Home Futebol Boa atuação coletiva do Flamengo é resultado direto da mudança de comportamento do time; confira a análise

Boa atuação coletiva do Flamengo é resultado direto da mudança de comportamento do time; confira a análise

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Paulo Sousa organizou a equipe rubro-negra na vitória sobre o São Paulo de Rogério Ceni

A atuação do Flamengo na vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo pode não ter sido brilhante e nem “resgatado o futebol praticado pela equipe nos tempos de Jorge Jesus” (nas palavras de alguns mais emocionados). Mas foi suficiente para renovar as esperanças do torcedor e para mostrar que esse time ainda pode chegar muito longe se assim o quiser. Tudo isso se deve bastante à mudança de comportamento de todo o elenco e do próprio técnico Paulo Sousa. Desde o jogo contra o Talleres, vemos um Fla mais organizado e mais coeso (ainda que apresente alguns problemas na recomposição defensiva) e principalmente muito mais concentrado. E o trinfo sobre o escrete comandado por Rogério Ceni pode ter sido a consolidação desse processo. O entendimento daquilo que Paulo Sousa quer está mais claro e isso está sendo percebido dentro de campo.

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Mas também é plenamente possível afirmar que o treinador português vem fazendo a sua parte ao adaptar sua formação preferida (o 3-4-2-1 com a bola e o 4-4-2 sem ela) às características dos jogadores que tem à sua disposição. Por mais que alguns ainda insistam em dizer o contrário, a evolução do time pode sim ser facilmente notada. Sobre o jogo contra o São Paulo em si, Paulo Sousa apostou num esquema que mais próximo de um 4-3-1-2 sem a bola em determinados momentos. Rodinei saía mais pela direita, Filipe Luís (embora um pouco mais avançado) participava mais da construção das jogadas e liberava Arrascaeta para encostar em Gabigol (a referência móvel do Flamengo) e Lázaro. Tudo para encaixar a marcação em cima do time do São Paulo, que apostava na saída rápida pelos lados do campo e na forte marcação em bloco mais baixo.

Formação inicial das duas equipes no Maracanã. Paulo Sousa organizou o Flamengo num 3-4-3/4-3-1-2 de modo a encaixar a marcação e forçar o erro na saída de bola do São Paulo de Rogério Ceni.

A grande sacada de Paulo Sousa estava na marcação mais alta. Com os jogadores mais próximos e controlando mais a profundidade, o Flamengo conseguiu impor seu ritmo e explorar bastante os problemas do 4-3-1-2 de Rogério Ceni. Com Everton Ribeiro e Lázaro fechando os lados do campo, João Gomes (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) saltando para a pressão e Thiago Maia bastante atento na proteção da última linha, o Fla conseguiu frerar o ímpeto do São Paulo durante quase toda a partida. Mais à frente, Arrascaeta era quase um “enganche” e Gabigol se movimentava constantemente na frente de Diego Costa e Léo. O volume de jogo era tão grande que Jandrei já havia salvado o Tricolor Paulista com duas grandes defesas antes mesmo dos dez minutos. Todas as chances nasceram dessa pressão mais coordenada na saída de bola do time comandado por Rogério Ceni.

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Estava mais do que claro que o caminho para a vitória estava nas linhas mais altas de marcação e na forte (e coordenada) pressão no portador da bola. Ainda que o escrete rubro-negro tenha apresentado alguns problemas, o que se via em campo era uma equipe muito mais concentrada e com uma postura completamente diferente do que eu e você vimos na decisão do Campeonato Carioca. Por mais que se entenda que o Fluminense fez por merecer o título e o resultado, a postura mais frouxa e acomodada do Flamengo era nítida. Ao mesmo tempo, também é possível dizer que as ideias de Paulo Sousa ainda não estavam completamente assimiladas pelos jogadores. Acima de tudo, faltava paciência.

É por isso que a ótima atuação coletiva deste domingo (17) foi resultado de uma mudança clara de comportamento. Uma mudança que inclui essa pressão mais alta e muito mais organizada, a participação de João Gomes na marcação e nas roubadas de bola, os passes de Arrascaeta, a movimentação de Everton Ribeiro, as entradas em diagonal de Lázaro e o popular “facão” de Gabigol na direção da baliza. Exatamente como aconteceu no lance do primeiro gol rubro-negro (marcado pelo próprio camisa 9 aos 24 minutos do primeiro tempo). Difícil não perceber (e reconhecer) que o Flamengo estava muito mais equilibrado e executando muito melhor todos os planos de Paulo Sousa do que em outras partidas.

