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Atuações mágicas, liderança tranquila e mais uma Champions: alguém aí ainda ousa duvidar do Real Madrid?

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória merengue sobre o Liverpool de Jürgen Klopp e o plano de Carlo Ancelotti

Por Luiz Ferreira em 29/05/2022 02:58 - Atualizado há 10 meses

Reprodução / Twitter / Real Madrid CF

Poucos clubes são tão grandes como o Real Madrid. A história e as conquistas falam por si só. Mas é interessante notar que o escrete merengue entrou em campo neste sábado (28) sob uma certa aura de desconfiança. Muita gente se perguntava a cota de “milagres” nessa Champions League já havia se esgotado (vide as viradas sobre o Paris Saint-Germain e o Manchester City) e se o time comandado por Carlo Ancelotti teria fôlego para segurar o volume de jogo insano do Liverpool de Jürgen Klopp, Salah, Mané e companhia. A atuação mágica de Courtois debaixo das traves, o poder de decisão de Vinícius Júnior, a fibra de Valverde e Carvajal na marcação, a liderança tranquila de Ancelotti e o resultado final levam este que escreve a perguntar de maneira franca e honesta: alguém ainda duvida do Real Madrid?

É impossível encontrar uma explicação lógica para fenômenos. Eles apenas são. Ponto final. Além disso, a conquista da 14ª Liga dos Campeões do escrete merengue prova que algumas equipes sabem jogar determinadas competições melhores do que outras (vide o Lyon na Champions Feminina). Há quem lembre que o futebol não é justo. Outros relembram as palavras sábias de Muricy Ramalho para falar das chances desperdiçadas pelo Liverpool. A bola pune. E com força. Só que o jogo no Stade de France também nos presenteou com uma série de elementos ricos em tática, estratégia e estudo do adversário. Não é por acaso que um dos principais nomes dessa noite mágica para o Real Madrid atende pelo nome de Carlo Ancelotti.

A conquista da Liga dos Campeões de 2021/22 se junta a outras cinco taças conquistadas pelo italiano (três como treinador e duas como jogador). Além disso, foi campeão em cinco ligas diferentes (Itália, Alemanha, Espanha, França e Inglaterra). Fora os outros recordes conquistados ao longo de tantos anos de carreira. Isso tudo exercendo a sua liderança tranquila e se adequando bem às características do elenco que tem em mãos. Sobre o jogo deste sábado (28), Carlo Ancelotti sabia muito bem que partir para a “trocação” com o Liverpool era a última coisa que poderia ser feita no Stade de France. É por isso que a postura do Real Madrid foi mais cautelosa do que o esperado. A estratégia precisava ser diferente.

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Além de passar confiança para seus jogadores (conforme o próprio descreveu no vídeo acima), Ancelotti posicionou o uruguaio Valverde como um meia-atacante pelo lado direito para auxiliar Carvajal no combate a Luis Díaz e fechar o corredor que Robertson tanto usa para subir ao ataque. Ele também manteve a confiança no trio formado por Casemiro, Kroos e Modric para qualificar a saída de bola e sair da pressão com poucos passes e acionar Vinícius Júnior e Benzema mais na frente. Enquanto isso, Jürgen Klopp apostou no seu 4-3-3 costumeiro com marcação alta e pressão no portador da bola, mas sem se descuidar da defesa. O treinador alemão manteve Henderson mais próximo de Alexander-Arnold e Konate para dar o primeiro combate em Vinícius Júnior toda vez que o Real Madrid retomava a posse no meio-campo.

Formação inicial das duas equipes em Paris. Ancelotti posicionou Valverde como meia pela direita num 4-4-2 mais nítido sem a bola. Já Klopp manteve seu 4-3-3 costumeiro, mas deixou Henderson próximo de Konate e Alexander-Arnold.

Mas a grande verdade é que o Real Madrid sofreu demais contra o ataque móvel e altamente intenso do Liverpool. O time de Jürgen Klopp fazia inversões a todo momento para bagunçar a última linha de defesa do escrete merengue e encontrar o espaço necessário para entrar na área. Só que quem brilhou foi o Courtois. O goleiro belga fez defesas de cinema em finalizações de Salah e Mané ainda no primeiro tempo. Fora isso, Thiago Alcântara tinha certa liberdade para distribuir passes no meio-campo e acionar os laterais Robertson e Alexander-Arnold por fora e por dentro dependendo do posicionamento de Henderson e Luis Díaz. Com o passar do tempo e a marcação mais ajustada na frente da área, o Real Madrid até arriscou algumas subidas sempre explorando o espaço às costas de Konate, Van Dijk na zaga do Liverpool.

