Encaixe perfeito do “Quarteto Fantástico” da Seleção Brasileira ainda depende de uma série de ajustes
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória magra sobre o Japão e as escolhas de Tite na partida desta segunda-feira (6)
Boa parte da imprensa esportiva e dos torcedores está “indignada” (leia com a voz do GIL DO VIGOR) com o fato do jovem Danilo não ter entrado em campo nos amistosos contra Japão e Coreia do Sul. A bronca é compreensível e renderia páginas e mais páginas sobre a lástima que é o calendário do nosso futebol. No entanto, a vitória magra sobre o escrete nipônico nesta segunda-feira (6) trouxe elementos que merecem a nossa atenção muito mais do que qualquer coisa no momento. Tite mandou a Seleção Brasileira num 4-4-2/4-2-4 com Vinícius Júnior no ataque ao lado de Neymar, Lucas Paquetá e Raphinha. Só que essa formação (preferida de muitos torcedores) precisa de uma série de ajustes para “dar a liga” necessária no escrete canarinho. E a partida contra o Japão deixou isso bem claro para este que escreve.
Isso porque as características do time que entrou em campo nesta segunda-feira (6) é diferente da equipe que goleou a Coreia do Sul na semana passada. É importante deixar bem claro que tudo é uma questão de aproveitamento dos espaços no campo ofensivo. Com Richarlison em campo e Lucas Paquetá pelo lado, a Seleção Brasileira ganha uma referência no ataque e um “ponta-armador” na esquerda que pode fechar por dentro num 4-3-3 (junto a Casemiro e Fred) e ainda aparecer em diagonal para a finalização a gol. Com Vinícius Júnior entrando na vaga do “Pombo”, o jeito de jogar muda. Com Neymar e Paquetá jogando mais por dentro, o escrete canarinho passa a depender demais dos pontas (com os “pés invertidos”) para atacar a área adversária em diagonal.
É verdade que a Seleção Brasileira também fazia a inversão para o 2-3-5 com Guilherme Arana atacando o corredor aberto por Vinícius Júnior. O problema é que isso acabou sobrecarregando demais os volantes Casemiro e Fred na criação das jogadas. Por mais que os dois usassem as inversões de lado para abrir o 4-3-3 japonês, o que se via eram as claras dificuldades da equipe comandada por Tite para encontrar espaços na área adversária. Faltava a objetividade que o escrete canarinho teve logo no primeiro minuto de jogo quando Lucas Paquetá acertou a trave e quando Neymar e Raphinha obrigaram o goleiro Gonda a fazer boas defesas ainda no primeiro tempo. E faltava também uma maior fluência do ataque brasileiro mais por dentro.
Houve também quem reclamasse do fato de Neymar segurar demais a bola por dentro e demorar para acionar os companheiros de equipe em determinados momentos da partida. De fato, o camisa 10 poderia ter dado mais fluidez às jogadas de ataque. Por outro lado, a sua importância na Seleção Brasileira ainda é gigantesca. Percebendo que a marcação adversária estava mais apertada, o jogador do Paris Saint-Germain tentou chamar mais os jogadores nipônicos e permitir que Vinícius Júnior, Lucas Paquetá e Raphinha conseguissem encontrar espaço. Este que escreve entende que o lado esquerdo poderia ter sido mais utilizado, visto que Guilherme Arana pintava como opção interessante naquele setor mesmo vindo mais por dentro em alguns momentos. Mesmo assim, o Japão fazia jogo duro (até demais em alguns momentos) e teve seus méritos na igualdade no placar.
Quem via a partida pela TV Globo percebeu que os comentaristas falavam a todo momento na postura mais cautelosa de Raphinha. Postura compreensível, visto que Daniel Alves já não tem mais o mesmo vigor para fazer a recomposição defensiva e precisa de auxílio pelo seu lado. O mesmo acontecia pela esquerda, com Vinícius Júnior auxiliando Guilherme Arana. No entanto, por mais que a Seleção Brasileira estivesse bem organizada, os jogadores deixaram a desejar na contenção dos espaços por dentro das linhas. Junya Ito aproveitou a desatenção do sistema defensivo brasileiro para atacar as costas da última linha em alguns momentos. Não fossem as atuações seguras de Éder Militão e Marquinhos, as coisas poderiam ter se complicado. Seja como for, esse é mais um ponto que demanda a atenção de Tite.
Acabou que o desempenho da Seleção Brasileira melhorou com a entrada de Richarlison no setor ofensivo. O simples presença de uma referência no comando de ataque permitiu que os demais jogadores pudessem atacar o espaço aberto pelo “Pombo”. E também não foi por acaso que o único gol da partida tenha surgido em penalidade sofrida pelo jogador do Everton. Ao mesmo tempo, Com Lucas Paquetá mais recuado, Gabriel Martinelli e Gabriel Jesus pelas pontas e Neymar mais centralizado, o Brasil conseguiu o equilíbrio que buscou tanto durante a partida contra o Japão. A ideia do “Quarteto Fantástico” é boa e promissora, mas ainda carece de ajustes em todos os setores e mais consistência nas jogadas por dentro. Principalmente quanto a Seleção Brasileira enfrentar adversários mais qualificados.
Este que escreve entende os desejos de imprensa esportiva e torcedores por uma equipe mais “vibrante” e as reclamações sobre a qualidade dos adversários da Seleção Brasileira. No entanto, o contexto e o histórico justifica essas escolhas. O Brasil poderia ter enfrentado o Japão nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018 se o escrete nipônico não tivesse levado a virada da Bélgica nos minutos finais. E a Coreia do Sul pode cruzar o caminho dos comandados de Tite num possível confronto das oitavas de final do Mundial do Catar. Saber como estes adversários se comportam e encarar equipes que jogam com bloco baixo é fundamental para que o escrete canarinho entenda qual será seu caminho no final do ano. São confrontos que podem sim acontecer e que vão exigir bastante da Seleção Brasileira.
Sobre Danilo (do Palmeiras) e qualquer outro jogador, este que escreve entende que Tite vê a necessidade de se consolidar time que o treinador do escrete canarinho julga como o “ideal” nesses meses que antecedem a Copa do Mundo. É por isso que é muito complicado pensar em oportunidades para qualquer outro nome que não tenha sido convocado nesses últimos meses. O momento não é correção dos erros e aprimoramento de todas as qualidades. E não de testes.