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João Gomes rouba a bola, Arrascaeta aciona Lázaro e este faz o passe para Gabigol tocar na saída de Jandrei. O “facão” do camisa 9 é quase perfeito. Imagens: TV Globo / GE

É verdade também que o Flamengo ainda está muito longe daquilo que pode ser considerado ideal. Isso porque o São Paulo aproveitou os cochilos da defesa flamenguista na marcação para circular a bola no campo de ataque. Numa das poucas subidas de Rafinha ao ataque, o camisa 13 encontrou Calleri atacando o espaço às costas de Rodinei no lance do gol de empate (isso aos 40 minutos do primeiro tempo). Era o tipo do lance que poderia minar ainda mais a confiança de um elenco que ainda está em busca da força mental perdida na decisão da Libertadores. Vendo que o Flamengo voltou do intervalo menos agressivo do que antes, Paulo Sousa resolveu mexer na sua equipe.

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Com Marinho e Isla nos lugares de Lázaro e Rodinei, o Fla ganhou mais fôlego, mais intensidade e muito mais profundidade. Não foi por acaso que os laterais Rafinha e Wellington encontraram tantas dificuldades para fechar os lados do campo. Ao mesmo tempo, Igor Gomes, Rodrigo Nestor, Gabriel Sara e companhia sofriam para fechar os espaços entre as linhas do time de Rogério Ceni. Justamente onde Everton Ribeiro e Arrascaeta gostam de jogar. A movimentação constante de Gabigol na frente de Diego Costa e Léo também foi determinante para que o Flamengo recuperasse o volume de jogo da primeira etapa e retomasse o controle das ações na partida deste domingo (17).

Os passes em profundidade de João Gomes se transformaram na principal arma ofensiva do Flamengo no segundo tempo. Foi dele a assistência para Isla marcar o segundo gol rubro-negro a partida aos 23 minutos do segundo tempo (belíssimo gol, diga-se de passagem). Ainda que o São Paulo quase tenha empatado o jogo no lance seguinte, o escrete comandado por Paulo Sousa manteve a concentração e não diminuiu o ritmo. E talvez o momento que melhor retrate essa evolução do Flamengo tenha sido o gol de Arrascaeta. Marinho recebeu bola pela esquerda e ao invés de partir na direção da meta de Jandrei, o camisa 31 diminui o ritmo e espera o momento certo para fazer o cruzamento que o uruguaio escorou para as redes. Todos os conceitos trabalhados por Paulo Sousa (e amplamente cobrados pelo português) estavam nesse lance. O entendimento, meus amigos, está acontecendo.

Marinho recebe o passe em profundidade, temporiza e faz o cruzamento (ou seria o chute?) que encontra Arrascaeta dentro da área. Gol com a marca de Paulo Sousa. Imagens: TV Globo / GE

Difícil não reconhecer que João Gomes está tomando conta do meio-campo do Flamengo e que Paulo Sousa finalmente está encontrando a sua formação ideal. Faltam sim alguns ajustes finos na marcação e na recomposição defensiva sempre que o adversário vence a primeira linha de pressão da equipe rubro-negra. Aliás, esse ainda é o ponto mais fraco da equipe da Gávea. A tendência é que esse problema seja amenizado na medida em que Pablo, Ayrton Lucas e Rodrigo Caio forem ganhando condições de jogo. Do outro lado, o São Paulo apresentou algumas das boas ideias de Rogério Ceni, mas ainda oscila demais dentro de um mesmo jogo. Fora isso, o 4-3-1-2 utilizado pelo treinador acabou desprotegendo demais os lados do campo e pouco povoou a entrada da área. Acabou que o Tricolor Paulista terminou a partida jogando num 4-2-2-2 pra lá de anacrônico.

A vitória justa sobre o São Paulo nos apresentou um Flamengo mais entrosado com as ideias de Paulo Sousa e muito mais concentrado dentro de campo. Mas está claro para este que escreve que tudo isso passou por uma clara mudança no comportamento dos jogadores dentro de campo. O tempo de treinamento e a paciência na construção das relações entre comissão técnica e jogadores também foi fundamental nesse processo. Há sim como jogar mais e melhor. Mas o caminho parece bastante promissor.

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