Por incrível que pareça, este colunista ainda vê alguns colegas de imprensa diminuírem os feitos do Palmeiras de Abel Ferreira com argumentos rasos e sem muito nexo. Mesmo depois de tanto tempo e de tanta coisa apresentada dentro de campo em aspectos táticos e técnicos. A vitória sobre o Santos neste domingo (29) não nos apresentou uma atuação brilhante como no segundo jogo da final do Paulistão. No entanto, ela comprova a tese de que o escrete alviverde já adquiriu maturidade e força mental suficientes para superar problemas, aproveitar os erros do time dirigido por Fabián Bustos e usar o contexto de qualquer partida a seu favor. A chegada na primeira posição da tabela do Brasileirão não é nenhuma obra do acaso. É algo que já vinha se desenhando há algum tempo.
Isso porque o Palmeiras nos mostra todos os dias que o conhecido “saber sofrer” não significa apenas ficar plantado na defesa esperando o adversário. É preciso encontrar meios de superar a marcação e se adaptar às circunstâncias para retomar (ou pelo menos dividir) o controle das ações em campo. Comandado interinamente por João Martinhs, o Verdão entrou em campo no seu costumeiro 4-2-3-1 com Raphael Veiga jogando mais por dentro, Gustavo Scarpa abrindo o corredor para Jorge, Dudu à direita e Gabriel Menino e Zé Rafael vindo por trás. Do outro lado, Fabián Bustos mandava o Santos a campo num 4-3-1-2 de muita mobilidade, com Jhojan Julio atuando como “enganche”, Vinícius Zanocelo e Sandry como os “volantes-meias” e Marcos Leonardo e Léo Baptistão formando a dupla de ataque.
Conforme escrito anteriormente, o Palmeiras foi preciso, mas esteve muito longe de ser brilhante neste domingo (29). É verdade que os desfalques de Weverton e Danilo (ambos com a Seleção Brasileira) prejudicaram um pouco o desempenho da equipe de Abel Ferreira e João Martins. Principalmente o camisa 28, talvez grande responsável por dar qualidade ao passe no meio-campo e um dos poucos volantes no país com velocidade e força física para atacar e defender na mesma intensidade. É óbvio também que o Santos teve seus méritos na partida. Sempre que se manteve concentrado, o Peixe conseguiu travar os contra-ataques do seu forte adversário e ainda criar algumas boas chances de gol. Faltou capricho nas finalizações e no último passe e também uma certa dose de sorte no primeiro tempo.
[DUGOUT dugout_id=”eyJrZXkiOiJpZlFFMm1TNiIsInAiOiJ0b3JjZWRvcmVzIiwicGwiOiIifQ==”]
Ao mesmo tempo, era fácil perceber no Palmeiras uma certa hesitação nos primeiros minutos. Muito por conta da formação utilizada por Fabián Bustos no começo da partida. O 4-3-1-2 gerava superioridade numérica no meio-campo e obrigava o Palmeiras a guardar mais a entrada da sua área. Ao mesmo tempo, a movimentação de Marcos Leonardo e Léo Baptistão (sempre empurrando a zaga para trás) abria espaços para as chegadas de Jhojan Julio, Vinícius Zanocelo e Sandry no espaço entrelinhas do escrete alviverde. Diante desse cenário, o posicionamento mais recuado de Gustavo Scarpa (jogando quase como um ala pela esquerda) era plenamente justificável, visto que Madson e Lucas Pires quase sempre encontravam o corredor aberto. Quando Marcos Leonardo saía da área, Léo Baptistão infiltrava.
Só que o futebol é um esporte de “cobertor curto”. É impossível cobrir todos os setores ao mesmo tempo. Não demorou muito para que o time do Palmeiras percebesse que o Santos abria espaços pelos lados pelo simples fato de jogar sem pontas. Fabián Bustos ainda tentou amenizar esse problema com o recuo de Léo Baptistão pela direita (perseguindo Zé Rafael) e Jhojan Julio pela esquerda (de olho em Marcos Rocha). Mesmo assim, o jogo nos apresentou vários momentos em que os laterais Madson e Lucas Pires estiveram sozinhos no combate ao adversário por conta da formação escolhida para a partida deste domingo (29). Jorge e Dudu abriam o campo, Rony empurrava a defesa do Peixe para trás e Raphael Veiga e Zé Rafael buscavam o espaço entrelinhas para finalizar a gol ou dar opção de passe.
Este que escreve viu falta de Léo Baptistão em Zé Rafael no lance do gol anulado de Marcos Leonardo e falta (dentro da área) de Rodrigo Fernández em cima de Marcos Rocha no lance da penalidade desperdiçada por Raphael Veiga. É bem possível que Fabián Bustos tentou dar mais fôlego ao seu time com as entradas de Ricardo Goulart, Bryan Angulo, Rwan, Bruno Oliveira e Lucas Braga e povoar mais os lados do campo. No entanto, o que se via era a queda na intensidade depois das substituições. Tudo isso facilitou demais a vida do Palmeiras, que chegou ao gol da vitória num dos poucos cochilos do seu adversário em cabeçada de Gustavo Gómez que desviou em Lucas Pires antes de morrer nas redes de João Paulo. Vencia a equipe que melhor entendeu o cenário da partida e que foi mais eficaz com e sem a bola.
É preciso dizer que o Santos fez sim uma boa partida e poderia até ter saído de campo com um placar mais favorável se tivesse aproveitado melhor as chances que teve no jogo. O problema é que o velho e rude esporte bretão não dá a mínima para justiça. E essa é a grande lição que fica para Fabián Bustos e seus comandados. “Colocar a bola na casinha” ainda é a única maneira de se vencer jogos importantes. O Palmeiras, por sua vez, jogou com a autoridade e a força mental que eu e você conhecemos, suportou a pressão do seu forte adversário no caldeirão da Vila Belmiro e conquistou os três pontos que o levaram para a liderança do Brasileirão. E isso tudo sem Danilo, talvez o principal nome do escrete de Abel Ferreira nesses últimos meses. Definitivamente, isso não é pouca coisa.
É possível que Fabián Bustos tenha “errado a mão” nas substituições. Este que escreve, no entanto, prefere ver os méritos do Palmeiras em mais uma demonstração de força mental e concentração diante de um adversário muito forte e num contexto completamente desfavorável. E não é a primeira vez que Dudu, Rony, Raphael Veiga e companhia conseguem arrancar vitórias dessa maneira. A liderança do Brasileirão não chegou por acaso.
[DUGOUT dugout_id=”eyJrZXkiOiJRaFZMdE9oSSIsInAiOiJ0b3JjZWRvcmVzIiwicGwiOiIifQ==”]