Home Futebol América-MG 1 x 2 Atlético-MG: eficiência e talento vencem jogos

América-MG 1 x 2 Atlético-MG: eficiência e talento vencem jogos

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Vagner Mancini e Antonio Mohamed na partida disputada na Arena Independência

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O segundo clássico mineiro da história da Copa Libertadores da América acabou marcado pela eficiência e pelo talento individual. A vitória do Atlético-MG sobre o América-MG nesta terça-feira (3) teve esses dois ingredientes e consolidou o Galo na liderança do Grupo D da Libertadores. Mesmo assim, o escrete comandado por Antonio “El Turco” Mohamed sofreu um pouco com a retranca imposta por Vagner Mancini e com a saída de Mariano e Vargas por lesão logo no começo da partida. Do outro lado, o Coelho tentava superar seu forte adversário explorando o espaço às costas dos laterais atleticanos e fechando a entrada da sua área com até cinco jogadores. O problema é que a equipe mandante pecou demais em pontos básicos como a saída de bola e a cobertura defensiva. Venceu a equipe que errou menos.

Formação inicial das duas equipes na Arena Independência. O América-MG tentava fechar a entrada da sua área jogando num 3-4-2-1/5-2-3 que não funcionou. Já o Atlético-MG jogou num 4-2-3-1 com Nacho Fernández e Zaracho se revezando por dentro e pela direita.

A estratégia adotada por Vagner Mancini era mais do que compreensível. O objetivo era fechar o espaço de circulação dos laterais Mariano e Guilherme Arana e ter um zagueiro na sobra para conter Hulk e Vargas. Ao mesmo tempo, Paulinho Bóia jogava às costas de Allan e Jair para dificultar a saída de bola do Atlético-MG e abrir espaços para as chegadas de Matheusinho e Pedrinho pelos lados do campo e Felipe Azevedo e Juninho por dentro. O grande problema, no entanto, estava na falta de compactação e nos espaços generosos que a formação escolhida por Vagner Mancini concedia para o meio-campo atleticano jogar por dentro. As dificuldades ficaram mais evidentes depois que Guilherme Arana abriu o placar logo aos 12 minutos.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Ainda que Juninho tenha falhado no lance, todo o time do América-MG esteve mal posicionado na saída de bola. E isso só facilitou a vida do escrete comandado por Antonio Mohamed. Afinal de contas, eu e você sabemos muito bem que o Galo é praticamente mortal quando tem espaço para atacar e conduzir a bola por dentro. Impressiona também a maneira como Hulk conduziu a bola dentro da área e esperou o momento certo para fazer o passe para Guilherme Arana. Méritos do camisa 7 do Atlético-MG e vacilo imperdoável do sistema defensivo do América-MG. A vantagem no placar deixou o jogo do jeito que o Galo queria, já que o Coelho precisou sair mais para o ataque e acabou abrindo mais espaços na frente da sua área.

[DUGOUT dugout_id=”eyJrZXkiOiIwS0E3c0g3OSIsInAiOiJ0b3JjZWRvcmVzIiwicGwiOiIifQ==”]

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

O lance do gol de Nacho Fernández é um bom exemplo do cenário que se desenhou no decorrer da partida na Arena Independência. Por mais que o América-MG pressionasse e tenha desperdiçado boas oportunidades de empatar a partida com Paulinho Bóia, Felipe Azevedo e Pedrinho, o time de Vagner Mancini ainda corria sério risco na sua defesa. Por mais que seu esquema com três zagueiros visasse dar liberdade para Patric apoiar, ele abria espaços que Iago Maidana e Éder não conseguiam cobrir. Acabava que as subidas do camisa 2 do Coelho causavam um verdadeiro efeito dominó no sistema defensivo. Um dos zagueiros saía para cobrir o lado. Juninho recuava por dentro para fechar a última linha e abria outro buraco na frente da área. Justamente onde Nacho Fernández apareceu para fazer o segundo gol do Atlético-MG.

Éder sobe para pressionar Vargas, Patric não acompanha Guilherme Arana e Juninho faz a cobertura. O Atlético-MG se aproveitou de muitas decisões erradas do sistema defensivo do América-MG no primeiro tempo. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

É bom que se diga que o gol logo no começo da partida acabou condicionando todas as ações dentro de campo. Com a necessidade de sair para o ataque e buscar a virada, o América-MG foi concedendo ainda mais espaços no seu campo e permitindo que o Atlético-MG sofresse menos do que deveria. Mesmo assim, o time de Antonio Mohamed acabou vacilando no lance do gol de Conti após cobrança de escanteio da esquerda. Difícil não perceber a falta de atenção do sistema defensivo do Galo e a falha gritante de Everson. Mesmo assim, a impressão que ficou do final da primeira etapa e do restante da partida na Arena Independência era a de que o Atlético-MG parecia mais próximo de marcar do terceiro do que o América-MG de empatar a partida. Muito disso se deve ao cenário que se criou depois que o Galo saiu em vantagem.

E foi na base do talento e da eficiência que o Atlético-MG foi administrando o resultado no segundo tempo. E também desperdiçando algumas ótimas oportunidades de fazer saldo e melhorar sua campanha no Grupo D da Libertadores. Ademir e Nacho Fernández pararam na grande atuação de Jailson e na própria falta de pontaria em lances decisivos. Mesmo assim, a maneira como o escrete de Antonio Mohamed conseguia manipular os espaços na defesa do América-MG é digno de nota. Guga e Guilherme Arana abriam o campo, Ademir, Zaracho e Hulk avançavam para dar profundidade e criar superioridade numérica no terço final e Nacho se aproximava de Jair e Allan na construção das jogadas. Isso quando o camisa 26 também não aparecia por dentro. Como fez no lance do segundo gol do Galo. “El Turco” tem um padrão bem claro de jogo.

PUBLICIDADE
Guga e Guilherme Arana (fora da imagem) abrem o campo, Zaracho avança para junto de Ademir e Hulk e Nacho Fernández participa da construção com Allan e Jair. O Atlético-MG tem um padrão muito claro de jogo. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

O América-MG ainda levou perigo em cabeçada de Éder que Everson salvou aos 30 minutos do segundo tempo (e se redimiu da falha no gol de Conti). Mesmo assim, a impressão que fica é a de que o Atlético-MG foi pouco incomodado na partida e acabou tirando muito proveito do cenário que se desenhou na partida. Era, de fato, uma posição confortável para o escrete de Antonio Mohamed e algo bastante incômodo para a equipe de Vagner Mancini. Nesse ponto, a qualidade individual, o conjunto e (principalmente) a eficiência falaram muito mais alto numa partida que já se desenhava como equilibrada antes da bola rolar por conta do resultado da partida disputada no Mineirão. A vitória sobre o Coelho também fez com que o Galo igualasse a série invicta de Flamengo e Sporting Cristal. São 17 partidas sem saber o que é uma derrota.

Ainda que muita coisa ainda esteja para acontecer nessa temporada, eu e você já sabemos bem que o Atlético-MG tende a seguir no topo e brigando por títulos. É verdade que o único teste real dos comandados de Antonio Mohamed em 2022 foi a final da Supercopa do Brasil contra o Flamengo. Mas a consistência apresentada no Campeonato Mineiro, no Brasileirão e na Libertadores indicam que o Galo ainda é um grande adversário. E que merece todo o nosso respeito e reconhecimento.

Better Collective