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Palmeiras encaixa a melhor atuação coletiva do ano em vitória justa sobre o Corinthians; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca o jogo deste sábado (4) as estratégias escolhidas por Hoffmann Túlio e Arthur Elias

Por Luiz Ferreira em 05/06/2022 01:25 - Atualizado há 10 meses

Rebeca Reis / Staff Images Woman / CBF

A primeira vitória do Palmeiras sobre o Corinthians na história do Brasileirão Feminino também foi a melhor atuação coletiva do escrete comandado por Hoffmann Túlio em toda a temporada. Isso diz muito sobre o que eu e você vimos no Derby deste sábado (4) e sobre o tamanho do feito das Palestrinas. Nem mesmo os desfalques de jogadoras importantes do esquema tático de Arthur Elias e as apresentações ruins de Liana Salazar, Tamires, Adriana e companhia diminuem os méritos de Duda Santos (a melhor em campo na opinião deste colunista), Bia Zaneratto, Júlia Bianchi, Andressinha e Thaís. É também o tipo de resultado que dá muita confiança para todo o time nessa sequência do Brasileirão Feminino e que deixa bem claro que o Palmeiras tem sim futebol para sonhar bem alto nessa temporada.

O grande mérito de Hoffmann Túlio foi entender o que precisava ser feito contra o time do Corinthians. Ao invés do 4-3-3/4-2-3-1 da goleada sobre o São José, o treinador Palestrino optou por um 4-4-2 mais nítido e deu liberdade total para Bia Zaneratto circular por todo o campo e explorar as entrelinhas. Ao mesmo tempo, Carol Baiana arrastava a zaga formada por Giovana Campiolo e Tarciane para trás e Chú e Duda Santos atacavam o espaço às costas de Paulinha e Yasmim. Com as linhas mais altas e uma pressão na portadora da bola muito bem coordenada, o Palmeiras conseguiu tirar o Corinthians da sua zona de conforto. Na prática, Salazar, Diany e Mariza só conseguiam fazer a bola chegar na frente na base dos passes longos para Tamires, Adriana e Gabi Portilho, todas elas muito bem marcadas.

Formação inicial das duas equipes no Allianz Parque. Hoffmann Túlio deu liberdade total para Bia Zaneratto no seu 4-4-2 mais ortodoxo. Já Arthur Elias povoou o meio-campo, mas viu o Palmeiras dominar o meio-campo com certa facilidade.

É verdade que o Corinthians tem certa razão ao reclamar de algumas decisões da árbitra Adeli Mara Monteiro. Na visão deste que escreve, Andressinha deveria ter levado o cartão vermelho direto no final do primeiro tempo por falta em cima de Gabi Portilho quando esta partia em altíssima velocidade na direção do gol de Jully. Mas também é preciso dizer que isso não diminui em nada o tamanho da atuação do Palmeiras neste sábado (6). Os níveis de concentração e de intensidade vistos no Allianz Parque foram altíssimos. Todo o talento individual esteve à serviço da estratégia traçada por Hoffmann Túlio e as Palestrinas fizeram por merecer a vitória com toda a justiça. Já o Corinthians deixava a sensação de sentir demais a ausência de Gabi Zanotti. Faltava quem organizasse o time no meio-campo.

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O primeiro gol do Palmeiras (e de Duda Santos) é um bom exemplo de como a equipe de Hoffmann Túlio conseguiu manipular os espaços que encontrava pela frente para fazer a bola chegar no ataque. Bia Zaneratto recebe na esquerda, se livra de Gabi Portilho, ganha de Paulinha no corpo e vai até a linha de fundo. Nesse mesmo momento, Carol Baiana atrai Giovana Campiolo e Tarciane e Duda Santos se lança às costas de Yasmim (que foi para o meio da área para cobrir o espaço deixado pelas zagueiras corintianas). Não foi por acaso que o cruzamento da camisa 10 buscava a segunda trave de Lelê. Toda essa jogada tem muita coisa do planejamento de Hoffmann Túlio e do estudo meticuloso do seu (forte) adversário. Há uma ideia de jogo muito clara (e promissora) sendo colocada em prática no Palmeiras.

