Variações táticas, movimentação intensa e mais uma goleada: Seleção Brasileira mostra que está sim entre as melhores do mundo
Uma publicação compartilhada por Seleção Brasileira de Futebol (@cbf_futebol)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite na vitória sobre o Chile nesta quinta-feira (24), em partida disputada no Maracanã
Os 4 a 0 sobre o Chile no Maracanã foi a quarta goleada da Seleção Brasileira jogando em casa nessas Eliminatórias da Copa do Mundo. Além da vitória sobre “La Roja”, o Brasil fez 5 a 0 sobre a Bolívia, 4 a 1 no Uruguai e 4 a 0 em cima do Paraguai. Mesmo assim, ainda há aqueles mais ranzinzas (ou desonestos) que insistem na tese de que a equipe comandada por Tite “não possui padrão tático definido”. É difícil entender o que leva algumas pessoas a ignorar completamente o jogo que está sendo apresentado nas últimas partidas e a consistência daquela que ainda é uma das melhores seleções do mundo. Sim, meu amigo. O escrete canarinho está sim no mesmo patamar de uma França, de uma Inglaterra e de uma Alemanha. Agora, se o Brasil vai ganhar a Copa do Mundo no final do ano, isso é outra conversa.
A grande verdade é que alguns colegas acabaram alimentando uma narrativa que colocava a Seleção Brasileira num nível muito abaixo do que a realidade nos mostra. Este que escreve não está afirmando que o trabalho de Tite é perfeito. Muito pelo contrário. Não existe esse negócio de time perfeito, de seleção imbatível. O futebol foi forjado no mais puro caos e possui tantas variáveis que impedem qualquer previsão mais concreta. O fato incontestável é que o Brasil vai competir demais no Catar. E a atuação do escrete canarinho na goleada sobre o Chile é mais uma prova de que os jogadores estão completamente imersos dentro da proposta de jogo trabalhada por Tite. A começar pela maneira como o quarteto ofensivo se comportou diante da retranca imposta pelo técnico Martín Lasarte no jogo desta quinta-feira (24).
Tite optou por um 4-4-2/4-2-4 com referências móveis no comando de ataque. Antony e Vinícius Júnior eram os pontas com os “pés invertidos” (isto é, um canhoto na direita e um destro na esquerda) que atacavam os espaços abertos por Neymar e Lucas Paquetá. Mais atrás, Casemiro e Fred protegiam a defesa formada por Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Guilherme Arana. Do outro lado, o Chile entrava em campo com um 5-3-2 que protegia bem a área do goleiro Claudio Bravo e que tentava sair em velocidade com os alas Isla e Gabriel Suazo. Mas a pressão pós-perda da Seleção Brasileira seguia muito bem encaixada. Mesmo com dificuldades para trabalhar a bola no terço final (muito por conta da retranca imposta por Martín Lasarte), o Brasil controlava as ações no jogo e procurava trabalhar bem a bola.
É interessante notar que a formação escolhida por Tite permitia que Vinícius Júnior e Antony pudessem pisar na área com mais frequência. Mas também exigia que Fred (que teve mais uma atuação sólida com a camisa amarelinha) precisasse cobrir uma faixa maior do campo e aparecer mais na frente para dar mais profundidade ao ataque. Faltava a velocidade nas trocas de passe e a movimentação intensa tão pedida e treinada pelo comandante da Seleção Brasileira em Teresópolis. Principalmente pelos lados do campo, onde Danilo e Guilherme Arana tinham bastante espaço. Faltava também o posicionamento correto de Neymar e Lucas Paquetá por dentro e mais objetividade quando a bola chegava perto da área adversária.
Esse panorama ficava ainda mais evidente conforme o tempo ia passando, visto que o Chile parecia satisfeito com o empate por conta dos resultados de momento nessa rodada das Eliminatórias. Paulo Díaz, Gary Medel e Enzo Roco fechavam muito bem a defesa e o 5-3-2 de Martín Lasarte soltava Aranguiz e Vidal para municiar Alexis Sánchez e Eduardo Vargas nos contra-ataques. A estratégia não era ruim, mas faltava o aprimoramento necessário nas trocas de passe para sair da forte pressão brasileira. O gol de Neymar (em penalidade clara sofrida por ele mesmo depois de belo passe de Vinícius Júnior) aos 43 minutos do primeiro tempo foi suficiente para que toda a estratégia trabalhada por Martín Lasarte caísse por terra.
