Este que escreve elogiou bastante as contratações da Ferroviária no início da temporada, mas alertava para o fato de que Roberta Batista teria dificuldades a mais para implementar seus conceitos num elenco cheio de caras novas. Criar uma vivência de competição e encontrar a formação ideal no meio de tantos problemas não é tarefa fácil. E o empate com o Real Brasília (comandada por Adilson Galdino) neste sábado (11) comprova a tese de que as Guerreiras Grenás ainda precisam de mais consistência e de mais tempo para se consolidarem como time e não como apenas um elenco qualificado. Só que o zero a zero na Fonte Luminosa deixou claro que Roberta Batista precisa encontrar soluções para tantos erros nas tomadas de decisões. Esse parece ser o maior e mais urgente problema do escrete afeano no momento.
Todos nós sabemos que o velho e rude esporte bretão está recheado de variáveis e que ele não se deixa controlar por nada no mundo. Por outro lado, existem maneiras de se reduzir esse caos e desordem quando a bola está rolando. Organização, concentração e intensidade são fundamentais para qualquer equipe do mundo ao menos ter sucesso e diminuir a margem de erro. É nisso tudo que Roberta Batista vem se baseando para montar a sua Ferroviária. Falando sobre o jogo deste sábado (11) em si, as Guerreiras Grenás estavam escaladas num 4-4-2 que poderia se transformar num 4-1-4-1, num 4-3-3, num 4-2-3-1 ou até mesmo num 3-4-1-2 dependendo do posicionamento das jogadoras dentro de campo.
Daiane poderia jogar como “lateral-base” ao lado de Camila e Ana Alice com Aline Gomes se transformando em ala pela direita. Fany Gauto tinha liberdade para aparecer no ataque como “enganche” e municiar a dupla de ataque móvel formada por Eudimilla e Laryh. Do outro lado, o Real Brasília jogava com o bloco de marcação mais recuado e mantendo Thaís Lemos e Marcela Guedes mais próximas das laterais Laine e Carol Gomes para justamente fechar as linhas de passe das Guerreiras Grenás e ainda aproveitar os espaços às costas de Luana e Ingryd para encaixar os contra-ataques. No entanto, tanto a Ferroviária como as Leoas do Planalto erravam demais no último passe e nas tomadas de decisão.
É possível dizer que o placar teria sido muito diferente do zero a zero incômodo deste sábado (11) se Real Brasília e Ferroviária tivessem apenas um pouco de calma e concentração na hora de fazer a bola chegar no campo de ataque. Isso porque as duas equipes. Por mais que Roberta Batista tenha muito talento à sua disposição, as Guerreiras Grenás ainda apresentam problemas em pontos mais básicos já levantados aqui mesmo neste espaço. O 4-1-4-1 da treinadora afeana melhorou a qualidade do passe no meio-campo, mas acabou expondo demais as laterais Daiane e Barrinha na marcação e deixou Luana isolada na saída de bola. Isso tudo só agravava os problemas de controle da profundidade da defesa das Guerreiras Grenás (o popular “correr para trás”) e expôs a falta de concentração do time em alguns lances.
Conforme o tempo ia passando e as chances sendo desperdiçadas, as Guerreiras Grenás foram perdendo a organização tática e se lançando ao ataque de maneira desordenada. Não foi por acaso que o Real Brasília encontrou tantos espaços às costas da última linha defensiva da Ferroviária. Sempre com Maria Dias aparecendo no espaço entre a zaga e o meio-campo afeano, com Nenê arrastando a marcação de Ana Alice e Camila e com as ponteiras das Leoas do Planalto explorando as subidas das laterais. Já jogando em algo próximo de um 4-2-4 no segundo tempo, a Ferroviária sofreu controlar o jogo e viu suas adversárias encaixarem bons contra-ataques. Mesmo assim, o zero não saiu do placar muito por conta dos erros nas tomadas de decisão e na afobação das jogadoras na hora de concluir as jogadas.
É verdade que o empate sem gols neste sábado (11) não agradou ninguém na Fonte Luminosa. Por outro lado, Ferroviária e Real Brasília seguem próximos do G8 do Brasileirão Feminino e com plenas condições de se garantirem na fase mata-mata da competição nacional. Só que ficou evidente a necessidade de melhora das equipes de Roberta Batista e Adilson Galdino nos quesitos levantados anteriormente. Principalmente as Guerreiras Grenás, que possuem o elenco mais qualificado (pelo menos em tese) e com mais condições de se adaptarem a diferentes contextos do que as Leoas do Planalto. Este que escreve ainda espera por atuações mais consistentes de Ingryd, Fany Gauto, Eudimilla e companhia nesse Brasileirão Feminino. Foram apenas cinco pontos conquistados nas últimas cinco rodadas. Muito pouco.
Corrigir ou pelo menos amenizar os problemas nas tomadas de decisão é a tarefa mais urgente de Roberta Batista nesses próximos dias. Treinar, criar situações de jogo, buscar soluções dentro do elenco afeano e colocá-las em prática é fundamental para que as Guerreiras Grenás consigam recuperar a consistência de outros tempos e voltar à briga pelo título mais importante do futebol feminino no país na parte de cima da tabela. Há como jogar mais e (principalmente) jogar melhor.