Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida deste domingo (15) e as escolhas de Luis Andrade e Rodolfo Segundo
Isso porque as Meninas da Gávea não conseguem ter algo próximo de uma unidade, uma equipe mais coesa e mais consistente. Há como se compreender bem que a ausência de Darlene (que já conhece as ideias de Luis Andrade por conta de sua passagem pelo Benfica) e que Duda (a jogadora que veio para ser a “referência” técnica das Meninas da Gávea) ainda esteja buscando a sua melhor forma física depois de longo período afastada se recuperando de lesão. As dificuldades são bem conhecidas de todos nós. O que ninguém explica é o fato do Flamengo ainda não apresentar uma “cara”. A impressão que fica é que as vitórias conquistadas no Brasileirão Feminino aconteceram muito mais por conta do talento individual do que pelo trabalho coletivo.
Bem diferente do Avaí/Kindermann de Rodolfo Segundo. Linhas organizadas e bastante compactadas na frente da área, jogadoras ligadas em cada lance e executando muito bem o plano de jogo proposto pelo treinador das Caçadoras. É verdade que a falta de mobilidade e de organização do ataque do Flamengo facilitou demais o trabalho do Avaí/Kindermann na marcação e na contenção do ataque rubro-negro. Mas fato é que Kamila, Luana, Gilmara e companhia sempre estiveram muito ligadas em cada pedaço do campo e em cada lance. E dependendo do lado por onde o Flamengo atacava, uma das pontas recuava para auxiliar as laterais Raquel e Sorriso na perseguição a Maria Alves e Leidiane. Nesse ponto, Rodolfo Segundo foi muito feliz na estratégia.
O gol marcado por Sandoval aos nove minutos do primeiro tempo acabou condicionando todas as ações do jogo. Por outro lado, não é a primeira vez em que o time do Flamengo comete erros bobos na saída de bola e nas tomadas de decisão. Mesmo assim, as atuações de Roqueline, Vilma e Sandoval precisam ser exaltadas. As três infernizaram a defesa das Meninas da Gávea por saberem muito bem como explorar as dificuldades que a última linha tinha em controlar a profundidade (o bom e velho “correr para trás”). E não é difícil concluir que todo o plano de jogo proposto por Rodolfo Segundo acabou escancarando todos os problemas coletivos de um Flamengo que ainda está em busca de uma identidade que Luis Andrade ainda não conseguiu encontrar. A desorganização defensiva das Meninas da Gávea fala por si só.
Rodolfo Segundo foi controlando as ações no jogo e recuou as linhas da sua equipe num 4-1-4-1 que às vezes lembrava um 5-4-1 por conta do posicionamento mais recuado de Kamila entre as linhas do Avaí/Kindermann. Do outro lado do campo, Luis Andrade tentou dar mais consistência e mais agressividade no ataque com as entradas de Gica e Pimenta, mas sem sucesso. O Flamengo seguia estático no ataque e sem organização nenhuma quando tinha a posse da bola. E nesse ponto, o treinador português segue devendo o padrão tático, a intensidade e a movimentação tão alardeadas durante sua apresentação no final do ano passado. Na prática, as melhores chances das Meninas da Gávea na partida deste domingo (15) foram resultado de um “abafa” que pouco produziu durante os noventa e poucos minutos. Preocupante.
A impressão que fica é a de que Luis Andrade ainda está descobrindo quais são as características do elenco que tem à sua disposição. Por mais que os desfalques realmente sejam um problema para ele e que o planejamento ruim da diretoria seja talvez o problema mais grave de todo o clube (não somente do futebol feminino), está claro para este que escreve que o treinador português ainda está devendo no comando das Meninas da Gávea. Não que a expectativa deste que escreve fosse uma equipe que batesse de frente com Palmeiras, Ferroviária ou Corinthians. Só que as bravatas proferidas no final do ano passado estão cobrando seu preço. A maior prova disso é a aposta de quase todas as fichas em Duda, jogadora que tem muita qualidade, mas que está muito longe de ser a organizadora de jogadas que o Flamengo tanto precisa.
O Avaí/Kindermann não é o Corinthians ou o Palmeiras. Mas jogou o suficiente para sair de campo com os três pontos e anular um adversário confuso dentro e fora de campo. Conforme escrito lá em cima, a vitória das Caçadoras foi justíssima. E as apostas do Flamengo até agora se mostraram completamente equivocadas. Mesmo que a “grife” esconda muitos dos erros cometidos por quem tem o poder de decisão lá pelos lados da Gávea. De Luis Andrade a Rodolfo Landim.