O Real Madrid se fechou com duas linhas com quatro jogadores na frente da área. Valverde fechava o lado direito com Carvajal e Modric saltava mais para a pressão sempre que Thiago Alcântara tinha a possa. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports Brasil

Este que escreve não anularia o gol marcado por Benzema. Aliás, é difícil entender os motivos que levaram os árbitros de vídeo a manterem a marcação do campo se as imagens mostravam que a bola veio de Fabinho e não de Valverde. De toda maneira, o Real Madrid manteve o zero no placar e foi para o intervalo com a certeza de que o plano de Ancelotti estava dando certo. O Liverpool não encontrava brechas na última linha e começava a abrir espaços na sua defesa. Bastava o capricho maior na construção das jogadas. Mesmo assim, precisamos destacar a facilidade com que o escrete merengue conseguia se livrar da pressão no seu campo. E sempre que a bola passava dessa pressão, cada jogador sabia exatamente o que fazer. O próprio Vinícius Júnior levantou essa bola na comemoração do título no vestiário.

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Está mais do que claro que a jogada do gol do título foi TRABALHADA nos treinamentos. O objetivo claro do Real Madrid era superar essa pressão no campo de defesa e acionar os atacantes com poucos toques. E o início do lance nos mostra Carvajal aparecendo mais por dentro, atrai a marcação de Fabinho, Robertson e Thiago Alcântara e toca para Casemiro. No mesmo momento, Valverde se posiciona no espaço às costas do lateral do Liverpool e recebe o passe na direita. O uruguaio avança e cruza rasteiro. Alexander-Arnold hesita no corte e não percebe Vinícius Júnior aparecendo por trás. O gol do título da Champions League 2021/22 foi uma aula de saída limpa da pressão e transição ofensiva rápida. Bem ao gosto de Carlo Ancelotti. E bem ao gosto de um Real Madrid surpreendente e incrivelmente traiçoeiro.

Carvajal atrai três marcadores e passa para Casemiro. Este serve Valverde na direita (às costas de Robertson). O gol marcado por Vinícius Júnior foi trabalhado à exaustão por Carlo Ancelotti nos treinamentos. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports Brasil

Do outro lado, o Liverpool acabou se desorganizando ainda mais no ataque e pecando no último passe. Quando acertava, Courtois apareceu para salvar a pátria merengue com pelo menos mais três defesas absurdas. Difícil apontar outro jogador que não o goleiro belga como o melhor em campo nessa final de Champions League. Ao mesmo tempo, é difícil defender Jürgen Klopp nas mudanças feitas ao longo do segundo tempo. O jogo implorava pela entrada de Roberto Firmino no lugar de um dos três meio-campistas para ser o “10” que tanto fez falta no Liverpool, mas o treinador alemão demorou demais para mancar o brasileiro a campo. Melhor para Carlo Ancelotti. As entradas de Camavinga, Rodrygo e Ceballos deram fõlego novo ao Real Madrid e ajudaram a segurar o placar até o tão esperado apito final no Stade de France.

O Real Madrid pode não ter sido brilhante, mas teve méritos. Desde as defesas cinematográficas de Courtois, a fibra de Valverde e Carvajal na marcação, os passes de Modric, a solidez de Casemiro e o poder de decisão de Vinícius Júnior. O escrete merengue foi mais feliz no Stade de France porque soube se adaptar ao jogo e seguiu os planos de Carlo Ancelotti à risca. Desta vez, no entanto, não foi preciso um “milagre” como nas partidas dramáticas contra o Paris Saint-Germain, o Chelsea e o Manchester City. Ainda que um ou outro critique o treinador italiano pela postura mais conservadora e reativa, estava mais do que claro que o adversário pedia mais cautela e mais prudência. Bem diferente dos “puristas” que defendem um jogo que nunca combinou com o velho e rude esporte bretão em nenhum momento da história.

Isso porque o jogo é de quem está em campo. Se adaptar a ele e às circunstâncias que aparecem durante os noventa e poucos minutos é o grande diferencial daqueles que desejam levantar taças. Exatamente como o Real Madrid. E a pergunta do primeiro parágrafo ainda se mantém inalterada. Depois de tudo que vimos nessa edição de 2021/22 da Liga dos Campeões, será mesmo que alguém ainda tem ousadia, argumentos e sã consciência para duvidar da capacidade desse time?

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