André Negrão explica “pressão” para disputar Le Mans, mas afirma: “Corrida é mágica”
Principal prova do Campeonato Mundial de Endurance da FIA, 24 Horas de Le Mans terá mais uma vez a presença do piloto brasileiro
Com uma família de muita história no automobilismo brasileiro, André Negrão, piloto da Signature Alpine, vive a expectativa de disputar mais uma vez as 24 Horas de Le Mans. Após fazer sua estreia na categoria principal da famosa prova francesa, André detalhas os desafios que irá encontrar.
“Eu sou o piloto que pega a parte da noite. Tenho adaptação muito boa na parte noturna. Nos últimos dois anos, como foram em meses diferentes (agosto e setembro) as noites eram mais compridas. Le Mans é mágico. Estando em uma equipe francesa é uma pressão a mais“, afirmou Negão.
Segundo ele, “a oportunidade ganhar e fazer parte da história de Le Mans é fantástico. Óbvio que é uma pressão mais. Já tivemos um resultado bom no ano passado, então a expectativa é grande”.
“Le Mans pode ser muito boa como muito ingrata. Tudo pode acabar nas primeiras voltas como nas últimas. Graças a Deus isso não aconteceu comigo, mas claro que tem uma pressão a mais”, disse o piloto.
Preparação para Le Mans
A prova terá início no sábado (11), terminando no domingo (12). Conforme explicou André Negrão, ele irá pilotar durante 8 horas. Mas o brasileiro explicou que o cansaço não é só pela pilotagem.
“É algo engraçado. Corríamos Le Mans no videogame e já achávamos cansativo. Eu fico 8 horas no carro e todo mundo acha que a corrida começa na largada. Mas na verdade ela começa às 7h da manhã. Toda parte de mídia, patrocinadores, parada dos pilotos que é um dia antes. Tudo isso cansa, fora a própria prova”.
Já sobre a preparação pessoal, André Negão comentou que a principal questão é muito mais mental do que física.
“A preparação eu faço um pouco de tudo. Pedalo, corro e inclusive vou fazer uma prova de triatlo este ano. Tem também a questão de personal trainer, que trabalha pescoço, ombro, essas coisas. Le Mans não cansa, pelo fato de retas muito grandes, você consegue ‘dar uma relaxada’. A parte mental é que mais cansa”.
Negão afirma que é possível “trocar no volante parte do controle de tração, diferencial, balanço de freio, fazer a mistura do motor. aumentar, reduzir a temperatura”. Porém, o piloto brasileiro diz que o maior desgaste é mesmo o o mental.
Adaptação para o Endurance
Ao contrário de outras categorias, o Endurance depende muito mais da regularidade, já que são provas de longa duração.
Isso faz com que os pilotos precisem mudar seu estilo de pilotagem, conforme explicou André Negrão.
“Temos que aprender, algo que você não pensa nas categorias de base. Combustível é uma coisa, você nunca vai pensar em tirar o pé do acelerador e é algo que você vai aprendendo. Quando falamos do Endurance, temos que abrir mão de algumas coisas. Eu gosto mais de um carro traseiro do que dianteiro. Como são várias horas, deixamos o carro dianteiro. Conforme o pneu traseiro começa a desgastar, o carro vira traseiro. Tem essa mudança na segunda parte da corrida.”
Preferência por correr a noite
“Não tem essa escolha. Isso é da equipe. Acabamos decidindo junto. Mas como estou na equipe desde 2017 e sempre fui bem de noite, eles me colocam nesse período. Mas é algo decidido lá em Le Mans”.
Começo da temporada
“Campeonato do ano passado foi bem complicado para nosso carro, não tivemos a vantagem do híbrido, que a Toyota tem. Mas a gente vem crescendo muito, tivemos uma evolução nos primeiros testes”, disse Negrão.
Segundo ele, a equipe tem “um pneu feito pela Michelin só para nós”. O time também evoluiu na parte de combustível, na parte de consumo do motor. Para Negrão, setores “onde perdemos mais em relação à Toyota”.
