Primeiro tempo do Corinthians é mais do que suficiente para expor a necessidade de ajustes e entrosamento no Botafogo
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida no Estádio Nilton Santos e o “duelo lusitano” entre Vítor Pereira e Luís Castro
Antes de mais nada, é preciso lembrar que Botafogo e Corinthians passam por processos semelhantes de entendimento entre jogadores e comissões técnicas e a melhor execução de uma nva filosofia de jogo. Esse cenário é ainda mais desfavorável no Glorioso, visto que Luís Castro não pôde estar à beira do gramado por problemas na documentação e viu sua equipe ser facilmente dominada no primeiro tempo da partida disputada neste domingo (10). Ou seja, é preciso ter paciência e dar tempo para que esse processo aconteça. Por outro lado, a derrota por 3 a 1 para o escrete comandado por Vítor Pereira não chega a ser algo “anormal”, mas acabou expondo essa necessidade ajustes e entrosamento no Botafogo. Alguns jogadores estiveram numa tarde muito ruim mesmo levando todo o contexto descrito anteriormente em consideração.
Para a estreia no Brasileirão, Luís Castro mandou o Botafogo a campo organizado num 4-2-3-1 que tinha Lucas Piazon, Chay e Victor Sá atrás de Erison, Luís Oyama e Patrick de Paula na proteção da zaga e Saravia e Jonathan Silva nas laterais. Do outro lado, Vítor Pereira apostava num 4-1-4-1/4-3-3 num Corinthians mais leve no ataque (com Willian, Roger Guedes e Gustavo Mantuan), Du Queiroz e Maycon no meio-campo e Paulinho mais solto para chegar no ataque. Sem a bola, era possível perceber até mesmo uma linha de cinco na frente da área de Cássio em alguns momentos. Mas o que surpreendia era a falta de compactação e a péssima transição defensiva do Botafogo. Não se sabe se por falta de entrosamento ou pela falta de ritmo do Glorioso. Mas o Corinthians encontrava facilidade demais para circular a bola.
Este que escreve entende muito bem esse momento do Botafogo e a atuação ruim no primeiro tempo do jogo deste domingo (10). No entanto, conforme mencionado anteriormente, alguns jogadores pareciam jogar duas rotações abaixo do que o confronto exigia. Ainda mais quando o Corinthians tinha em Willian o grande articulador de jogadas (partindo da esquerda para dentro) e sua grande referência técnica. Difícil entender como o escrete de Luís Castro concedeu tanto espaço para um jogador que consegue transformar dez centímetros quadrados num verdadeiro latifúndio. Saravia parecia perdido na marcação, Patrick de Paula foi um dos que mais pecou nas transições defensivas e Lucas Piazon visivelmente sentia a falta de ritmo. Por mais que fosse possível enxergar ideias, o Botafogo não estava bem na partida.
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Os gols de Paulinho (marcado aos 16 minutos da primeira etapa) e Gustavo Mantuan (confirmado pelo VAR aos 27 minutos) já indicavam que Luís Castro encontraria muitos problemas pela frente. Ao mesmo tempo, não foi por acaso que Vítor Pereira pediu que seus jogadores explorassem o espaço às costas dos laterais Saravia e Jonathan Silva. Se o primeiro se mostrava completamente perdido na marcação, o segundo é que foi (inexplicavelmente) alvo da torcida alvinegra nesse primeiro tempo no Estádio Nilton Santos. Nem parecia que o Corinthians havia construído a jogada dos seus três gols em cima de Saravia e Philipe Sampaio, outro que foi completamente envolvido pela movimentação ofensiva do Timão, mas que foi pouco criticado.
Mesmo organizado num 4-2-3-1 bastante visível, o Botafogo concedia espaços demais para o escrete de Vítor Pereira. E a jogada do terceiro gol do Timão é um bom exemplo dessa passividade na marcação. Lucas Piton recebe a bola na esquerda e vê Paulinho e Willian ocupando o espaço entrelinhas na frente da área botafoguense. Quem fecha em cima do lateral do Corinthians é Luís Oyama e não Lucas Piazon. Tanto que o camisa 43 não acompanha o lateral corintiano e a jogada se desenrola até que Gatito Fernández seja batido pela terceira vez. O cenário no Estádio Nilton Santos já não era dos mais favoráveis e o Botafogo ainda facilitava a vida de um Corinthians que nem precisou fazer força para construir essa vantagem.
Luís Castro melhorou o desempenho do Botafogo no segundo tempo com as entradas de Hugo, Matheus Nascimento e Diego Gonçalves. No entanto, ainda era insuficiente diante da vantagem obtida pelo Corinthians no primeiro tempo. Nem mesmo quando Vítor Pereira trocou Willian e Paulinho por Adson e Roni e viu o camisa 29 errar tudo que tentou na partida. Inclusive, o gol de honra do Glorioso nasceu de penalidade bisonha do jovem volante corintiano. Nada que mudasse o panorama da partida apesar da subida de produção de um Botafogo ainda mais presente no campo de ataque e que seguia concedendo espaços generosos entre suas linhas. Saravia seguia falhando demais na marcação e nos botes e Patrick de Paula parecia alheio ao que estava acontecendo dentro de campo. Enquanto isso, o Corinthians administrava o resultado.
A grande verdade é que o resultado do jogo deste domingo (10) precisa levar em consideração todo o contexto de reconstrução das duas equipes. Nem o Botafogo está fadado ao rebaixamento (já que o projeto capitaneado por John Textor ainda está no início) e nem o Corinthians já resolveu todos os seus problemas. Um está num patamar acima do outro em matéria de entendimento da proposta de jogo de cada treinador. Se Vítor Pereira entendeu que precisa dar liberdade para os mais talentosos e pensar num time mais móvel para compensar a lentidão dos veteranos, Luís Castro sabe muito bem que seus jogadores ainda precisam de tempo e entrosamento para jogarem dentro daquilo que acredita. O resultado foi sim muito ruim para o Botafogo. Mas o cenário está muito longe de ser uma terra arrasada. Que isso fique claro.
Por mais que a esperança do torcedor botafoguense tenha sido destruída num primeiro tempo desastroso, é bom ter calma e prudência em cada uma das análises. Há sim uma tendência de melhora no escrete de General Severiano por mais que o resultado diga o contrário. Ainda tem muita coisa pra acontecer numa temporada que promete fortes emoções por conta de tudo que está em jogo dentro e fora do país. Vítor Pereira e Luís Castro sabem muito bem disso.
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