Fluminense 2 x 1 Junior Barranquilla: a nova era do “Dinizismo”
Toda estreia de treinador sempre traz consigo o chamado "fato novo". Quem está fora do time quem mostrar serviço por uma oportunidade e quem é titular não quer perder sua vaga. A disposição aumenta e a entrega dentro de campo se torna mais visível. A vitória do Fluminense sobre o Junior Barranquilla nesta quarta-feira (4) trouxe todos esses ingredientes para o torcedor. Ainda que Fernando Diniz (o estreante da noite) tenha apresentado alguns dos seus conceitos bem conhecidos (marcação alta, linhas compactadas e marcação por pressão), é preciso dizer que qualquer análise pode soar prematura e até mesmo leviana. É por isso que essa nova era do "Dinizismo" ainda precisa ser encarada com uma certa cautela apesar do resultado positivo no Maracanã. Muito mais por conta do início de trabalho e pelo "fato novo" do que por qualquer outro motivo.
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a estreia de Fernando Diniz e a atuação da sua equipe no jogo desta quarta-feira (4) pela Sul-Americana
Fernando Diniz é o tipo de treinador que gera uma série de reações por parte daqueles que acompanham o futebol brasileiro. Há quem o considere um gênio e há quem o considere um charlatão. Certo é que o treinador do Fluminense tem convicções muito claras e as defende até às últimas consequências. Curiosamente, essa defesa ferrenha parece ser um dos principais motivos dos seus trabalhos ruins no Santos, no Athletico Paranaense e no próprio Tricolor das Laranjeiras. Seu melhor trabalho aconteceu no São Paulo, quando chegou a brigar pelo título brasileiro em 2020, mas o entrevero com Tchê Tchê arriunou a sua relação com o grupo de jogadores e culminou na sua saída do clube do Morumbi.
O retorno ao Fluminense não deixa de ser um recomeço na carreira e uma nova chance para provar que o treinador que encanta pela defesa do futebol bonito e ofensivo pode sim comandar equipes e conquistar títulos importantes. E ainda que a vitória sobre o Junior Barranquilla não tenha resolvido todos os problemas do Tricolor das Laranjeiras na Copa Sul-Americana, ela dá sim uma boa dose de confiança para a sequência desta e de outras competições. E falando sobre o jogo desta quarta-feira (4) em si, já foi possível sim notar algumas diferenças na postura do time com relação às últimas partidas. A começar pela formação utilizada por Fernando Diniz e pela dinâmica colocada na partida.
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Ao invés do esquema com três zagueiros, o treinador tricolor apostou num 4-2-3-1 que trazia Paulo Henrique Ganso como camisa 10 de fato e de direito. André e Yago Felipe cuidavam da saída de bola, Willian Bigode e Luiz Henrique jogavam pelos lados e Cano era a referência no ataque. Por mais que a equipe apresentasse uma postura um pouco diferente daquela vista nos tempos de Abel Braga, precisamos reconhecer que o gol marcado logo aos três minutos da primeira etapa condicionou todo o restante do jogo no Maracanã. O Junior Barranquilla (que jogava no mesmo 4-2-3-1 do Fluminense) adiantou suas linhas de marcação e abriu espaços generosos na sua defesa. Mesmo assim, o Tricolor das Laranjeiras pouco ameaçou a meta do goleiro Sebastián Viera na primeira etapa. Do outro lado, as melhores chances do escrete colombiano apareceram em finalizações de Viafara e Borja.
No entanto, se o Fluminense apresentava mais compactação e mais disposição logo na estreia de Fernando Diniz, o time ainda apresenta uma série de problemas que precisam de soluções rápidas. O técnico Juan Cruz Real percebeu que a defesa tricolor apresentava lentidão na recomposição defensiva e que os volantes André e Yago Felipe apreciam sobrecarregados na cobertura dos laterais. Não foi por acaso que o Junior Barranquilla voltou melhor do intervalo. Aos nove minutos do segundo tempo, Fuentes apareceu pela esquerda com liberdade e mandou a bola para a área. Albornoz escorou para a pequena área, Giraldo dividiu com Fábio e a bola sobrou limpa para Borja estufar as redes. Todo o lance acabou expondo a falta de coordenação na marcação do Fluminense e as dificuldades do setor quando enfrenta adversários que colocam velocidade nas transições pelos lados do campo.
O “Dinizismo” deu o ar de sua graça quando Fred e Nathan foram para o jogo nos lugares de Cris Silva e Willian Bigode. Com as mudanças promovidas por Fernando Diniz, o Fluminense passou a jogar com Yago Felipe na lateral-esquerda, André na proteção da zaga, dois meias de criação e dois centroavantes de ofício. Mesmo sem a mesma organização do primeiro tempo, o escrete das Laranjeiras conseguiu se impor na base da qualidade individual dos seus jogadores diante de um Junior Barranquilla que se mostrava mais do que satisfeito com o empate fora de casa. Aos 27 minutos do segundo tempo, Ganso encontrou Fred na entrada da área e este serviu Luiz Henrique. O camisa 11 entrou pela esquerda (às costas da zaga) e aproveitou que Cano fez o movimento para o outro lado (arrastando a marcação) e finalizou na saída do goleiro Sebastián Viera. Era o gol do alívio.
Conforme escrito anteriormente, qualquer análise mais profunda sobre o trabalho de Fernando Diniz nesse seu retorno ao Fluminense pode soar precipitada e leviana. O treinador que divide opiniões por onde passa iniciou seu trabalho há pouquíssimos dias e ainda precisa de tempo para implementar seus conceitos e corrigir problemas. Como todo treinador desse mundo. Seja ele brasileiro, estrangeiro ou extraterrestre. A vitória em cima do Junior Barranquilla dá sim confiança e uma certa dose de alívio para todo o elenco, que vinha de resultados ruins e de atuações pouco convincentes. A vaga na segunda fase da Copa Sul-Americana ainda é difícil, visto que o Fluminense não depende apenas dele para se classificar. Mas o que se viu nesta quarta-feira (4) foi uma equipe mais disposta e mais ligada. Ainda que a motivação maior tenha sido o “fato novo”.
Não é exagero afirmar que Fernando Diniz tem mais uma grande oportunidade de provar seu valor num clube grande. O elenco do Fluminense tem potencial para chegar longe nas competições que disputa nessa temporada e a tendência é que a equipe melhore de desempenho com o tempo. Mesmo assim, a desconfiança, a gestão do grupo e o apego às suas convicções ainda serão os grandes adversários do treinador nesse novo desafio. O “Dinizismo” está de volta, senhores.