Ao contrário do que alguns colegas de imprensa afirmam, a Seleção Feminina enfrentou um grande adversário nesta sexta-feira (24). A Dinamarca é a atual vice-campeã da Eurocopa Feminina (disputada em 2017) e conta com a grande Pernille Harder como principal jogadora e referência técnica. Estava mais do que claro que o amistoso contra o escrete comandado por Lars Sondergaard exigiria muito do time de Pia Sundhage. E assim aconteceu. Apesar da derrota por 2 a 1 em Copenhague, ficou bem claro para este que escreve que o Brasil apresentou futebol suficiente para PELO MENOS sair de Copenhague com a igualdade no placar. Há sim a necessidade clara de ajustes em todos os setores e também de um entrosamento maior entre as jogadoras. Mas a evolução técnica e tática é nítida.
Isso porque o esquema tático proposto por Pia Sundhage parece cada vez mais assimilado pelas jogadoras. Ainda que as falhas no posicionamento e os problemas na compactação defensiva tenham aberto espaços generosos para a chegada da Dinamarca, a Seleção Feminina conseguiu criar problemas para a goleira Christensen com a boa circulação do quarteto ofensivo no espaço entre o meio-campo e a defesa adversária. É óbvio que os seguidos erros nas tomadas de decisão e o grande número de oportunidades desperdiçadas por Debinha, Bia Zaneratto, Kerolin e companhia acabaram fazendo a diferença numa partida em que o Brasil poderia ter passado por muito menos problemas do que passou. Principalmente na defesa.
Pia Sundhage manteve seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro com Kerolin e Adriana pelos lados, Debinha se juntando a Bia Zaneratto no comando de ataque e Luana e Duda Santos protegendo a última linha. A falta de entrosamento e de ritmo (no caso de algumas jogadoras) se fazia mais evidente quando se percebia a liberdade que Pernille Harder e as alas Janni Thomsen e Sofie Svava tinham para circular às costas de Luana e Duda Santos. Sem a ajuda das pontas na recomposição, Letícia Santos e Fê Palermo ficavam sobrecarregadas quando a Dinamarca acionava o setor ofensivo com bolas mais longas. Além disso tudo, o nervosismo tomou conta de algumas atletas quando Thomsen aproveitou passe de Pernille Harder e abriu o placar logo aos 16 minutos do primeiro tempo.
É interessante notar que a Seleção Feminina subiu de produção quando passou a explorar a recomposição defensiva mais lenta da Dinamarca. Nesse ponto, vale destacar aqui a movimentação das “pontas” Adriana e Kerolin. Enquanto uma arrastava a marcação pelo seu lado, a outra atacava o espaço aberto pela movimentação de todo o quarteto ofensivo. Duda Santos também aparecia constantemente na intermediária ofensiva e foi útil nas vezes em que conseguiu vencer os duelos contra Sanne Troelsgaard e Junge Pedersen no meio-campo. Infelizmente, Debinha desperdiçou duas boas chances na primeira etapa e Bia Zaneratto parecia estar em outra rotação. Não foram poucas vezes em que a atacante do Palmeiras ficou encaixotada no meio do trio de zagueiras da Dinamarca. Faltava efetividade e um pouco de capricho nas finalizações.
Sem resolver lá na frente e com a marcação frouxa demais na saída de bola, a Seleção Feminina foi se transformando em presa fácil para a Dinamarca sempre que a equipe de Lars Sondergaard acelerava as transições para o ataque. O 3-4-2-1 inicial se transformava numa espécie de 3-2-5 com o avanço das alas, a presença de Signe Bruun empurrando a defesa brasileira para trás, Rikke Madsen aparecendo no terço final e Pernille Harder procurando a entrelinha. Nesse ponto, Pia Sundhage acertou em cheio quando apontou a falta de compactação como um dos problemas mais graves da sua equipe no jogo desta sexta-feira (24). O Brasil concedeu demais e acabou pagando o preço pela falta de concentração e de frieza nos momentos decisivos contra um adversário mais cascudo e muito melhor condicionado fisicamente.
A segunda etapa nos mostrou uma Seleção Feminina muito mais ligada e muito mais intensa nas transições ofensivas. Com o quarteto ofensivo mais ligado na marcação da saída de bola, o Brasil quase igualou o placar com Kerolin, Bia Zaneratto, Fê Palermo, Adriana e Ary Borges. Difícil não perceber a mudança no ânimo e na agressividade do ataque brasileiro após as substituições promovidas por Pia Sundhage e a correção no posicionamento das suas jogadoras. Debinha empatou a partida em bela jogada individual aos 41 minutos, mas a defesa voltou a falhar depois que Kathellen errou o bote e Nadia Nadim se livrou de Fê Palermo com extrema facilidade e cruzou para Mille Gejl finalizar sem chance de defesa para Lorena. Ainda que o time tenha melhorado, todos os setores precisam de ajustes mais finos.
Está claro para este que escreve que a Seleção Feminina poderia ter saído de campo PELO MENOS com o empate. Apesar dos problemas apresentados anteriormente e do nervosismo de algumas jogadoras mais experientes (justamente daquelas que mais se espera), o time se comportou bem e conseguiu igualar as ações dentro de campo contra um adversário que se sobressaía demais no condicionamento físico. Fora isso, o escrete comandado por Pia Sundhage tem muito mais conjunto e consistência do que em outros tempos. Há uma ideia colocada em prática e cada vez mais assimilada pelas atletas e isso é ótimo, visto que aquela dependência de Marta, Cristiane ou qualquer outro nome de peso não existe mais. O que vemos é um time mais coeso, que precisa sim de ajustes, mas que ainda pode crescer muito.
É por isso que este que escreve defende que a Seleção Feminina tem sim futebol para subir de patamar e se consolidar entre as melhores do mundo. Por outro lado, esse processo não é tão veloz quanto gostaríamos. O legado que Pia Sundhage está deixando é imenso, mas só será perceptível mais para a frente. Tempo e paciência são mais do que necessários para que o Brasil finalmente se consolide como EQUIPE e não como um amontoado de grandes jogadoras. Falo com tranquilidade.