Solidez defensiva, compactação, intensidade em todas as transições, posicionamento correto. Este que escreve poderia usar todo o espaço da coluna aqui no TORCEDORES.COM para falar de todas as virtudes do cada vez mais surpreendente Ceará. A vitória por 2 a 0 sobre o Independiente em Avellaneda nesta quarta-feira (25) consolidou o ótimo trabalho de Dorival Júnior no Vozão e ainda fez com que a equipe nordestina fechasse sua participação na fase de grupos da Copa Sul-Americana com incríveis 100% de aproveitamento. Mais do que os números e as marcas batidas, Mendoza, Vina, Lima, João Ricardo e companhia mostraram uma maturidade incrível e controlaram muito bem o jogo sem se deixar abater pela pressão do forte adversário. Vitória histórica com atuação coletiva digna de todos os manuais.
Foram seis vitórias em seis jogos, com 17 gols marcados e apenas um sofrido. Mas o grande mérito do escrete comandado por Dorival Júnior ao longo da fase de grupos foi a busca pelo equilíbrio. Por mais que a dupla de zaga formada por Messias e Luiz Otávio (excelentes no combate por baixo e nas bolas aéreas) desse conta do recado, faltava o encaixe perfeito das peças no setor ofensivo do Ceará. Nesse ponto, a entrada de Vina na “falso nove” foi a chave para o sucesso. Mendoza e Lima (altamente velozes) atacavam os espaços que a movimentação do camisa 29 abria sempre que o Vozão estava em organização ofensiva. E toda essa dinâmica se mostrou importantíssima no desempenho da equipe na partida desta quarta-feira (25).
O contexto falava por si só. O Ceará entrou em campo dependendo de apenas um empate para garantir a vaga nas oitavas de final da Copa Sul-Americana. Diante disso, Dorival Júnior repetiu o 4-3-3/4-1-4-1 descrito no parágrafo acima com o que tinha de melhor à disposição. É interessante notar que o Independiente tentou se impor na base do “abafa” e da pressão da sua torcida jogando em algo mais próximo de um 4-2-3-1 com Batallini, Roa e Banegas mais à frente e Blanco saltando do meio-campo para o ataque. A ideia do técnico Eduardo Domínguez era bloquear a saída de bola e forçar o erro dos zagueiros e volantes. Só que o Vozão se manteve firme na defesa, manteve a concentração e seguiu o plano de Dorival Júnior à risca.
Não demorou muito para que o Ceará começasse a se arriscar mais no ataque. A movimentação de Vina, Mendoza e Lima às costas da última linha facilitava esse processo e os espaços generosos que o Independiente concedia eram um convite ao contra-ataque. Com Rodrigo Lindoso cuidando da saída de bola, Nino Paraíba e Victor Luís presentes no apoio e Richardson e Richard Coelho ligados na marcação e pisando na área, o Vozão foi controlando o jogo e se aproveitando do nervosismo do seu adversário em Avellaneda. Vina teve grande chance de abrir o placar logo aos onze minutos do primeiro tempo, em bela troca de passes pelo lado esquerdo. E notem no frame abaixo como o ataque do Ceará encontrava campo para trabalhar a bola. Muito por conta dos botes errados e da desorganização do Independiente.
É óbvio que o Rey de Copas tinha mais volume de jogo que o Ceará. Afinal de contas o escrete comandado por Eduardo Domínguez jogava em casa e precisava desesperadamente da vitória para se garantir nas oitavas de final. Só que o escrete argentino não teve algo que possa ser chamado de uma grande oportunidade de gol. Isso porque o Ceará controlava bem as ações, se fechava bem na defesa e ainda explorava os espaços que apareciam às costas do seu forte adversário. Nesse aspecto, João Ricardo foi importantíssimo para passar segurança e tranquilidade. Não foi por acaso que as melhores chances do primeiro tempo surgiram do lado do Vozão. Vina ainda desperdiçaria mais uma chance antes de Rodrigo Lindoso abrir o placar aos 49 minutos depois que Victor Luís mandou a bola para a área em cobrança de falta.
A segunda etapa em Avellaneda nos apresentou um Independiente ainda mais confuso e nervoso. Eduardo Domínguez ainda tentou dar mais consistência e poder ofensivo à sua equipe com as entradas de Rodrigo Márquez e Togni, mas Dorival Júnior respondeu com as entradas de Erick, Bruno Pacheco e Cléber nos lugares de Lima, Richard Coelho e Vina respectivamente. Com duas linhas com quatro jogadores na frente da área do goleiro João Ricardo, o Ceará mostrou consistência defensiva e agressividade nas transições para o ataque. Exatamente como aconteceu no contra-ataque puxado por Richardson que terminou com a bela finalização de Mendoza aos 45 minutos do segundo tempo. Organização na frente da área para fechar as linhas de passe e velocidade nas transições para aproveitar os espaços. Como manda o manual.
A campanha do Ceará na fase de grupos da Copa Sul-Americana fala por si só. Ao mesmo tempo, é nítido que a equipe como um todo aprendeu muito com os vacilos da temporada passada e encontrou o equilíbrio necessário para conquistar a primeira vitória de uma equipe nordestina jogando na Argentina. Quando se vê o tamanho de um Independiente na América do Sul percebemos que os feitos do Vozão merecer ser ainda mais celebrados e exaltados. Principalmente quando voltamos as atenções para o trabalho (excelente) desenvolvido por Dorival Júnior à frente do clube cearense. A escolha de Vina como “falso nove” e a velocidade de Mendoza e Lima pelos lados do campo permitem que o time adote diferentes posturas e formações dentro de uma mesma partida. E as opções no banco de reservas também ajudam bastante.
Mas talvez a grande notícia da partida desta quarta-feira (25) seja outra. Mesmo com atuações coletivas consistentes e equilibradas, é preciso reconhecer que o Ceará segue em evolução e pode entregar desempenhos muito melhores nessa temporada. Dorival Júnior e todo o elenco do Vozão sabem muito bem disso. Tanto que a organização da equipe vem arrancando elogios de todos nesses últimos dias. Principalmente depois das atuações coletivas dignas de todos os manuais de futebol.