Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada sobre o Chile e as ideias trabalhadas por Simone Jatobá na partida deste domingo (13)
A estreia da Seleção Feminina no quadrangular final do Campeonato Sul-Americano Sub-17 pode ser vista e analisada das mais diferentes maneiras. A equipe comandada por Simone Jatobá mostrou mais uma vez que é muito superior às suas adversárias e não deve encontrar muitos problemas para se garantir na Copa do Mundo da categoria. A inapelável e impiedosa goelada por 8 a 0 sobre o Chile também nos mostrou alguns dos conceitos trabalhados pela treinadora brasileira (e muito bem executados pelas suas jogadoras) em todos os setores e trouxe mais alguns elementos que ajudam a explicar essa clara superioridade (pelo menos até o momento) do Brasil sobre seus adversários no torneio continental. A Seleção Feminina segue trilhando um caminho muito promissor e vem subindo de patamar a cada jogo que disputa.
FIM DE JOGO! GRANDE VITÓRIA! 💚💛
Começamos o quadrangular final da melhor forma possível! Partida incrível da nossa #SeleçãoFeminina Sub-17! 🇧🇷
Nosso próximo desafio será contra o Paraguai, na quarta-feira, às 18h30! pic.twitter.com/GuCKdRKgjR
— Seleção Feminina de Futebol (@SelecaoFeminina) March 13, 2022
Isso acontece por conta de uma série de fatores. A começar pelo elenco que Simone Jatobá tem em mãos. O nível de qualidade que Jhonson, Carol, Aline Gomes, Ana Júlia, Dudinha e companhia estão entregando na competição continental é muito grande. E nada melhor para potencializar ainda mais tantos talentos em campo do que um esquema tático muito bem montado e muito bem executado. O organizado 4-2-3-1 que vimos na fase de grupos deu lugar para um 4-3-3 mais nítido na partida contra o Chile. Isso porque era bem comum ver Ana Júlia aparecendo na frente e pisando na área enquanto Carol recuava para distribuir os passes na intermediária ofensiva.
O que se via era um time com muito mais volume de jogo e que não deu sossego ao não mais do que esforçado elenco do Chile desde o apito inicial. O gol marcado por Jhonson logo aos três minutos de partida (em bobeira da goleira Martina Salazar) já deu logo o tom do que estava por vir. Dois minutos depois, Aline Gomes fez boa jogada pela esquerda e fez o segundo. O “rolo compressor” de Simone Jatobá tinha muitos elementos como a pressão pós-perda, a transição rápida e a alta intensidade na marcação e nos movimentos. Não é uma Seleção Feminina que corre muito. Mas que pensa rápido, se movimenta no tempo certo e executa o plano de sua treinadora com muita eficiência.
Um outro ponto que explica essa excelente campanha da Seleção Brasileira no Sul-Americano Feminino Sub-17 é a movimentação ofensiva. Simone Jatobá cobra muita concentração das suas jogadoras justamente para que o setor de ataque não se desorganize e facilite a vida das adversárias. E tudo parte também da movimentação das volantes. Ana Júlia pode se lançar no espaço aberto pelas pontas, Dudinha pode abrir o corredor para Yasmin pela direita, Jhonson arrasta e/ou prende as zagueiras adversárias e Aline Gomes ataca a área adversária entrando em diagonal. Exatamente como aconteceu no terceiro gol da Seleção Feminina (marcado por Ana Júlia aos 30 minutos do primeiro tempo). Ou como aconteceu no quarto gol brasileiro (este marcado por Carol) em jogada que contou com a participação de toda a equipe brasileira.
Ainda haveria tempo para Jhonson fazer o quinto gol brasileiro antes do intervalo. E o segundo tempo da partida nos apresentou um Brasil que diminuiu um pouco o ritmo por conta da vantagem no placar e um Chile que tentava fazer seu gol de honra na base de um “abafa” que não passava nem da intermediária. Nesse ponto, o trabalho realizado por Lara e pelas zagueiras Guta e Grazy merece ser destacado e reverenciado. Assim como a atuação das laterais Yasmin e Kedima, mais duas armadoras e distribuidoras de passe na equipe de Simone Jatobá. Lá na frente, a Seleção Feminina se mantinha intensa nas transições e com seu quarteto ofensivo explorando muito bem as costas da última linha chilena. Exatamente como no lançamento de Kedima para Aline Gomes no lado direito que resultou no sétimo gol brasileiro, marcado por Rebeca.
Dudinha já havia marcado o sexto (logo aos três minutos da segunda etapa) e a própria Aline Gomes fez o oitavo aos 41 minutos. Toda essa eficiência e todo esse volume de jogo são elementos defendidos com unhas e dentes por Simone Jatobá e explicam muito bem o sucesso da Seleção Feminina. Em entrevista ao site oficial da CBF após a partida deste domingo (13), ela analisou a atuação da sua equipe na goleada sobre o Chile. “Precisamos trabalhar muito ainda. Os próximos jogos serão decisivos, porque os adversários sempre atuam com uma força muito grande contra o Brasil. Precisamos manter o nosso jogo, concentração e ritmo, é isso que vai fazer a diferença. Nós treinamos bem, estamos preparadas e futebol elas têm, então é isso que vai fazer a diferença.”
É impossível discordar da treinadora da Seleção Feminina Sub-17. Mesmo com tantas goleadas empilhadas no Sul-Americano da categoria. Afinal de contas, ela mesma sabe que chegar ao topo é relativamente fácil. Mas manter-se lá é tarefa dificílima de ser cumprida. Essa concentração e essa seriedade no trabalho são pontos que explicam muito bem a boa campanha brasileira na competição. Talento, trabalho e dedicação são elementos fundamentais no futebol de base. Principalmente o feminino.