Seleção Feminina demora para encaixar, mas encontra alternativas e consolida modelo de jogo contra a Espanha
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Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Pia Sundhage no amistoso disputado em Alicante nesta quinta-feira (7)
Antes de analisarmos mais a fundo este amistoso da Seleção Feminina, precisamos abrir espaço para uma confissão. A expectativa mais otimista por parte deste que escreve sobre o amistoso contra a Espanha de Alexia Putellas era uma derrota por poucos gols de diferença. Isso porque as últimas atuações do escrete comandado por Pia Sundhage contra seleções do primeiro escalão mundial escancararam os problemas da equipe brasileira e a necessidade de ajustes em todos os setores. Quem viu o jogo disputado nesta quinta-feira (7) em Alicante viu uma Seleção Feminina que ainda precisa de correções em diversos pontos (principalmente nas tomadas de decisão), mas que conseguiu sim competir num nível mais alto contra um adversário claramente superior. O empate em 1 a 1 merece sim ser celebrado. Mas isso não quer dizer que está tudo bem.
Não se trata de repetir ou reverberar discursos sem sentido (e maldosos em certos casos) sobre o trabalho de Pia Sundhage. Conforme já explicado aqui, há erros e há também muitos acertos. Estamos vendo um padrão de jogo muito claro na Seleção Feminina e também uma linha de pensamento que começa a influenciar o trabalho das equipes Sub-17 e Sub-20. A necessidade de se pensar na parte física e aumentar o nível de competitividade é fundamental para que o Brasil possa encarar seleções mais fortes e melhor preparadas. Caso da Espanha. Alexia Putellas (a melhor jogadora do mundo na temporada passada), Claudia Pina, Ivana Andrés e várias outras fizeram parte de equipes bastante vitoriosas nas categorias de base.
Não é difícil concluir que alguns países estão na frente quando o assunto é futebol feminino por conta dessa diferença no trato com a base e por estarem com sues processos de amadurecimento e renovação muito mais adiantados do que os do Brasil. É como se estivéssemos tentando tirar um atraso de mais de 40 anos num mísero ciclo de Copa do Mundo. A nossa mania de observar apenas o resultado e não entender que tempo e paciência são vitais também é outro obstáculo considerável. Mesmo assim, podemos dizer que a Seleção Feminina encontrou boas alternativas e que Pia Sundhage consolidou ainda mais seu modelo de jogo num empate que pode sim ser considerado surpreendente por todo o contexto da partida desta quinta-feira (7).
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A lesão de Marta fez com que a Seleção Feminina perdesse sua principal liderança e referência técnica, mas permitiu que a treinadora sueca pudesse testar uma nova formação para sua equipe. O 4-4-2/4-2-4 seguia como base, mas o meio-campo ganhou força por dentro com Ary Borges ao lado de Angelina, Kerolin e Duda Santos pelos lados, Debinha jogando como uma “10” e Geyse puxando os contra-ataques mais à frente. Em determinados momentos, esse 4-4-2 lembrava mais um 4-4-1-1. Mas o problema nem estava na formação utilizada por Pia Sundhage, mas na afobação e nos frequentes erros nas tomadas de decisão. Alexia Putellas abriu o placar em cobrança de falta que desviou na barreira (em bola defensável para Lorena) e participava ativamente da construção das jogadas de ataque jogando mais pela esquerda no 4-3-3 de Jorge Vilda.
Enquanto Lorena se redimia com uma bela defesa em chute de Bonmatí na entrada da área, a Seleção Feminina ia (aos poucos) controlando seus nervos e colocando a bola no chão. Ainda que Duda Santos e Debinha estivessem em outra rotação e que Tamires sofresse demais na marcação pelo lado esquerdo, o Brasil conseguia ocupar mais o campo de ataque e permanecer com a posse. Uma mudança no posicionamento das jogadoras fez com que a equipe brasileira ganhasse mais consistência. Ary Borges e Kerolin foram jogar pelo lado esquerdo, Debinha recuou um pouco mais e Duda Santos abriu o campo pela direita. Com as linhas mais altas e mais concentração, a Seleção Feminina ia conseguindo igualar e até vencer alguns duelos contra a Espanha.
Geyse desperdiçou belíssimo contra-ataque aos 23 minutos após bola roubada no campo de defesa. Mas o empate só sairia no final do primeiro tempo numa das poucas triangulações que o escrete canarinho conseguiu encaixar. Angelina recebeu de Kerolin por dentro, viu Ary Borges se lançando pela esquerda e fez o passe. A camisa 17 foi até a linha de fundo e devolveu o passe para Kerolin. Esta esperou o momento certo para fazer o cruzamento rasteiro para Geyse balançar as redes. Gol que nasceu de dois pontos defendidos à exaustão por Pia Sundhage: a objetividade e a concentração. Assim que a Seleção Feminina conseguiu “ler” os movimentos da Espanha, as coisas fluíram e o talento das nossas jogadoras fez o resto.
A segunda etapa acabou tendo o domínio espanhol, mas também marcou as boas atuações de Angelina (cada vez mais adaptada à Seleção Feminina e ao esquema tático de Pia Sundhage), Antônia (uma gigante na zaga) e Lorena (que fez pelo menos três grandes defesas). Por outro lado, a equipe brasileira ainda se mostrou bastante afobada em alguns momentos. Principalmente quando perdia a bola e voltava para a defesa. Aliás, a transição defensiva ainda é um dos grandes problemas do Brasil e que requer muita atenção por parte da treinadora sueca. Não foram poucas as vezes em que a Espanha encontrou espaço pelo meio (quando Ary Borges avançava e a Seleção Feminina se organizava em algo perto de um 4-1-3-2) e aproveitou os buracos que a equipe abria na defesa quando as jogadoras saltavam para a pressão na intermediária.
A grande notícia desse empate da Seleção Feminina contra a Espanha nem está no resultado em si, mas na maneira como o escrete de Pia Sundhage parece estar assimilando suas ideias e trabalhando seus conceitos. É óbvio que ainda existem pontos que precisam de ajustes (como a transição defensiva e a concentração para sair da forte pressão das adversárias) e ficou ainda mais claro que algumas jogadoras estão com dificuldades para jogar no nível de intensidade exigido por Pia. Mas o saldo foi sim muito positivo e merece ser celebrado. Além disso, a treinadora sueca ainda encontrou boas alternativas. Ary Borges fez boa partida jogando por dentro (ao lado de Angelina), Tainara mostrou segurança em alguns lances e Geyse apresentou a dedicação de sempre e acabou sendo premiada com o gol brasileiro.
Este que escreve, no entanto, ainda deseja ver a subida de patamar da Seleção Feminina. Por mais que jogadoras como Duda, Rafaelle e Luana estejam afastadas (e que Marta vá permanecer um bom tempo longe dos gramados por conta da grave lesão no joelho), há margem para melhora num prazo relativamente curto. O que é certo é que Pia Sundhage mostrou estar no caminho certo e implementando conceitos valiosos numa equipe que precisa correr atrás do prejuízo. Principalmente quando o assunto é futebol feminino de alto nível.