Corinthians e São Paulo ficam no empate até mesmo no duelo de estratégias; confira a análise
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que estava por trás das decisões de Vítor Pereira e Rogério Ceni no clássico de domingo (22)
Este que escreve entende bem o sentimento do torcedor do São Paulo após o clássico contra o Corinthians. A equipe de Rogério Ceni esteve muito perto de conquistar a sua primeira vitória sobre o rival jogando na Neo Química Arena e assumir a liderança do Campeonato Brasileiro. No entanto, o escrete comandado por Vítor Pereira conseguiu se recuperar e chegou ao empate numa jogada trabalhada pelos jogadores que entraram na segunda etapa: Júnior Moraes, Lucas Piton e Adson. Há como se colocar a “culpa” pelo resultado (justo) nas costas do treinador tricolor por conta de suas decisões no intervalo do clássico deste domingo (22). Por outro lado, é preciso enxergar o todo e compreender os motivos que levaram os dois técnicos a tomarem as decisões que tomaram na partida disputada na Neo Química Arena.
Isso porque o futebol está longe de ser uma ciência exata. Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM sabe bem que o velho e rude esporte bretão foi forjado no mais puro caos e desordem. Cada decisão influencia num aspecto do jogo dentro das quatro linhas. Só que estamos falando de uma modalidade conhecida pelo seu “cobertor curto”. Se um treinador resolve fortalecer a defesa, por exemplo, ele deixa o ataque mais despovoado e vice-versa. É uma questão puramente matemática. É nesse ponto que devemos analisar as decisões tomadas por Vítor Pereira e Rogério Ceni. Cada um deles tem a sua parcela de acertos e de erros num clássico altamente disputado, brigado e estudado.
Tudo isso começa com as escalações iniciais de Corinthians e São Paulo. Cada treinador tem suas convicções e argumentos suficientes para justificar a formação e os nomes escolhidos para começar o jogo deste domingo (22). Ao contrário do que muitos pensam, tudo é pensado e tudo tem um motivo. Seja por estratégia para anular uma jogada forte do adversário ou tirar o espaço de circulação do destaque do time que está do outro lado do campo. Rogério Ceni pensou exatamente nisso quando mandou sua equipe a campo no mesmo 3-4-3/3-4-1-2 do Corinthians. O objetivo principal era fazer o encaixe na marcação em cima de Renato Augusto, Du Queiroz e Maycon e travar o meio-campo do time de Vítor Pereira.
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O que se viu no primeiro tempo foi um São Paulo intenso, concentrado e de boa saída pelos lados do campo com os alas Igor Vinícius e Reinaldo. Principalmente este último. O camisa 6 era a principal válvula de escape do escrete de Rogério Ceni e explorava bem o espaço que surgia entre Gustavo Mantuan e João Victor. Mais à frente, Luciano e Alisson se movimentavam bastante no terço final e Calleri arrastava pelo menos dois zagueiros consigo. E ainda havia Igor Gomes e Rodrigo Nestor se impondo fisicamente e ainda pisando na área adversária. O Corinthians, por sua vez, dependia unicamente das escapadas de Renato Augusto e das defesas de cinema do goleiro Cássio (o melhor em campo disparado). O escrete de Vítor Pereira encontrava muitas dificuldades para fazer a bola chegar em Jô e Willian.
O gol de Calleri (marcado aos 50 minutos da primeira etapa) colocava o São Paulo na frente depois de uma bela atuação coletiva e de poucos erros. A rigor, o único deles aconteceu na cobertura pelo lado esquerdo no lance do gol anulado de Jô após cruzamento de Renato Augusto. Mas nada muito além disso. Não foi por acaso que Vítor Pereira resolveu mexer na sua equipe no intervalo. O treinador do Timão abandonou o esquema com três zagueiros e partiu para um 4-3-3 mais nítido, com Adson no lugar de Gil, Du Queiroz protegendo a zaga e Gustavo Mantuan jogando como lateral-direito clássico. A formação visava justamente explorar o espaço às costas dos alas e criar superioridade numérica em todos os setores.
É difícil dizer se essa alteração tática no Corinthians foi o que realmente motivou Rogério Ceni a mexer no São Paulo. Ou se foi o desgaste dos jogadores após uma primeira etapa muito intensa na Neo Química Arena. O que se sabe é que ele também abandonou o esquema com três zagueiros e apostou numa linha de quatro defensores. Éder, Rafinha e Patrick entraram nos lugares de Luciano, Igor Vinícius e Reinaldo respectivamente. Se a ideia era espelhar a formação do adversário e manter a “pegada” no meio-campo, Rogério Ceni viu o Tricolor Paulista recuar demais na segunda etapa e perder a força que tinha pelos lados do campo, já que Rafinha e Léo avançavam pouco devido à presença de Willian e Adson nas pontas.
Conforme mencionado nos parágrafos acima, cada decisão influencia direta ou indiretamente no jogo disputado em campo. Com Alison mais preso no lado direito e Éder pecando muito na perseguição aos volantes corintianos, o São Paulo viu seu adversário subir de produção e pressionar bastante o gol defendido por Jandrei. Ao mesmo tempo, a ausência de Luciano (que fazia muito bem o papel de “ponta-armador” saindo da direita para o meio) permitiu que Maycon pudesse aparecer mais no campo de ataque. As entradas de Júnior Moraes, Lucas Piton e Adson deram ao Corinthians o fôlego necessário para chegar ao empate numa jogada trabalhada pelos três jogadores citados anteriormente. A verdade é que o resultado final do clássico deste domingo (22) foi construído em cima das decisões dos dois treinadores.
Mesmo assim, o São Paulo ainda levou perigo em bela cabeçada de Igor Gomes defendida por Cássio (no mesmo lance em que o goleiro do Timão machucou o ombro). Acabou que o empate foi o resultado mais justo na Neo Química Arena. Há como se compreender a frustração dos torcedores do Tricolor Paulista por conta das chances desperdiçadas e das mexidas de Rogério Ceni que não funcionaram conforme o esperado. Só que também é possível criticar algumas das escolhas de Vítor Pereira no clássico deste domingo (22). Principalmente na escalação inicial e na postura mais acuada da sua equipe no primeiro tempo. E é exatamente por esse e pelos motivos explicados anteriormente que o empate acabou sendo o mais justo, visto que os dois técnicos erraram e acertaram na mesma medida. É do jogo. Simples.
É possível dizer que o São Paulo esteve mais próximo da vitória do que o Corinthians, mas isso pouco importa no final. Acaba que o Timão segue líder do Campeonato Brasileiro e mantém o tabu contra o rival na Neo Química Arena. Mesmo assim, o escrete de Rogério Ceni mostrou força e capacidade para brigar na parte de cima da tabela. Por mais que o resultado não tenha sido o ideal, ele é um indício de que esse time pode jogar mais e melhor. Assim como os comandados de Vítor Pereira.
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