Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Paulo Sousa e Luís Castro no jogo disputado neste domingo (8)
Não é exagero nenhum afirmar que o escrete de Paulo Sousa esteve melhor no jogo deste domingo (8). Se a defesa ainda pede ajustes urgentes, o ataque mostrou boa fluência na troca de passes e na leitura dos espaços. Isso porque o 3-4-2-1/4-2-3-1 utilizado contra o Botafogo explorou bem as deficiências do Botafogo na marcação. Principalmente pelo lado esquerdo de ataque, onde Bruno Henrique levava ampla vantagem sobre Saravia e Arrascaeta encontrava Gabigol sempre com liberdade no espaço entre os volantes e a última linha de defesa do Glorioso. O escrete de Luís Castro encontrava grandes dificuldades para fazer a bola chegar em Erison por conta dessa marcação alta do Flamengo. No entanto, estava mais do que claro que as chances perdidas iam minando a confiança do escrete comandado por Paulo Sousa.
Além da falta de tranquilidade, o Flamengo também esbarrava na atuação inspiradíssima de Gatito Fernández. O goleiro paraguaio fez pelo menos quatro grandes defesas na partida e foi um dos principais responsáveis pela vitória do Botafogo. Destacava-se nesse momento a organização defensiva proposta por Luís Castro. Mesmo concedendo espaços generosos (muito por conta do pouco tempo de trabalho do português à frente do time), o Glorioso conseguia conter os avanços de um Flamengo que ia se mostrando mais e mais nervoso conforme as chances de gol iam sendo desperdiçadas. Ao mesmo tempo, a sombra de Jorge Jesus ia se fazendo cada vez mais presente na Arena Mané Garrincha. A postura do antigo “Mister” é sim altamente questionável. Mas nada disso esconde os problemas do time comandado por Paulo Sousa.
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A saída de Filipe Luís e a entrada de Ayrton Lucas fez com que o Flamengo jogasse em algo mais próximo de um 4-2-3-1 bem ofensivo e que seguia forçando as jogadas em cima de Saravia (já amarelado). Do outro lado, Luís Castro aproveitava para dar mais consistência à marcação pelo lado esquerdo com a entrada de Diego Gonçalves na vaga de Gustavo Sauer. O desenho tático básico não mudou assim como o panorama da partida na Arena Mané Garrincha. O Fla seguia pressionando bastante e teve um gol marcado por Gabigol anulado pelo VAR. Este que escreve não quer entrar no mérito da legalidade da ação. Mas é preciso deixar claro que a esse gol anulado não foi o grande responsável pela derrota do time de Paulo Sousa. Há pontos que precisam de ajustes para ontem. A começar pela falta de eficiência no ataque.
Se o sistema ofensivo não consegue “colocar a bola na casinha”, a equipe rubro-negra também sofre com as oscilações durante uma mesma partida. Sempre que o Flamengo perde o controle das ações, o time se espaça e última linha de defesa corre para trás. Essa falta de controle emocional e de concentração ficou bem nítida em vários botes errados dos zagueiros e volantes. Mas o lance do gol de Erison é emblemático. Difícil não ver aí um verdadeiro “combo” de erros que culminou na falha final do goleiro Hugo Souza. Tudo começa com o espaço às costas de Isla e o erro de Willian Arão na dividida com o camisa 89 do Botafogo. Este tem tempo para dominar a bola, aproveitar a indecisão de David Luiz na marcação, ajeitar o corpo e finalizar no alto. O gol também premiava a aplicação tática do time de Luís Castro.
Paulo Sousa não teve outra alternativa senão colocar o Flamengo no ataque com as entradas de Rodinei, Lázaro e João Gomes nos lugares de Isla, Andreas Pereira e Thiago Maia. Tudo para que Bruno Henrique pudesse encostar mais em Gabigol e arrastar a marcação para que Arrascaeta e Everton Ribeiro pudessem explorar o espaço entre as linhas de defesa do Botafogo. O time de Luís Castro, por sua vez tinha espaço de sobra para encaixar os contra-ataques, mas viu a confiança de seu adversário diminuir com as defesas de Gatito Fernández e as inúmeras oportunidades desperdiçadas. Estava claro para este que escreve que o Botafogo foi muito mais eficiente na sua estratégia mais reativa. E o Flamengo mais uma vez tropeça nas próprias pernas e vê as cobranças aumentarem. Os próximos dias serão quentes lá no Ninho do Urubu.
Se toda a confusão causada por Jorge Jesus não tivesse acontecido, poderíamos dizer que o Flamengo criou chances suficientes para vencer o jogo deste domingo (8) com uma certa folga e que Paulo Sousa encontrou o caminho para fazer o time jogar bem. No entanto, o contexto para qualquer análise desse tipo é completamente desfavorável. Ao mesmo tempo, o Botafogo tem muitos méritos. Primeiro por conta da atuação de Gatito Fernández e depois pela aplicação tática de todo o time durante os noventa e poucos minutos de partida. Há um padrão claro no time de Luís Castro e suas ideias parecem estar sendo bem assimiladas pelos jogadores. Ponto esse que coloca o Glorioso um pouco à frente do Flamengo. Por mais que o time tenha criado, os conceitos de Paulo Sousa não parecem bem fixados. E isso é preocupante.
É óbvio que análises mais frias não serão levadas em consideração pelo torcedor mais apaixonado do Flamengo (esteja ele travestido de jornalista ou não). Fato é, no entanto, que é consenso geral que o escrete rubro-negro já deveria estar jogando mais e melhor a essa altura da temporada. As lesões e o clima quente nos bastidores atrapalham sim toda a implementação dos conceitos de Paulo Sousa. Mas não podem servir de muleta diante do que tem se visto em campo.
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