Os adversários do Brasil na Copa do Mundo e a necessidade urgente de aprendermos com os exemplos do passado
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Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa os grupos do Mundial e destaca os duelos táticos que a Seleção Brasileira terá pela frente na busca pelo hexa
A Copa do Mundo sempre despertou todo tipo de sentimento no torcedor brasileiro e na imprensa esportiva. É como se o maior evento esportivo do planeta (junto com os Jogos Olímpicos) colocasse na mesa de debates toda e qualquer linha de pensamento sobre cada uma das 32 seleções que vão disputar o título. O sorteio dos grupos do Mundial do Catar nesta sexta-feira (1) teve exatamente esse efeito. Este que escreve considera que o Brasil não terá vida fácil contra Suíça, Sérvia e Camarões, adversários da nossa seleção nas duas últimas Copas do Mundo que, como qualquer outro torneio de “tiro curto” exige concentração máxima e um planejamento quase perfeito. Aprender com os exemplos do passado sempre é uma decisão sábia diante do que já aconteceu com potências como Alemanha, Itália e até mesmo o Brasil em outros anos.
Não é preciso ir muito longe para se entender essa necessidade e compreender que o “jogo é jogado e o lambari é pescado”. A Alemanha (campeã em 2014) foi eliminada na fase de grupos em 2018 (e com derrota para a Coreia do Sul). A Espanha (campeã em 2010) também sofreu do mesmo mal no Mundial seguinte. A França foi eliminada nas oitavas de final da última Eurocopa pela Suíça. Esta, por sua vez, mandou a Itália para a repescagem (e todos nós sabemos o que aconteceu com a Squadra Azzurra depois disso). A Argentina de Marcelo Bielsa (tida como grande favorita ao título na Copa de 2002) foi eliminada ainda na fase de grupos. E a Seleção Brasileira ainda carrega o peso dos 7 a 1 sofrido nas semifinais do Mundial de 2014 para a Alemanha…
A história nos mostra que grandes potências do futebol já sofreram muito na Copa do Mundo. É por isso que o discurso arrogante e soberbo de alguns colegas de imprensa precisa ser rechaçado o quanto antes dentro do grupo comandado por Tite. Este colunista não acredita numa eliminação do Brasil logo na primeira fase, mas ela pode acontecer sim. Isso porque os jogos contra Suíça, Sérvia e Camarões não podem nunca ser considerados “fáceis”. Os exemplos estão aí para comprovar essa tese. Apenas em no Mundial de 2018, a Argentina de Messi sofreu contra uma valente Islândia, a Espanha parou numa Rússia bastante aguerrida e equipes talentosas como Chile, Holanda e Itália sequer disputaram essa Copa do Mundo.
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Este que escreve compreende bem a forma como o torcedor brasileiro se relaciona com a nossa seleção. Por mais problemas que ela possa ter, o nosso imaginário é fortemente influenciado pelo talento dos nossos jogadores. A “camisa que joga sozinha”, a “Pátria de chuteiras” e a “única seleção pentacampeã do mundo” são expressões que ditam todo o discurso. Só que todos aqueles que acompanharam esse último ciclo sabem muito bem que TODAS AS SELEÇÕES DO MUNDO evoluíram de alguma forma nesses últimos quatro anos. Mesmo com a pandemia de COVID-19 e a interrupção das competições. O escrete comandado por Tite tem sim muita qualidade e atingiu um nível de competitividade imenso mesmo sem jogar contra adversários do primeiro escalão. Mas isso não quer dizer que o Brasil irá encarar apenas as “carnes assadas” nessa Copa do Mundo.
A começar pela Sérvia. A equipe comandada por Dragan Stojković (AQUELE MESMO que foi campeão da Liga dos Campeões de 1992/93 pelo Olympique de Marselha junto com Abedi Pelé, Rudi Völler, Didier Deschamps e Fabien Barthez) tem valores individuais de altíssima qualidade. Os meias Tadic (companheiro de Antony no Ajax) e Milinković-Savić (da Lazio) são dois jogadores extremamente criativos e que merecem atenção dos adversários. Mas o grande destaque se chama Dusan Vlahovic. O atacante da Juventus tem apenas 22 anos e já desponta como um dos grandes goleadores do continente. Vale lembrar que “La Vecchia Signora” comprou o jogador a peso de outro da Fiorentina por impressionantes 81 milhões de euros na última janela.
É verdade que a memória recente nos leva para a vitória da Seleção Brasileira por 2 a 0 sobre a Sérvia na Copa do Mundo de 2018. Por outro lado, precisamos lembrar que a equipe de Dragan Stojković conseguiu a vaga direta no Mundial do Catar diante da talentosíssima equipe de Portugal jogando na casa do adversário com uma senhora atuação coletiva. O 5-3-2 utilizado nas “Águias Brancas” é bem organizado e sabe se adaptar bem às circunstâncias de cada partida. Ao mesmo tempo, tem muita força com os alas Andrija Zivkovic e Filip Kostić e muita força ofensiva com Milinković-Savić criando e Tadic se aproximando de Vlahovic como se fosse um segundo atacante. É uma das seleções que mais evoluiu nesse ciclo.
