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Pentacampeonato estadual pode ser bom presságio para o Grêmio numa das temporadas mais complicadas de sua história

Por Luiz Ferreira em 03/04/2022 01:28 - Atualizado há 10 meses

Lucas Uebel / Grêmio FBPA

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Roger Machado na vitória sobre o Ypiranga neste sábado (2)

É verdade que o Grêmio esteve muito longe de ser brilhante nesse início de temporada. A troca de treinadores e a eliminação doída na Copa do Brasil foram baques fortes para um clube que passa por um dos momentos mais complicados da sua história por conta do rebaixamento para a Série B e mais uma porção de fatores bem conhecidos do torcedor gremista. Por outro lado, a conquista do Campeonato Gaúcho não deixa de ser um bom presságio e também um sopro de esperança para o que ainda está por vir em 2022. O escrete comandado por Roger Machado fez o simples contra um arrumado e aguerrido Ypiranga e levou o quinto título estadual seguido com todo o merecimento. E a grande notícia é que o Grêmio mostrou uma segurança que não se via há bastante tempo. E isso será importantíssimo nos próximos meses.

A vantagem conquistada no jogo de ida (vitória por 1 a 0 em Erechim) permitiu que o Tricolor Gaúcho pudesse ditar o ritmo das ações no campo. Roger Machado manteve seu 4-1-4-1 costumeiro com Villasanti jogando como uma espécie de “regista” na frente da zaga tricolor. Um pouco mais à frente, Lucas Silva fechava um pouco o lado direito e ajudava a fechar a entrada da área. Mas o grande trunfo da equipe comandada por Roger Machado estava na dinâmica implementada pelo jovem Bitello no meio-campo tricolor. O camisa 39 fechava seu setor sem a bola e tinha fôlego para aparecer no ataque como uma espécie de ponta de lança. Boa parte das jogadas de ataque passavam pelo jovem volante gremista.

Mais à frente, Campaz aparecia mais pelo lado direito e Ferreirinha era a principal válvula de escape de um time bem fechado no sistema defensivo e que aproveitava bem as linhas mais altas do Ypiranga. A equipe de Luizinho Vieira se organizava num 4-2-3-1 com Hugo Almeida no comando de ataque, Erick e Matheus Santos pelos lados e Marcelinho armando o jogo por dentro. Mais atrás, Lorran e Lucas Falcão tentavam dar mais movimentação na saída de bola, mas esbarravam no eficiente bloqueio defensivo do seu adversário na própria falta de objetividade na hora de concluir as jogadas de ataque. O Grêmio tinha méritos, mas o Ypiranga pouco se ajudava quando tinha a posse da bola. Faltava agressividade.

Formação inicial das duas equipes em Porto Alegre. A vantagem obtida na ida permitiu que o Grêmio pudesse jogar à vontade contra o Ypiranga. Destaque para Bitello, Campaz e Ferreira.

Por mais que o Ypiranga forçasse o jogo com seu quarteto ofensivo (na variação para um 4-2-4 mais posicional), o Grêmio parecia mais inteiro e mais perigoso nos contra-ataques. Principalmente quando a bola chegava nos pés de Bitello. Era o camisa 39 quem fazia a ligação do meio-campo com o ataque tricolor através da ocupação do espaço entre as linhas do adversário deste sábado e quem dava o ritmo às jogadas. Além dele, Campaz era importante para puxar a marcação da direita para dentro e Ferreirinha explorava vem as subidas dos laterais Gedeílson e Diego Porfírio. Apesar da superioridade no primeiro tempo, o Tricolor Gaúcho só abriu o placar no finalzinho do primeiro tempo e em jogada de bola parada com Bruno Alves aproveitando toque de Rodrigues para dentro da área após cobrança de falta.

Bitello era importante na dinâmica ofensiva do Grêmio ao ocupar o espaço entre as linhas do Ypiranga como um autêntico ponta de lança. Tudo para que Ferreira, Elias e Campaz pudessem arrastar a marcação e abrir a defesa adversária. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Com o Ypiranga precisando fazer três gols para ficar com o título, o Grêmio diminuiu um pouco o ritmo no segundo tempo e viu a equipe de Luizinho Vieira desperdiçar boa chance com Diego Porfírio. Mas o ímpeto do escrete de Erechim ficou por aí, visto que o Tricolor Gaúcho seguia as orientações de Roger Machado à risca. Marcação forte na frente da área, encaixes e perseguições mais curtas e muita pressão no portador da bola para recuperar a posse e partir na direção do gol adversário em alta velocidade. Aliás, a postura do Grêmio durante os noventa e poucos minutos de partida na sua Arena é digna de nota. O time parecia bem diferente daquele do ano passado, que se desmanchava completamente ao menor obstáculo. Fora isso, Pedro Geromel, Villasanti e Lucas Silva passavam segurança aos mais novos.

O gol de Rodrigues (confirmado pelo VAR) deu ainda mais tranquilidade para um Grêmio que controlava completamente o jogo. Nem mesmo o gol de Erick (marcado aos 34 minutos da segunda etapa) conseguiu mexer com a estrutura da equipe comandada por Roger Machado. Tudo por conta do 4-1-4-1 bem compactado e já mencionado anteriormente. Difícil não notar que o treinador gremista encontrou a formação que melhor se adequou às características dos jogadores que tem à disposição e conseguiu dar um mínimo de organização e intensidade para uma equipe que sofria demais ao menor sinal de adversidade. Essa força mental também foi importantíssima na caminhada do pentacampeonato estadual e não deixa de ser um ótimo presságio do que está por vir na sequência dessa temporada que promete ser altamente desgastante.

Roger Machado apostou num 4-1-4-1 de bloco médio para baixo que deu bastante liga no Grêmio. Fora isso, o treinador ajudou a recuperar a confiança e a intensidade de um elenco que se abalava muito facilmente diante de cada adversidade. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

O torcedor gremista pode e deve comemorar o pentacampeonato estadual, mas a equipe precisa ter em mente que o título não garante nada além da recuperação da confiança que andava bem longe do clube nesses últimos meses. O nível de exigência no Campeonato Brasileiro da Série B será muito maior do que no Gauchão e não haverá espaço para as oscilações vistas no início dessa temporada. Fora isso, o Tricolor Gaúcho precisa de reforços em todos os setores para aguentar o tranco do restante da temporada e para encarar adversários mais forte e de mais tradição, como Vasco, Cruzeiro, Sport Recife, Bahia, dentre outros. Times que frequentavam a Série A como o Grêmio e que possuem o mesmo objetivo: voltar para a elite. Se mantiver a seriedade e a consistência das últimas partidas, pode ir longe.

É por isso que a conquista do Gauchão 2022 é um bom presságio do que pode vir pela frente. Não somente pelo título em si e pelo fato de ter eliminado o maior rival nas semifinais da competição, mas por todo o cenário que se desenhava no final do ano passado. Muita coisa do futuro do Grêmio nessa temporada depende da maneira como Roger Machado e companhia pretendem usar essa confiança adquirida neste sábado (2). Pode sim ser um indicativo de que as coisas podem melhorar.

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