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Vitória tranquila sobre a Hungria nos mostra uma Seleção Feminina praticamente fechada para a Copa América

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Por Luiz Ferreira em 12/04/2022 09:55 - Atualizado há 11 meses

Lucas Figueiredo / CBF

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Pia Sundhage no jogo disputado nesta segunda-feira (14) em San Pedro del Pinatar

Este que escreve não gosta muito de seguir a linha do “grupo fechado” para a disputa de qualquer competição do velho e rude esporte bretão. Ainda mais quando o assunto é a Seleção Feminina e a preparação para a Copa América (torneio classificatório para a Copa do Mundo de 2023). Por outro lado, também é preciso dizer que a vitória fácil e tranquila sobre a Hungria por 3 a 1 deixou a impressão de que Pia Sundhage tem poucas dúvidas e que está com a sua lista quase pronta. Ao mesmo tempo, as atuações seguras de Adriana, Lorena, Gabi Nunes e o retorno de Bia Zaneratto acirram ainda mais a briga por uma vaga na equipe que vai tentar o título continental no mês de julho. Ainda mais sabendo que nomes como Marta, Erika e outras jogadoras seguem se recuperando de lesões e/ou fora dos planos da treinadora sueca.

Antes de mais nada, é preciso reconhecer que a Hungria ofereceu muito pouca resistência para a Seleção Feminina. Apesar do início nervoso e dos erros nas tomadas de decisão tão comentados aqui neste espaço em outros momentos, o escrete comandado por Pia Sundhage conseguia circular a bola e parecia mais equilibrado. O 4-4-2/4-2-4 costumeiro da treinadora também parecia mais consistente. Ary Borges seguia jogando mais por dentro ao lado de Angelina, Adriana e Kerolin jogavam pelos lados e Gabi Nunes formava dupla de ataque interessante com Geyse. Mais atrás, Antônia, Thaís Regina, Tainara e Fê Palermo formavam a linha defensiva que protegia a área da goleira Lorena. A equipe era mais móvel, mas ainda se afobava demais em alguns lances.

O primeiro gol brasileiro nasceu da forte jogada de bola parada tão treinada por Pia Sundhage logo aos 13 minutos do primeiro tempo com Gabi Nunes aparecendo na pequena área após cobrança de escanteio de Adriana. A essa altura da partida, a treinadora sueca já havia mudado o posicionamento do seu meio-campo para equilibrar os talentos que tinha à disposição. Ary Borges teve a companhia de Kerolin mais pelo lado esquerdo para compensar as subidas da meio-campista do Palmeiras ao ataque com Adriana ficando mais pela direita. Tudo para que Inrgyd (substituta de Angelina) não ficasse sobrecarregada na recomposição quando o Brasil subisse ao ataque e para que a equipe pudesse fazer as jogadas de ultrapassagem pelos lados do campo.

Kerolin e Ary Borges fizeram boa dupla pela esquerda e contaram com as chegadas de Adriana em diagonal vinda da direita. O Brasil esteve mais solto contra a Hungria. Imagens: Reprodução / SPORTV

O único “porém” dessa formação estava no apoio das laterais ao ataque. Antônia até aparecia pela direita e aproveitava o corredor aberto por Adriana sempre que esta se aproximava da dupla de ataque. Mas Fê Palermo subia pouco pela esquerda talvez com receio de deixar Ingryd sozinha na proteção da zaga diante das investidas de Ary Borges. Esse panorama não foi alterado nem mesmo quando Pia Sundhage mandou Ana Vitória e Bia Zazeratto para o jogo depois do intervalo. Fora isso, o time brasileiro seguia errando muito nas tomadas de decisão e só se tranquilizou mais quando a “Imperatriz” marcou um belo gol aos sete minutos da segunda etapa. O lance nos mostra toda a movimentação de Gabi Nunes, Kerolin e Adriana arrastando a marcação e permitindo que a atacante do Palmeiras tivesse espaço para carregar a bola até a entrada da área húngara.