Já a Suíça parece ser sinônimo de “ferrolho”. Mas é sempre preciso lembrar que foi essa mesma equipe quem surpreendeu a atual campeã mundial França nas oitavas de final da Eurocopa (ainda sob o comando de Vladimir Petkovic). Além de nomes conhecidos como os experientes Shaqiri (ex-jogador do Lyon, do Liverpool, do Bayern de Munique e atualmente no futebol dos Estados Unidos), Xhaka (volante do Arsenal) e do goleiro Sommer (do Borussia Mönchengladbach), a equipe da Rossocrociati (a “Cruz Vermelha” em italiano) é outra que vem nos mostrando muito mais do que uma boa organização defensiva. Há bons padrões ofensivos e muita intensidade nos contra-ataques. Vale lembrar que o Brasil sofreu contra a Suíça em 2018.
Murat Yakin assumiu a equipe depois da Eurocopa e aproveitou bons nomes que surgiram nos últimos anos. Caso do volante Denis Zakaria (atualmente na Juventus) e do atacante Noah Okafor (do RB Salzburg). Ambos extremamente talentosos e muito promissores. A goleada sobre a Bulgária (que garantiu a Suíça na Copa do Mundo do Catar) foi construída com muita força pelos lados e a variação do 4-2-3-1 para um 2-3-5 posicional bastante interessante. O lateral Silvan Widmer pode aparecer mais por dentro, enquanto Ruben Vargas e Kevin Mbabu abrem o campo para permitir que Shaqiri ataque o espaço às costas da última linha defensiva do adversário. A Suíça é muito mais do que um simples “ferrolho”. Merece respeito e reconhecimento.
E por fim, temos a sempre vibrante equipe de Camarões. Embora tenham ficado de fora da última Copa do Mundo, os “Leões Indomáveis” surpreenderam ao demitir o português António Conceição após a campanha do terceiro lugar na Copa Africana de Nações. Quem assumiu a equipe foi Rigober Song (AQUELE MESMO que foi zagueiro do Liverpool, do West Ham e que serviu disputou quatro mundiais pelo selecionado de seu país), que não mexeu muito na maneira de jogar vista anteriormente. A formação básica é o 4-4-2 que une a força de jogadores como o experiente Choupo-Moting (talvez o grande nome de Camarões) e a habilidade de Toko Ekambi e Martin Hongla pelos lados do campo. Na prática, é um 4-4-2 que se transforma num 4-2-4 com a bola.
Camarões ainda conta com o ótimo goleiro André Onana (companheiro de Tadic e Antony no Ajax), o bom volante Pierre Kunde (do Olympiacos da Grécia) e com o experiente e sempre decisivo Vincent Aboubakar, jogador do Al-Nassr da Arábia Saudita e artilheiro da última edição da Copa Africana de Nações. Ao contrário do que boa parte da imprensa brasileira ainda insiste em dizer, os “Leões Indomáveis” formam uma equipe altamente competitiva e que entrega muito mais do que apenas um “futebol de força”. Há estratégia, há qualidade com e sem a bola e há muito talento. Fora a grande quantidade de jogadores que atuam em fortes ligas na Europa e a história de uma equipe que já aprontou bastante em Copas do Mundo.
Embora este que escreve acredite que a Seleção Brasileira vai sim conseguir se classificar para a próxima fase da Copa do Mundo, é preciso entender sim que o futebol evoluiu muito que a distância das chamadas equipe do “primeiro escalão” para as demais já não são tão grandes assim. O equilíbrio dos demais grupos do Mundial do Catar prova essa tese. Equador e Senegal podem causar bastante problemas para a Holanda no Grupo A. Do mesmo modo, a seleção europeia que se garantir no Grupo B deve competir bastante com Estados Unidos e Irã pelo segundo lugar (ou até mesmo pregar peças na Inglaterra). O México sempre arrancou pontos de equipes mais fortes e pode ser a sensação do Grupo C junto com a Polônia. Já a França pode não ter vida fácil contra a Dinamarca (ou o Peru se este se classificar na repescagem).
Alemanha e Espanha devem se classificar no Grupo E, mas sempre existe o risco do tropeço contra um Japão ou uma Costa Rica (caso esta passe pela Nova Zelândia). E pelo que se viu nas Eliminatórias, Canadá promete competir bastante com sua equipe jovem e renovada contra os elencos mais velhos de Bélgica e Croácia no Grupo F. Por fim, o Grupo H é (na humilde opinião deste que escreve) o mais equilibrado dessa Copa do Mundo. Não é difícil imaginar Portugal tropeçando contra um Uruguai sempre aguerrido, uma Gana que sempre causa problemas ou até mesmo uma Coreia do Sul veloz e organizada (exatamente como aconteceu na vitória sobre a Alemanha no Mundial da Rússia). O recado passado para o Brasil vale para todas as outras seleções que vão disputar a Copa do Mundo. O jogo se resolve dentro de campo. E só lá.
A grande missão de Tite e companhia na Seleção Brasileira é conscientizar o grupo de que não existe mais “carne assada” e que sempre será preciso dar tudo de si em cada disputa de bola. Blindar os jogadores desse discurso mais “ufanista” e de todo e qualquer “oba-oba” será fundamental para que os objetivos da equipe sejam alcançados. Se a imprensa não colabora com suas falas distorcidas, que o escrete canarinho entre em campo com a seriedade que anda passando bem longe da imprensa esportiva nesses últimos anos.