A primeira vitória do Palmeiras sobre o Corinthians na história do Brasileirão Feminino também foi a melhor atuação coletiva do escrete comandado por Hoffmann Túlio em toda a temporada. Isso diz muito sobre o que eu e você vimos no Derby deste sábado (4) e sobre o tamanho do feito das Palestrinas. Nem mesmo os desfalques de jogadoras importantes do esquema tático de Arthur Elias e as apresentações ruins de Liana Salazar, Tamires, Adriana e companhia diminuem os méritos de Duda Santos (a melhor em campo na opinião deste colunista), Bia Zaneratto, Júlia Bianchi, Andressinha e Thaís. É também o tipo de resultado que dá muita confiança para todo o time nessa sequência do Brasileirão Feminino e que deixa bem claro que o Palmeiras tem sim futebol para sonhar bem alto nessa temporada.
O grande mérito de Hoffmann Túlio foi entender o que precisava ser feito contra o time do Corinthians. Ao invés do 4-3-3/4-2-3-1 da goleada sobre o São José, o treinador Palestrino optou por um 4-4-2 mais nítido e deu liberdade total para Bia Zaneratto circular por todo o campo e explorar as entrelinhas. Ao mesmo tempo, Carol Baiana arrastava a zaga formada por Giovana Campiolo e Tarciane para trás e Chú e Duda Santos atacavam o espaço às costas de Paulinha e Yasmim. Com as linhas mais altas e uma pressão na portadora da bola muito bem coordenada, o Palmeiras conseguiu tirar o Corinthians da sua zona de conforto. Na prática, Salazar, Diany e Mariza só conseguiam fazer a bola chegar na frente na base dos passes longos para Tamires, Adriana e Gabi Portilho, todas elas muito bem marcadas.
É verdade que o Corinthians tem certa razão ao reclamar de algumas decisões da árbitra Adeli Mara Monteiro. Na visão deste que escreve, Andressinha deveria ter levado o cartão vermelho direto no final do primeiro tempo por falta em cima de Gabi Portilho quando esta partia em altíssima velocidade na direção do gol de Jully. Mas também é preciso dizer que isso não diminui em nada o tamanho da atuação do Palmeiras neste sábado (6). Os níveis de concentração e de intensidade vistos no Allianz Parque foram altíssimos. Todo o talento individual esteve à serviço da estratégia traçada por Hoffmann Túlio e as Palestrinas fizeram por merecer a vitória com toda a justiça. Já o Corinthians deixava a sensação de sentir demais a ausência de Gabi Zanotti. Faltava quem organizasse o time no meio-campo.
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O primeiro gol do Palmeiras (e de Duda Santos) é um bom exemplo de como a equipe de Hoffmann Túlio conseguiu manipular os espaços que encontrava pela frente para fazer a bola chegar no ataque. Bia Zaneratto recebe na esquerda, se livra de Gabi Portilho, ganha de Paulinha no corpo e vai até a linha de fundo. Nesse mesmo momento, Carol Baiana atrai Giovana Campiolo e Tarciane e Duda Santos se lança às costas de Yasmim (que foi para o meio da área para cobrir o espaço deixado pelas zagueiras corintianas). Não foi por acaso que o cruzamento da camisa 10 buscava a segunda trave de Lelê. Toda essa jogada tem muita coisa do planejamento de Hoffmann Túlio e do estudo meticuloso do seu (forte) adversário. Há uma ideia de jogo muito clara (e promissora) sendo colocada em prática no Palmeiras.
Se o Palmeiras sabia o que fazer com a posse da bola, o mesmo se dava sem ela. Bia Zaneratto e Carol Baiana fechavam as linhas de passe, Andressinha e Júlia Bianchi saltavam para a pressão nos momentos certos e Chú e Duda Santos vigiavam Paulinha e Yasmim de perto. Sem qualidade para sair dessa pressão, o Corinthians tinha que apelar para as ligações diretas para o trio ofensivo, visto que Mariza esteve muito longe de Diany e Liana Salazar. E nesse ponto, a ausência de Gabi Zanotti era justificável, visto que o escrete comandado por Arthur Elias não tinha uma organizadora no seu meio-campo e nem aquela jogadora que sabe jogar de costas para a marcação. Toda essa disposição tática fez com que as Palestrinas concedessem poucas chances para um Corinthians travado e sem muitas ideias no Allianz Parque.
O segundo tempo nos mostrou um Corinthians um pouco mais presente no campo de ataque após as mexidas de Arthur Elias. Jaqueline, Jheniffer e Miriã entraram no jogo e reorganizaram o Timão num 4-3-3/2-3-5 bastante agressivo nas suas transições. O problema é que faltava calma e frieza e sobrava afobação nas finalizações a gol e no último passe. Ou bom senso, como no lance em que Jheniffer usa o braço para tentar enganar a arbitragem. Do outro lado, Hoffmann Túlio apostou na velocidade de Byanca Brasil e na experiência de Shochor e Camilinha para administrar a vantagem no placar e organizar o time em algo próximo de um 4-2-3-1. As coisas ficaram ainda melhores para as Palestrinas depois que Duda Santos (que passou a jogar um pouco mais recuada depois das substituições) aproveitou bola rebatida da defesa para marcar o segundo gol da sua equipe.
A atuação do Corinthians neste sábado (4) pode ser resumida através das péssimas tomadas de decisão de Jheniffer. Logo depois de levar o cartão amarelo por usar o braço deliberadamente, a camisa 9 erra um passe de calcanhar perto da sua área e arma o contra-ataque que vai resultar no segundo gol do Palmeiras. Mas é bom que se diga que mesmo as jogadoras experientes ficaram devendo. Tamires esteve muito mal na criação das jogadas e deixou muito a desejar na marcação. Adriana pouco fez no comando de ataque (e ainda perdeu um gol incrível debaixo das traves). Yasmim foi presa fácil para Duda Santos e Bruna Calderan. E a colombiana Liana Salazar errou praticamente tudo que tentou na partida. O resultado foi um Corinthians que esteve muito abaixo do que eu e você já vimos não tem muito tempo.
Mas tudo isso foi resultado da grande atuação coletiva do Palmeiras. O time comandado por Hoffmann Túlio conseguiu tirar seu forte adversário da sua zona de conforto e fez muito mais do que apenas se defender e esperar o Corinthians. As Palestrinas encaixaram a sua melhor atuação coletiva, quebraram o jejum de vitórias sobre o eterno rival e provaram que poder ir ainda mais longe nesse Brasileirão Feminino. Será que alguém ousa duvidar delas?