Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do escrete rubro-negro e as escolhas de Dorival Júnior no jogo deste sábado (14)
Isso porque o escrete rubro-negro segue desequilibrado e sem a consistência necessária para suportar a pressão dos seus adversários. Mesmo assim, o cenário se mostrava favorável no começo da partida com a saída do experiente Vina logo depois que Willian Arão abriu o placar na Arena Castelão. A essa altura, o Flamengo se organizava num 4-4-2/4-2-2-2 que dava total liberdade para o quarteto ofensivo se movimentar na intermediária ofensiva. Do outro lado, Dorival Júnior apostava no seu 4-2-3-1 tradicional e na mobilidade de Mendoza para abrir espaços no frágil sistema defensivo do seu forte adversário. Mais atrás, Lucas Ribeiro e Lima encontravam certa dificuldade para conter o ímpeto Arrascaeta e Bruno Henrique. Fora isso, a defesa do Vozão apresentava sérios problemas de posicionamento na bola aérea.
É preciso reconhecer que Paulo Sousa mostrou certa flexibilidade ao abrir mão do “lateral-base” na sua equipe embora Ayrton Lucas não avançasse tanto por conta da presença de Erick e do apoio constante de Isla pela direita. Mesmo assim, o Ceará mostrava muitas dificuldades para conter toda a movimentação de Everton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta nos espaços que existiam entre os zagueiros e volantes do Vozão. Fora isso, o time de Dorival Júnior demorou para encontrar o encaixe na marcação e explorar os problemas defensivos de um Flamengo que se mostrava um pouco mais confiante e mais concentrado nesse início de partida. Assim que o Vozão encontrou esses espaços, a partida ficou mais equilibrada e o sistema ofensivo começou a encontrar todo tipo de atalho na defesa rubro-negra.
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Este que escreve ainda está tentando entender as dificuldades que o time do Flamengo tem em controlar o jogo. Saber os momentos de aumentar e diminuir o ritmo das jogadas ou ainda apelar para as ligações diretas quando necessário. Difícil não perceber aí um problema claro na passagem dos conceitos de Paulo Sousa aos jogadores e (principalmente) na execução do plano de jogo. Por mais que Arrascaeta ainda tomasse conta do meio-campo e Bruno Henrique fosse colocando muita velocidade saindo da esquerda para dentro, faltava um pouco de profundidade nas tramas ofensivas e alguém que buscasse as tabelas com Gabigol no comando de ataque. Mesmo assim, o volume de jogo apresentado no primeiro tempo nos mostrou um Flamengo que tem sim condições de jogar mais e melhor. Mesmo com todos os problemas.
A segunda etapa deixou bem claro que o Flamengo também apresenta problemas de postura. A falta de concentração e de coordenação nos movimentos defensivos era nítida, fato que fazia com que a recomposição defensiva ficasse ainda mais prejudicada. Mesmo assim, a linha defensiva ia conseguindo “segurar a onda” diante do ímpeto ofensivo do Ceará e da pressão colocada pelo time de Dorival Júnior depois das entradas de Yuri Castilho, Richardson e Victor Luís. Curiosamente, o melhor momento do sistema defensivo do Flamengo aconteceu quando Matheuzinho entrou no lado esquerdo e fechou o setor com boa marcação e fôlego novo. As entradas de Marcos Paulo, Andreas Pereira e Lázaro fizeram com que o escrete rubro-negro fosse perdendo consistência e prejudicasse ainda mais a recomposição. O gol de empate era questão de tempo.
Hugo Souza (que já havia feito pelo menos duas grandes defesas na partida) acabou falhando na cobrança de falta de Nino Paraíba no último minuto de jogo. Não deixa de ser um castigo por conta de todo o contexto, mas essa não é a primeira vez que o Flamengo desperdiça pontos importantes por causa de falhas individuais. E esse parece ser um outro problema grave no time de Paulo Sousa. Difícil apontar apenas uma razão para o empate na Arena Castelão (embora o Ceará tenha feito por merecer o resultado final). Pedro poderia dar a profundidade que o time do Flamengo necessitava ao segurar mais a bola no ataque. E Victor Hugo seria uma escolha mais lógica para substituir Everton Ribeiro do que Andreas Pereira. Por mais que os jogadores vacilem, alguns pontos são de responsabilidade de Paulo Sousa sim.
Fato é que o treinador português segue devendo no comando do Flamengo apesar de todo o contexto desfavorável. Por outro lado, precisamos reconhecer também que o time está completamente esfacelado no aspecto físico. No começo do segundo tempo, Bruno Henrique nitidamente segurou uma arrancada na direção da área depois de um belo passe de Arrascaeta. Everton Ribeiro parecia desconectado com o resto da equipe e também apresentou desgaste. E David Luiz (um dos poucos que vinha conseguindo controlar a profundidade na zaga flamenguista) também precisou ser substituído. Por mais que Paulo Sousa tenha sim uma boa parcela de culpa pelo resultado final, a situação no Flamengo faria com que qualquer treinador do mundo encontrasse muitas dificuldades para trabalhar e montar um time competitivo.
Nada disso, no entanto, diminuiu a responsabilidade do treinador português. Se o Flamengo apresentou problemas de comportamento e de postura contra um Ceará muito mais esforçado do que organizado, isso também passa pelo comandante rubro-negro. Principalmente quando falamos do aspecto tático. E não é difícil concluir que a paciência da torcida rubro-negra acabou faz tempo. Só que o mais bizarro de toda essa situação é que os problemas não serão resolvidos com a simples a saída de Paulo Sousa.