certo logo aos 16 minutos do primeiro tempo (depois de um início de jogo muito faltoso e até certo ponto tenso além da conta). Maressa aparece no ataque e puxa a marcação de Katrine, Thaís e Chú pelo lado direito. A camisa 10 passa para Fê Palermo (muito mais ofensiva do que em outras partidas analisadas por este que escreve) e esta vê Naná mais aberta e faz o passe para a camisa 21 que manda a bola para a área. Cacau aproveita o espaço aberto pelo posicionamento de Yaya (que era muito mais “camisa 10” do que volante) e Micaelly e aparece às costas de Bruna Calderan. A finalização ainda toca na goleira Jully antes de morrer nas redes Palestrinas. O São Paulo abria o placar num lance bem trabalhado e que expôs alguns dos problemas defensivos do Palmeiras.
É bom que se diga que o Palmeiras encontrava muitas dificuldades para entrar na área do São Paulo. Na prática, a única chance de gol das Palestrinas só saiu no final do primeiro tempo, em finalização de Bia Zaneratto após cobrança de escanteio. Muito pouco para uma equipe que desejava se manter na liderança do Brasileirão Feminino e que precisava vencer o forte bloqueio defensivo do seu adversário em Cotia. Não foi por acaso que Hoffmann Túlio mandou Sochor para o jogo e sacou Carol Baiana. Estava claro que o Palmeiras precisava de mais criatividade. No entanto, o time seguia espaçado, falhava demais no último passe e estava muito bem vigiado pelo sistema defensivo do São Paulo. Mesmo jogando em algo próximo de um 3-4-3, as Palestrinas sofreram para fazer a bola chegar na área adversária.
Giovana e Carol Firmino entraram nos lugares de Naná e Formiga, mas Lucas Piccinato não mexeu na estrutura do seu 4-2-3-1 (que passou a ter mais cara de 4-4-2 nas transições para o ataque). O bloco mais baixo de marcação também era preciso nos botes e sempre levava perigo quando pegava a defesa do Palmeiras desguarnecida. Quando Cacau roubou a bola de Bruna Calderan (em lance limpo na opinião deste que escreve), Hoffmann Túlio já havia mandado Byanca Brasil para o jogo e sacado Thaís. Por mais ofensivas que estivessem, as Palestrinas abriam muitos espaços demais entre o meio-campo e a defesa. Não foi por acaso que o São Paulo conseguiu colocar quatro jogadoras no terço final contra Agustina e Day Silva no lance do segundo gol. O escrete de Lucas Piccinato se mostrava mais concentrado e muito mais intenso.
O Palmeiras ainda conseguiu diminuir com Sochor aproveitando bola levantada na área por Byanca Brasil aos 41 minutos do segundo tempo. No entanto, as Palestrinas só conseguiam levar perigo ao gol de Carla Maria na base do “abafa” e não conseguiu aproveitar o espaço que teve quando Lucas Piccinato recuou as linhas do São Paulo nos minutos finais. Ainda houve tempo para Camilinha (que vem rendendo muito bem jogando no meio-campo) ser expulsa após reclamar insistentemente com a arbitragem. O Tricolor Paulista chegava à sua terceira vitória seguida no Brasileirão Feminino e mantinha os 100% de aproveitamento jogando nos seus domínios. Os bons números da equipe tricolor falam por si só. São oito vitórias, dois empates e apenas duas derrotas, com 25 gols marcados e doze sofridos.
É mais uma prova de que o São Paulo quer subir de patamar de maneira definitiva nessa temporada. Por mais que a equipe de Lucas Piccinato ainda apresente alguns problemas (alguns deles causados pelo próprio treinador), é mais do que certo que o Tricolor Paulista chega forte na briga pelo título mais importante do futebol feminino no país. E diante da fase mais irregular do Corinthians, a tendência é que a disputa fique ainda mais acirrada.