Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória da Raposa e as escolhas de Paulo Pezzolano e Roger Machado
Não foi uma partida de encher os olhos, é verdade. Mas o que se viu neste domingo (8) foi um Cruzeiro organizado, muito concentrado em cada movimento e que executava muito bem o plano de jogo estabelecido pelo seu treinador. Paulo Pezzolano vem consolidando o esquema com três zagueiros e conseguiu vencer o duelo de estratégias com Roger Machado, que apostou no seu costumeiro 4-1-4-1 com o recuo dos pontas Elias Manoel e Gabriel Teixeira para junto dos laterais Rodrigo Ferreira e Dioigo Barbosa. Notem bem que o objetivo do treinador gremista era fechar as saídas dos alas Geovane e Matheus Bidu, povoar a entrada da área e retomar a posse para fazer a ligação do ataque em alta velocidade. No entanto, faltava fôlego e uma companhia mais presente para Diego Souza contra Oliveira, Eduardo Brock e Zé Ivaldo.
É bom que se diga que o Cruzeiro sentia bastante a falta de um organizador de jogadas (visto que Fernando Canesin e João Paulo não estavam à disposição de Paulo Pezzolano). Mas a disposição e a movimentação constante de Edu, Jajá e Luvannor compensou esse problema. Do outro lado, o Grêmio sofria com a falta de poderio ofensivo muito por conta da marcação dos pontas em cima dos alas da Raposa. Com a bola, o time mineiro chegou a atacar com até sete jogadores, ponto que reforça o argumento de Roger Machado sobre necessidade de Gabriel Teixeira e Elias Manoel em cima de Geovane e Matheus Bidu. Na prática, a impressão que ficou do primeiro tempo na Arena Independência era a de que o Tricolor Gaúcho foi “encaixotado” pelo Cruzeiro e não teve forças e nem criatividade para se livrar da marcação alta do time celeste.
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O único gol da partida surgiu exatamente dessa intensidade colocada pelos jogadores cruzeirenses. Eduardo Brock venceu a disputa com Lucas Silva (que fez numa das suas piores apresentações na temporada) e serviu Matheus Bidu no lado esquerdo. O camisa 6 do Cruzeiro avançou e fez o cruzamento que Rodrigo Ferreira acabou desviando contra a própria baliza. E vale destacar que o time comandado por Paulo Pezzolano poderia até ter ampliado o placar no primeiro tempo se não tivesse tomado tantas decisões erradas quando conseguia carregar a bola até a intermediária ofensiva. O Grêmio, por sua vez, também tinha méritos na marcação e na ocupação dos espaços na frente da sua área, mas pecava demais nas transições ofensivas. E como era de se esperar, Gabriel Teixeira e Elias Manoel foram se desgastando.
O segundo tempo nos trouxe um Tricolor Gaúcho mais presente no campo ofensivo com a entrada de Gabriel Silva no lugar de Lucas Silva e uma postura muito mais ofensiva, pisando mais no campo de ataque e obrigando o Cruzeiro a fechar bem a entrada da sua área com o recuo dos alas para junto dos três zagueiros. Roger Machado sacou Diego Souza e Elias Manoel e mandou Janderson e Elkeson para o jogo com o claro objetivo de colocar “sangue novo” em campo e forçar ainda mais a defesa celeste. Só que esta se manteve intransponível, concedeu muito pouco para o ataque gremista e foi determinante na conquista do terceiro triunfo seguido na Série B. Mesmo com Paulo Pezzolano precisando mexer no setor. Rômulo e Wagner Leonardo não comprometeram na marcação e ajudaram a manter a solidez defensiva do Cruzeiro.
Mesmo passando por maus bocados no final da partida com o “abafa” do Grêmio, o Cruzeiro se manteve firme na defesa e não sentiu o nível da sua atuação diminuir quando Paulo Pezzolano seguiu mexendo no escrete celeste. Não é difícil concluir que o escrete celeste vem mostrando muito mais consistência e muito mais organização do que aqueles que disputaram a Série B nas duas temporadas passadas. Há um padrão de jogo e uma ideia bem clara sendo colocada em prática em campo. E essa filosofia não é rígida. Ela se adapta às situações que o jogo apresenta. Exatamente como na vitória sobre um Grêmio intenso, qualificado e igualmente organizado. Só que o duelo de estratégias acabou sendo vencido pelo treinador uruguaio. Mesmo com Roger Machado colocando sua equipe no ataque com quase cinco atacantes.
Conforme escrito anteriormente, ainda é muito cedo para se cravar quem sobe, quem fica e quem desce na Série B. Fato é, no entanto, que algumas ideias de jogo estão se mostrando mais promissoras do que outras. A partida disputada neste domingo (8), na Arena Independência, mostrou isso com muita clareza. Mesmo com a derrota e o fim da sequência de resultados positivos, o Grêmio tem força e Roger Machado vem mostrando que sabe usar as peças que tem à disposição no banco de reservas. O resultado não deixa de ser um “choque de realidade” e uma lição para a sequência da competição que é o grande objetivo do clube na temporada. Já o Cruzeiro tem se permitido sonhar mais alto. O trabalho de Paulo Pezzolano tem se mostrado bastante promissor e os jogadores têm comprado a ideia do treinador uruguaio.
Se a derrota deste domingo (8) não é nenhum desastre para o Grêmio, ela também deixa a certeza de que o escrete comandado por Roger Machado pode (e deve) melhorar em vários aspectos. Principalmente na imposição física e nas transições para o ataque. Já o Cruzeiro tem a seu favor os últimos resultados e a sensação de que o futuro pode ser muito mais saboroso do que o passado. O time vem acreditando bastante no trabalho de Paulo Pezzolano. E essa cumplicidade é fundamental em qualquer time.