Um minuto e meio depois, o Brasil marcaria o segundo numa demonstração clara e evidente de todos os conceitos trabalhados por Tite. E nesse ponto, vale sim a pena reforçar que a Seleção Brasileira tem sim um padrão de jogo muito claro. Pode não encher nossos olhos, mas não deixa de ser eficiente. Há a pressão na saída de bola em cima de Claudio Bravo, a retomada da posse e a conclusão precisa de Vinícius Júnior após belíssima assistência de Antony. A necessidade do Chile sair mais para o ataque no segundo tempo abriu ainda mais espaços para Neymar e companhia nos proporcionarem belas trocas de passe desde o campo de defesa até a área chilena. E sempre que o camisa 10 pegava a bola, todo o time se posicionava de modo a abrir a defesa adversária e dar opção de passe. Principalmente com as infiltrações de Fred.
Philippe Coutinho entrou no lugar de Lucas Paquetá e Neymar se transformou definitivamente na referência móvel da Seleção Brasileira. O meio-campo do Aston Villa se juntou a Fred na armação das jogadas e deu ainda mais liberdade para que Antony e Vinícius Júnior atacassem a área adversária em diagonal. Aliás, é preciso dizer que o gol do jogador do Real Madrid parece ter tirado um caminhão de suas costas. “Vini Malvadeza” parecia mais leve e mais solto quando recebia a bola na esquerda. Ao invés de abaixar a cabeça e tentar o drible, o camisa 20 da Seleção Brasileira distribuiu ótimos passes para os companheiros de equipe. Como o que resultou na penalidade sofrida por Neymar ainda no primeiro tempo.
Mas a grande verdade é que todos participam das jogadas de ataque na Seleção Brasileira. Isso porque a estratégia de Tite não se limita apenas às trocas de passe sem objetividade no campo de defesa. Os jogadores têm autorização para fazer lançamentos longos e ligações diretas quando o contexto da partida o permite. O gol de Philippe Coutinho (em penalidade duvidosa sofrida por Antony) nasceu de um lançamento de Marquinhos para o ataque num momento em que o Chile manteve suas linhas em bloco médio sem pressionar a última linha. E dar espaço para que os defensores brasileiros possam fazer passes longos é brincar com o perigo. Ainda mais sabendo da qualidade de cada um deles com a bola no pé.
Tite aproveitou a ampla vantagem no placar para dar minutos a jogadores que vinham pedindo passagem. Fabinho, Bruno Guimarães, Gabriel Martinelli e Richarlison foram para o jogo e mantiveram o nível alto de intensidade nas trocas de passe e na movimentação ofensiva nesse restante de segunda etapa. O “Pombo” ainda marcaria o quarto gol da Seleção Brasileira (aos 45 minutos do segundo tempo) após mais uma jogada trabalhada com muita precisão por quase todo o time. E vale aqui notar toda a dinâmica proporcionada pelos jogadores nesse restante de partida no Maracanã. Gabriel Martinelli abria o campo pela esquerda, Neymar vinha mais por dentro e Philippe Coutinho se revezava com Richarlison na direita e mais por dentro. Fato é que a Seleção Brasileira tem um modelo de jogo muito sólido e muito bem executado.
A goleada sobre o Chile e várias outras atuações do escrete canarinho na temporada provam que a equipe está sim entre as melhores do mundo e que o trabalho de Tite merece respeito e reconhecimento ainda que não seja o preferido por todos. Ainda há aqueles que argumentam que não é possível provar que a Seleção Brasileira é sim um time forte por conta da falta de testes contra europeus e africanos. E ainda existem os “negacionistas da bola” que preferem enxergar o jogo através de análises preconceituosas e até desonestas (por conta dos mais diferentes motivos). Só que a realidade (sempre implacável e impiedosa) nos mostra que o Brasil sim está no nível das melhores seleções do planeta e que o escrete comandado por Tite possui tudo aquilo que é necessário para ir bem na próxima Copa do Mundo. Mesmo com a chuva de críticas.
Ao mesmo tempo, resumir os bons resultados da Seleção Brasileira apenas ao talento individual de cada jogador é fechar os olhos para aquilo que o campo tem nos mostrado há meses. O Brasil tem sim um trabalho consolidado e um grupo extremamente consistente e versátil. E mesmo que ninguém possa (nem este que escreve) possa garantir que ela será campeã no Catar, fato é que a equipe comandada por Tite vai competir. E muito.