Vitória do Fluminense no Clássico Vovô tem a assinatura indelével do “Dinizismo”; confira a análise
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Fernando Diniz e alguns dos problemas do Botafogo de Luís Castro
Os números do SofaScore (no tweet abaixo) comprovam a superioridade do Fluminense no Clássico Vovô disputado neste domingo (26). A equipe comandada por Fernando Diniz valorizou a posse da bola, finalizou mais vezes a gol e não se incomodou com os riscos que a postura mais agressiva poderia trazer. O Botafogo, por sua vez, adotou a estratégia que outras equipes do Brasileirão adotaram (principalmente América-MG, Juventude e Flamengo), mas sem muito sucesso. Isso porque o escrete das Laranjeiras conseguiu encontrar espaços no 5-4-1 de Luís Castro e teve no zagueiro Manoel o grande herói da sexta vitória do time no Brasileirão. Tudo isso com a assinatura indelével do mais puro “Dinizismo”. Intensidade na marcação, linhas altas, jogo ofensivo, vertical e de muita aproximação entre os jogadores.
Este que escreve não vê a postura do Botafogo com errada ou imprópria para encarar o Fluminense. O jogo é dos jogadores e a estratégia é dos treinadores. As coisas funcionam assim desde os tempos de Fergus Sutter (quem viu “The English Game” vai pegar a referência). Jogar mais recuado, diminuir o espaço entre suas linhas e acelerar na direção da área adversária assim que se recupera a bola é um estilo legítimo e que pode ser usado quantas vezes forem necessárias. Óbvio que o problema todo está na execução dessa estratégia e nos méritos do adversário na pressão pós-perda e na recomposição defensiva. E são poucos times no mundo que conseguem sofrer tanto sem sofrer gols.
É por isso que há mais méritos no Fluminense do que erros do Botafogo na humilde visão deste colunista. O escrete comandado por Fernando Diniz assumiu todos os riscos que a postura mais agressiva poderia trazer diante de um oponente que já mostrou poder de reação em situações muito mais complicadas (vide a virada histórica sobre o Internacional). O tal “Dinizismo” tem muito disso. Estamos falando de um treinador que faz parte do grupo do “oito ou oitenta”. Ou você é fã de Fernando Diniz, ou você detesta seu estilo de jogo. O “caminho do meio” (como diz a filosofia oriental), no entanto, parece o melhor caminho para se compreender o que se passa na cabeça do comandante do Fluzão.
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Quem viu a escalação inicial das duas equipes já percebeu o que estava por vir. O Fluminense entrou em campo no 4-2-3-1 costumeiro de Fernando Diniz. Escalado como lateral, Caio Paulista se transformava num verdadeiro ponta pela esquerda quando a equipe das Laranjeiras iniciava a construção das jogadas de ataque. Com Samuel Xavier mais próximo de Nino e Manoel, o time atraía Matheus Nascimento, Chay e Vinícius Lopes e explorava bastante o espaço que existia entre as linhas do Botafogo. Era por isso que a primeira pressão do time comandado por Luís Castro era tão facilmente vencida no meio-campo. A consequência disso era a bola limpa nos pés de André, Nonato e Paulo Henrique Ganso e as subidas rápidas ao ataque com Jhon Arias procurando Cano no ataque e Luiz Henrique abrindo o campo pela direita.
A grande sacada de Fernando Diniz é a aproximação entre os jogadores no setor ofensivo. As melhores chances do Fluminense surgiram nos momentos em que todo o time se aproximou do setor onde estava a bola e deu opção de passe para quem estava com ela. Na melhor chance criada no primeiro tempo, Samuel Xavier encontrou Jhon Arias atacando o espaço entre Joel Carli e Victor Cuesta. No entanto, o passe poderia ser para Luiz Henrique (mais aberto pela direita), Ganso (que já posicionava o corpo para o cruzamento para a área), Nonato ou André (que vinham de trás para tentar a finalização da entrada da área). E isso sem contar as infiltrações de Caio Paulista e Germán Cano. O Fluminense se mostrava muito difícil de ser marcado e de ser parado. Enquanto isso, o Botafogo sofria além da conta na defesa.
Mas a postura agressiva do Fluminense tem seus riscos. As melhores chances do Botafogo no primeiro tempo surgiram de lances em que Del Piage e Tchê Tchê conseguiram saltar para a pressão no momento certo e acionar o trio ofensivo nos contra-ataques. Além disso, o lado esquerdo da defesa era o setor mais frágil da equipe comandada por Fernando Diniz. Isso porque Caio Paulista ainda tem certas dificuldades na marcação jogando como lateral. Inexplicavelmente, o Botafogo usou muito pouco as descidas de Saravia e Vinícius Lopes às costas do camisa 70 do Fluminense. Não foi por acaso que a chance mais clara de gol do escrete de Luís Castro surgiu justamente de uma bola longa no lado direito de ataque. Fato é que o Glorioso tinha superioridade numérica no ataque, mas não conseguiu usar esse ponto a seu favor.
Com John Kenedy e Matheus Martins nos lugares de Cano e Paulo Henrique Ganso, o Fluminense ganhou mais volume de jogo e mais mobilidade no campo de ataque. Com praticamente todo o time no campo de ataque e muita pressão na defesa do Botafogo, o Tricolor das Laranjeiras conseguiu marcar o único gol da partida com Manoel (aos 36 minutos do segundo tempo) recebendo passe de Caio Paulista no meio da área e finalizando como autêntico centroavante. O início da jogada, no entanto, nos mostra mais alguns preceitos do “Dinizismo”. Luiz Henrique, Matheus Martins e Nino arrastam a defesa e empurram a defesa alvinegra para trás e abrem o espaço que o camisa 26 precisava para receber o passe. Aliás, é meio difícil entender como o Botafogo deu tanto espaço para um ZAGUEIRO receber a bola dentro da sua área.
O tal “Dinizismo” ainda tem muitos detratores e muitos críticos. Há quem veja em Fernando Diniz um visionário incompreendido e um dos maiores expoentes do chamado “futebol-arte” dos últimos anos. E há quem veja no treinador do Fluminense apenas mais um “Professor Pardal” que ainda apresenta sérios problemas na montagem das suas equipes. Conforme mencionado anteriormente, o “caminho do meio” parece ser o mais sensato. Este que escreve prefere ver no treinador uma tentativa de adaptar seus conceitos ao elenco que tem em mãos e à crescente cobrança por resultados positivos. Esse parece ser o grande motivo pelo qual vemos o Fluminense optando mais por bolas longas e ligações diretas do que em outros tempos. Mesmo assim, a pressão pós-perda, o jogo apoiado e postura agressiva ainda estão lá.
Vale destacar também a atuação de Luiz Henrique. A despedida do camisa 11 do Fluminense teve mais uma vitória e mais uma boa apresentação da jovem promessa no Brasileirão. A tendência é que cresça ainda mais no Velho Continente e se destaque no sempre exigente futebol espanhol. Fará muita falta no Tricolor das Laranjeiras pela explosão, pela habilidade com a bola no pé e pela capacidade de se livrar dos zagueiros adversários com toda a certeza.
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