“Nos primeiros dias de teste estávamos com uma leve vantagem. É difícil saber no começo, mas depois daquele momento tivemos os testes oficiais, classificação e corrida. Conseguimos fazer uma ótima corrida, vencer a etapa. Foi um resultado fantástico, começar 2022 liderando o Campeonato Mundial”, disse Negrão.
Carro específico para Le Mans
Conforme explicou André Negrão, a Alpine utiliza um carro apenas para disputar Le Mans, algo que já é uma estratégia da equipe, comentando também sobre o modelo usado para o Campeonato Mundial.
“Conseguimos desenvolver mais o carro, sabíamos que SPA seria uma corrida mais difícil para nós. Temos um consumo maior de pneu e combustível. Além disso, é uma corrida muito maluca. Chove, neva, enfim, tem as quatro estações do ano em seis horas”, explicou.
O piloto também afirmou que a equipe teve, esse desde 2021, “a preparação tanto de motor como pneus e downforce. Os pneus melhoraram, temos um específico para Le Mans”. Em 2022, a equipe utilizará um modelo específico, feito apenas para o carro pilotado pelo brasileiro.
Segundo Negrão, em 2021 a equipe utilizava “o mesmo modelo da Toyota, mas eles são 4 x 4 e nós não. Com isso tínhamos um problema muito grande para aquecer os pneus dianteiros. Mas hoje em dia isso não acontece”.
Além disso, ele explicou que em Monza foram desenvolvidos “a parte de consumo de combustível para Le Mans”. Tudo para o carro ter “um ganho melhor”.
O piloto afirmou que o carro utilizado em Monza não será o mesmo usado na França. “É totalmente novo, toda a parte zero quilometro”, disse.
Negrão aponta que ainda há algumas coisas para melhorar, principalmente porque esse é o último ano que a prova terá de carros que não são híbridos.
Comparação com Toyota
Por fim, André Negrão comentou sobre outras diferenças da Alpine para a Toyota, além da questão citada acima sobre os pneus.
“A Toyota consegue manipular muita coisa lá dentro, sabemos de problemas elétricos, mas não sabemos ao certo o que é. Conseguimos ter uma visão real apenas na corrida. Mesmo na classificação, só conseguimos ter uma ideia.
“Em termos de pneu eles tem um gasto tão grande quanto o nosso, por serem mais pesados. Eles são mais rápidos de reta do que nós, principalmente em SPA e Le Mans.
“Estamos batalhando desde o ano passado e estou ansioso para saber se vamos ter esses cavalos a mais para poder ter uma pequena vantagem. Já temos a desvantagem do combustível.”
Carreira de André Negrão
Aos 29 anos, o piloto começou sua história no automobilismo no kart aos 11 anos. Em 2006 ele foi o vice-campeão brasileiro da categoria Júnior. No ano seguinte ele estreou na F-Renault.
Outro marco em sua carreira foi em 2012, quando estreou na World Series, com direito a uma pole position sob chuva em Hungaroring e pódio em Le Castellet.
Andre Negrão seguiu na GP2 de 2014 até 2015 pela equipe Arden. Já em 2016 ele foi para os Estados Unidos e em seu primeiro ano de Indy Lights ele conquistou o quinto lugar no campeonato. Além disso, a temporada teve outros fatos marcantes, como ser o segundo melhor rookie do ano, além de poles, melhores voltas e pódios.
Em 2017 ele corre pela primeira vez na categoria LMP2, chegando em terceiro na primeira disputa das 24 Horas de LE Mans. Inclusive, se não fosse por um problema nos freios ele teria conquistado a segunda colocação.
Já em 2018/19 André Negão teve uma disputa intensa pelo campeonato, que contou de forma excepcional com duas provas em Le Mans. Além de duas vitórias na França, ele garantiu o Campeonato Mundial de 2019 na categoria.
Em 2020, a pandemia do Covid-19 também impactou o mundo do automobilismo. Mesmo assim. o piloto conquistou o terceiro lugar nas 6 horas de Silverstone, além do quarto lugar em Le Mans.