A jogada do golaço de Bia Zaneratto começa no campo de defesa. Adriana e Gabi Nunes arrastam a marcação e abrem o espaço que a “Imperatriz” precisava. Imagens: Reprodução / SPORTV

A Seleção Feminina controlava bem as ações na partida e quase não era ameaçada pela Hungria. Ainda que a equipe de Pia Sundhage tenha demorado para se acertar em campo depois da saída de Angelina (uma das principais jogadoras do escrete canarinho), as coisas foram se acertando aos poucos. Principalmente por conta da dupla de ataque mais móvel que funcionou bastante nesses dois amistosos. Ainda que Geyse se mostre muito afobada nos momentos decisivos, a experiência internacional vem fazendo muito bem a ela e a outras atletas. Caso de Gabi Nunes, que pode ter carimbado a vaga na Copa América com dois gols de puro oportunismo e muita movimentação no terço final. A grande notícia é que Pia tem ótimas opções para montar o grupo.

E talvez seja exatamente por isso que se esperava um pouco mais da Seleção Feminina no jogo desta segunda-feira (11). Eu e você sabemos que a equipe tem talento e plenas condições de nos proporcionar lances como a arrancada de Kerolin do campo de defesa até o meio-campo, o passe para Adriana no espaço às costas da defesa húngara, o deslocamento de Bia Zaneratto por dentro e a presença de Gabi Nunes no meio das zagueiras para receber o cruzamento preciso que veio da direita no lance do terceiro gol brasileiro (marcado aos 16 minutos do segundo tempo). Apesar dos erros nas tomadas de decisão, a equipe de Pia Sundhage fazia o que se esperava dela em confrontos contra adversários mais fracos: controlava o jogo, colocava a bola no chão e balançava as redes. É esse o caminho.

Kerolin arranca e vê Adriana abrindo o campo e Gabi Nunes dando profundidade. A jogada prossegue até o cruzamento preciso da atacante do Corinthians. Imagens: Reprodução / SPORTV

A vantagem obtida fez com que a Seleção Feminina diminuísse um pouco o ritmo e baixasse um pouco as suas linhas. A penalidade tola de Ingryd em cima de Henrietta Csiszár também resume bem o estado de algumas jogadoras em campo. A ânsia de acertar e de impressionar Pia Sundhage fez com que muitas delas se comportassem de maneira afobada. Mas nem mesmo o gol de Anna Csiki (marcado aos 29 minutos do segundo tempo) fez com que o Brasil perdesse o controle da partida. No entanto, a equipe brasileira só conseguiu levar perigo em cobrança de falta de Debinha que passou perto do gol de Barbara Bíró, em cobrança de escanteio de Adriana que quase virou um gol olímpico e em contra-ataque puxado pela atacante do Corinthians que passou perto da trave. Vitória justa da Seleção Feminina que deixa ótimas opções para Pia Sundhage.

Diante do que foi apresentado pela equipe brasileira nesses amistosos contra Espanha e Hungria, este que escreve acredita que o grupo que vai disputar a Copa América pode ter algumas surpresas apesar de estar quase fechado. Gabi Nunes mostrou oportunismo e faro de gol quando teve oportunidades, Adriana foi muito bem como a “ponta-armadora” que Pia Sundhage tanto procurou nesse ciclo, Geyse teve boa atuação contra a Espanha e Kerolin talvez tenha sido a jogadora mais regular nessas duas partidas. Falta ainda definir que vai jogar na proteção da zaga junto com Angelina. Duda (que joga mais avançada no Flamengo) e Luana devem estar à disposição na Copa América e Ana Vitória pode ganhar mais uma oportunidade pela experiência internacional e pelo porte físico. Ou Pia pode seguir apostando em Ary Borges no setor.

Certo é que o período de treinamentos antes da competição mais importante do ano será fundamental para que todas as jogadoras possam compreender melhor o sistema de jogo da treinadora sueca e também ganhar o tão sonhado entrosamento. Ainda que a Seleção Feminina precise de ajustes em todos os setores e de testes contra adversários mais fortes, a evolução da equipe brasileira é clara. E esse é o grande legado que Pia Sundhage deve deixar para o futuro. Mais coletivo e menos individualidades.

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