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Universidad Católica 2 x 3 Flamengo: o dilema de Paulo Sousa

Com a vitória sobre a Universidad Católica, o Flamengo manteve os 100% de aproveitamento na Libertadores e a liderança do Grupo H da competição. Dito isto, precisamos reconhecer que a atuação do escrete rubro-negro em San Carlos de Apoquindo foi novamente marcada pela irregularidade e pela fragilidade defensiva. Difícil não pensar que as coisas poderiam ter sido bem piores se o setor ofensivo não tivesse feito a sua parte. Essa situação também revela um dilema de Paulo Sousa. Eu e você sabemos que o time depende demais do talento de Gabigol, Bruno Henrique, Everton Ribeiro e Arrascaeta apesar de já ter mostrado evolução. O grande problema é saber como dosar as energias dos seus principais jogadores sem que a equipe perca consistência.

Por Luiz Ferreira em 29/04/2022 01:39 - Atualizado há 10 meses

Gilvan de Souza / Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a terceira vitória seguida na Libertadores e os problemas crônicos da equipe

Isso porque o segundo tempo da partida escancarou o fato de que o Flamengo não tem um banco de reserva à altura do seu “Quarteto Fantástico”. Ao mesmo tempo, qualquer necessidade de se mexer na equipe por qualquer motivo que seja se transforma numa verdadeira “Escolha de Sofia”. O time de Paulo Sousa viveu esse cenário intensamente contra uma Universidad Católica ligada no 220 e empurrada pela sua torcida em San Carlos de Apoquindo. Os primeiros minutos da partida foram emblemáticos. O Flamengo saiu na frente com Gabigol fazendo seu famoso “facão” do meio para a esquerda para finalizar na saída do goleiro Sebastián Pérez. Pouquíssimo tempo depois, a defesa vacilava e o adversário chegava ao empate.

Essa irregularidade tem sido uma das marcas do Flamengo nessa temporada por uma série de motivos. O time ainda parece estar assimilando os conceitos de Paulo Sousa e este parece ainda estar se adaptando ao elenco. De toda maneira, não parece ser o cenário ideal para a disputa de uma Libertadores e nem para falhas até risíveis de posicionamento defensivo. Não era difícil perceber que Orellana, Fuenzalida e Zampedri levavam ampla vantagem nos duelos contra Willian Arão, Isla, Thiago Maia e João Gomes. A boa notícia é que o quarteto ofensivo conseguiu resolver as coisas na base do entrosamento e do entendimento mútuo. E nesse ponto, o grande acerto de Paulo Sousa foi adaptar seu esquema às características deles.

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Os dois gols marcados por Gabigol foram resultado direto da conexão do camisa 9 do Flamengo com Arrascaeta e Bruno Henrique. E nesse ponto, a mobilidade do maior artilheiro rubro-negro na história da Libertadores parece servir muito melhor ao time nesse contexto do que o estilo de jogo de Pedro, mais referência fixa do que Gabi. O problema do time rubro-negro, no entanto, segue sendo o sistema defensivo. Por mais que os jogadores fizessem bem a variação do 3-4-2-1 para o 4-4-2 sem a bola, a passividade na marcação beirou o inaceitável. A Universidad Católica conseguia levar a bola até a intermediária sem ser incomodada e criava muitos problemas para o goleiro Santos. Principalmente quando time chileno resolveu forçar as jogadas de ataque em cima de Isla e Willian Arão.

O dilema de Paulo Sousa reside justamente no fato do português implementar um sistema de jogo e não conseguir encontrar a consistência ideal para o sistema defensivo. É lógico que pouquíssimas equipes do mundo conseguem imprimir uma pressão constante e bem organizada na saída de bola adversária por muito tempo. Mas o Flamengo sofre demais com a recomposição defensiva e com os espaços às costas de Isla e Filipe Luís. É bem possível afirmar que o caldo poderia ter entornado de vez se Pablo não tivesse jogado por ele e por todo a defesa rubro-negra. Ao mesmo tempo, essa mesma necessidade de se colocar o time no ataque exige demais de Gabigol, Arrascaeta, Everton Ribeiro (todos desgastados pela maratona de jogos) e Bruno Henrique (que vinha de lesão).

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Na visão deste que escreve, Paulo Sousa foi precipitado ao sacar Arrascaeta e Everton Ribeiro de uma vez só (ainda que se compreenda perfeitamente a necessidade de se evitar o desgaste físico e novas lesões). As entradas de Marinho e Lázaro pelos lados do campo visava dar mais força na cobertura dos laterais, mas tirou toda a criatividade que o Flamengo tinha. Do mesmo modo, a entrada de Andreas Pereira e Diego só enfraqueceram ainda mais o sistema defensivo. O primeiro ficou perdido na frente da área e o segundo pouco somou na equipe rubro-negra. Já Pedro ao menos tentou perseguir os volantes e participou das poucas movimentações ofensivas do Flamengo diante de uma Universidad Católica que empilhou chances de gol e que poderia até ter virado o jogo. Sem exagero.

É possível dizer que a vida de Paulo Sousa não parece das mais fáceis. É nítido que existe uma certa dificuldade na comunicação do treinador português com os jogadores para que suas ideias sejam melhor compreendidas e melhor executadas. Apesar da melhora no jogo coletivo percebida nas partidas contra o Talleres e o São Paulo, o dilema persiste. A postura mais ofensiva e as linhas mais altas da equipe rubro-negra exigem demais dos jogadores (principalmente do “Quarteto Fantástico”) e a necessidade de se poupar este ou aquele atleta escancara ainda mais todos os problemas crônicos já mencionados. A necessidade de adaptação de Paulo Sousa às características do elenco do Fla parece mais urgente do que qualquer retorno de jogador lesionado. Ainda mais com tanto em jogo.

O que importa no final de tudo são os três pontos. A fase de grupos da Libertadores exige muito mais que se vença as partidas do que se jogue bem. Mas ela não deixa de ser um presságio do que está pela frente. A vitória sobre a Universidad Católica não esconde o fato de que o Flamengo precisa corrigir uma série de problemas se quiser levantar taças em 2022. Melhorar o sistema defensivo e encontrar opções no banco de reservas é fundamental.

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