Bia Zaneratto recebe na esquerda, se livra da marcação, Yasmim cobre Tarciane e Tamires não acompanha Duda Santos. Toda a construção do primeiro gol do Palmeiras tem muita coisa das ideias de Hoffmann Túlio. Foto: Reprodução / BAND

Se o Palmeiras sabia o que fazer com a posse da bola, o mesmo se dava sem ela. Bia Zaneratto e Carol Baiana fechavam as linhas de passe, Andressinha e Júlia Bianchi saltavam para a pressão nos momentos certos e Chú e Duda Santos vigiavam Paulinha e Yasmim de perto. Sem qualidade para sair dessa pressão, o Corinthians tinha que apelar para as ligações diretas para o trio ofensivo, visto que Mariza esteve muito longe de Diany e Liana Salazar. E nesse ponto, a ausência de Gabi Zanotti era justificável, visto que o escrete comandado por Arthur Elias não tinha uma organizadora no seu meio-campo e nem aquela jogadora que sabe jogar de costas para a marcação. Toda essa disposição tática fez com que as Palestrinas concedessem poucas chances para um Corinthians travado e sem muitas ideias no Allianz Parque.

O Palmeiras soube como fechar as linhas de passe do Corinthians sem a bola. As linhas mais altas de marcação isolavam as volantes do Corinthians umas das outras e dificultavam a saída do time de Arthur Elias. Foto: Reprodução / BAND

O segundo tempo nos mostrou um Corinthians um pouco mais presente no campo de ataque após as mexidas de Arthur Elias. Jaqueline, Jheniffer e Miriã entraram no jogo e reorganizaram o Timão num 4-3-3/2-3-5 bastante agressivo nas suas transições. O problema é que faltava calma e frieza e sobrava afobação nas finalizações a gol e no último passe. Ou bom senso, como no lance em que Jheniffer usa o braço para tentar enganar a arbitragem. Do outro lado, Hoffmann Túlio apostou na velocidade de Byanca Brasil e na experiência de Shochor e Camilinha para administrar a vantagem no placar e organizar o time em algo próximo de um 4-2-3-1. As coisas ficaram ainda melhores para as Palestrinas depois que Duda Santos (que passou a jogar um pouco mais recuada depois das substituições) aproveitou bola rebatida da defesa para marcar o segundo gol da sua equipe.

As entradas de Jaqueline, Jheniffer e Miriã deram um pouco mais de volume de jogo ao Corinthians, mas ainda faltava organização. Já o Palmeiras se segurou bem na defesa e confirmou a vitória com mais um gol marcado por Duda Santos.

A atuação do Corinthians neste sábado (4) pode ser resumida através das péssimas tomadas de decisão de Jheniffer. Logo depois de levar o cartão amarelo por usar o braço deliberadamente, a camisa 9 erra um passe de calcanhar perto da sua área e arma o contra-ataque que vai resultar no segundo gol do Palmeiras. Mas é bom que se diga que mesmo as jogadoras experientes ficaram devendo. Tamires esteve muito mal na criação das jogadas e deixou muito a desejar na marcação. Adriana pouco fez no comando de ataque (e ainda perdeu um gol incrível debaixo das traves). Yasmim foi presa fácil para Duda Santos e Bruna Calderan. E a colombiana Liana Salazar errou praticamente tudo que tentou na partida. O resultado foi um Corinthians que esteve muito abaixo do que eu e você já vimos não tem muito tempo.

Mas tudo isso foi resultado da grande atuação coletiva do Palmeiras. O time comandado por Hoffmann Túlio conseguiu tirar seu forte adversário da sua zona de conforto e fez muito mais do que apenas se defender e esperar o Corinthians. As Palestrinas encaixaram a sua melhor atuação coletiva, quebraram o jejum de vitórias sobre o eterno rival e provaram que poder ir ainda mais longe nesse Brasileirão Feminino. Será que alguém ousa duvidar delas?

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