Real Madrid 3 x 1 Manchester City: a perseverança de um gigante
De acordo com o nosso amigo dicionário, perseverança é qualidade daquele que persiste, que tem constância nas suas ações e não desiste diante das dificuldades. É conquistar seus objetivos mantendo-se firme e fiel a suas ideias e objetivos. A virada incrível do Real Madrid sobre o Manchester City seguiu exatamente essa linha. Não desistir jamais e acreditar que o jogo pode virar a qualquer momento. A incrível e histórica vitória por 3 a 1 sobre o time de Pep Guardiola deixa essa lição para quem acompanha, analisa e ama esse esporte maravilhoso chamado futebol. Perseverar, acreditar num propósito e entender seus desafios. Carlo Ancelotti, Rodrygo, Benzema, Vinícius Júnior, Courtois e companhia colocaram o Real Madrid em mais uma decisão de Liga dos Campeões. E com todos os méritos possíveis.
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta quarta-feira (4) e as escolhas de Carlo Ancelotti e Pep Guardiola
O mais interessante da partida desta quarta-feira (4) era o cenário completamente favorável ao Manchester City. Não somente pela vitória por 4 a 3 no jogo de ida, mas pela maneira como o escrete comandado por Pep Guardiola se comportava em campo. A equipe inglesa parecia bem segura de suas ações e não permitia que o Real Madrid (que se mostrou bastante nervoso na maioria do tempo) conseguisse encaixar uma jogada ofensiva. Além disso, Courtois vinha trabalhando muito mais do que Ederson na partida e o contra-ataque dos Citzens (sempre em altíssima velocidade) ia minando as forças e o fôlego do escrete merengue. O contexto beneficiava demais o Manchester City nos aspectos táticos e mentais.
Só que eu e você sabemos que o velho e rude esporte bretão foi forjado no mais puro caos e desordem e que ele não se deixa ser controlado por nenhuma força conhecida nesse universo. A quantidade de variáveis que influenciam no jogo é imensa! E é por isso que é muito difícil apontar apenas um elemento, decisão ou lance que tenha sido determinante no resultado final. Há quem veja nas alterações promovidas por Pep Guardiola no segundo tempo a razão para a virada do Real Madrid. Este que escreve, no entanto, prefere focar nos méritos do escrete comandado por Carlo Ancelotti. Compreender os detalhes no meio de uma situação completamente adversa e perseverar diante de tantas dificuldades é para poucos.
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É por isso que o resultado desta quarta-feira (4) é sim surpreendente. A começar pela escalação inicial das duas equipes. Pepe Guardiola apostou no seu costumeiro 4-3-3 com De Bruyne, Bernardo Silva e Rodri no meio-campo, João Cancelo como “lateral-armador” pela esquerda e um trio ofensivo móvel e muito veloz formado por Mahrez, Gabriel Jesus e Phil Foden. Do outro lado, Carlo Ancelotti mandou o Real Madrid a campo num 4-4-2 que tendia a concentrar as suas jogadas de ataque pelo lado de Mendy e Vinícius Júnior. A entrada de Valverde no time era compreensível diante de todo o contexto. Casemiro, Kroos e Modric são extremamente talentosos, mas já começam a sentir o peso da idade e tiveram dificuldades para armar as jogadas de ataque. É por isso que o Manchester City parecia controlar mais as ações no jogo e sofria pouco.
É preciso dizer que o Real Madrid não conseguiu finalizar na direção do gol de Ederson no primeiro tempo. Após o intervalo, o desenrolar do jogo no Santiago Bernabéu indicava que o Manchester City iria para a sua segunda final seguida de Liga dos Campeões sem sofrer muitos sustos. Ainda que Pep Guardiola tenha sacado Kevin De Bruyne cedo demais (pelo menos na opinião deste que escreve), o time inglês abriu o placar num belo chute de Mahrez que teve início num belíssimo contra-ataque puxado por Bernardo Silva e que contou com a participação decisiva de Gabriel Jesus no popular “facão” da esquerda para o meio da área. A movimentação do camisa 9 dos Citzens fez com que o lateral Mendy hesitasse na marcação por um mísero centésimo de segundo e abriu o espaço que o ótimo Mahrez precisava estufar as redes de Courtois aos 27 minutos do segundo tempo.
Carlo Ancelotti fez a substituição óbvia cinco minutos antes do Manchester City marcar seu único gol. Toni Kroos saiu para a entrada do brasileiro Rodrygo. A essa altura, o Real Madrid já jogava num 4-3-3 melhor distribuído em campo e partia com tudo para o ataque de olho numa virada que parecia impossível pra muita gente (incluindo este colunista). O Manchester City quase sacramentou a sua classificação quando Grealish fez boa jogada pela esquerda e Mendy salvou o escrete merengue em cima da linha. E justo no momento em que todos já projetavam a “final inglesa” da Champions League, Rodrygo apareceu dentro da área e completou cruzamento de Benzema para as redes aos 45 minutos do segundo tempo. Praticamente no lance seguinte, o ex-jogador do Santos acertou bela cabeçada e virou o placar para a surpresa de todos que já davam a eliminação do Real Madrid como certa.
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O futebol é um esporte ardiloso e repleto de detalhes. E por mais que as análises e crônicas da partida desta quarta-feira (4) se debrucem sobre o “peso da camisa” do Real Madrid, é preciso entender que a classificação merengue para a final da Liga dos Campeões teve muito mais do que isso. Teve o “dedo” de Carlo Ancelotti na leitura do jogo. As substituições promovidas pelo técnico italiano reorganizaram o time madrilenho num 4-2-4 que criava superioridade numérica no campo de ataque. Valverde ficou mais preso na proteção da zaga, Camavinga pisava na área, Rodrygo e Vinícius Júnior abriam o campo e Asensio se juntava a Benzema por dentro. Não foi por acaso que o lance da penalidade que originou o terceiro gol do Real Madrid surgiu numa das subidas em bloco na direção da área do Manchester City.
A grande verdade é que Carlo Ancelotti e seus jogadores tiveram todos os méritos na classificação do Real Madrid para mais uma final de Liga dos Campeões. Por mais que Pep Guardiola tenha se precipitado nas substituições no Manchester City, a virada merengue foi construída na base da perseverança e num momento em que ninguém imaginava que algo do gênero pudesse acontecer no Santiago Bernabéu. É mais uma prova de que uma decisão errada, um lance, um mínimo detalhe pode influenciar todo o jogo dentro de campo. O escrete espanhol acreditou até o fim e soube se virar muito bem num cenário que era completamente desfavorável. Exatamente como aconteceu nos jogos diante do Paris Saint-Germain e do Chelsea. O Real Madrid está na decisão porque foi mais perseverante e persistente do que seus adversários. Ponto final.
Não deixa de ser uma lição para todos os amantes do velho e rude esporte bretão. Como diz aquele locutor famoso, “o jogo só termina quando acaba”. E o Real Madrid nos mostrou isso com mais uma atuação histórica e uma classificação surpreendente. Não é de se espantar que a decisão da Liga dos Campeões contra o Liverpool já seja assunto nas principais mesas de debate de toda a imprensa esportiva mundial. Tudo porque o jogo do dia 28 de maio vai reunir as equipes mais imprevisíveis do planeta.