Poucos treinadores podem bater no peito e falar que foram capazes de parar o rolo compressor chamado Manchester City. O francês Patrick Vieira (aquele mesmo campeão da Copa de 1998 e grande ídolo do Arsenal nos anos 2000) é um deles. O empate sem gols entre o seu Crystal Palace contra o escrete comandado por Pep Guardiola nos apresentou uma equipe muito bem coordenada defensivamente e muito ciente de suas limitações técnicas e táticas. O empate sem gols em partida disputada nesta segunda-feira (14) no Selhurst Park também foi determinante para que a Premier League ficasse ainda mais embolada na disputa pelo título. O Manchester City ainda lidera a competição, mas o Liverpool diminuiu a distância para quatro pontos de diferença e ainda tem um jogo a menos.
Dependendo do que aconteça na sequência do “Inglesão”, será muito possível afirmar que o Crystal Palace interferiu diretamente na briga pela liderança, já que o time de Patrick Vieira já pode ostentar a marca de ser o único que não levou gols dos Citzens nessa temporada. No primeiro turno, as Águias do sul de Londres venceram a equipe de Pep Guardiola por 2 a 0 jogando em Manchester. E nesta segunda-feira (14), o técnico francês apostou num 4-2-3-1/4-3-3 que ganhava bastante compactação com os pontas Zaha e Olise fechando os lados do campo. Por mais que Bernardo Silva, De Bruyne, Mahrez, Grealish e Foden se movimentassem na frente, ainda faltava capricho (e um pouco de sorte) nas conclusões a gol. O goleiro Guaita e a trave salvaram o Crystal Palace no primeiro tempo.

Formação inicial das duas equipes no Selhurst Park. Patrick Vieira fechou a entrada da área do Crystal Palace e Pep Guardiola apostou num 4-3-3 com referência móvel no ataque.
O mais interessante é que o Crystal Palace não ficou apenas se defendendo. A equipe londrina tentou encaixar alguns contra-ataques apostando na transição rápida para Mateta, Zaha, Olise e Gallagher às costas de Bernardo Silva, De Bruyne e explorando bem o espaço que aparecia nas laterais do Manchester City com as subidas de Walker e João Cancelo (o lateral-armador do time de Pep Guardiola). O próprio Pep Guardiola reconheceu que o time de Patrick Vieira poderia ter vencido e que criou chances para isso na entrevista coletiva concedida após a partida. Ao mesmo tempo, também afirmou que sua equipe poderia ter aproveitado melhor as chances que teve. Principalmente no primeiro tempo, quando Foden e Laporte desperdiçaram grandes oportunidades de balançar as redes de Guaita.
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Mas também precisamos reconhecer os méritos do Crystal Palace e do sólido sistema defensivo montado por Patrick Vieira. Segurar o ímpeto ofensivo do Manchester City é para poucos. Principalmente quando se tem um Kevin de Bruyne distribuindo passes e encontrando espaços milimétricos no meio dos zagueiros adversários. Ou aparecendo às costas da última linha como um ponta pela esquerda. Os zagueiros Joachim Andersen e Marc Guéhi tiveram trabalho dobrado com a intensa movimentação de Foden, Grealish e Mahrez no terço final e os meio-campistas Kouyaté, Gallagher e Schlupp cobriam bem os espaços dos laterals Clyne e Mitchell. Tudo era feito com muita compactação na frente da área e com o claro objetivo de pelo menos atrapalhar a vida do Manchester City. Acabou dando certo.
🦅 Crystal Palace are just the second team to stop Pep Guardiola’s Man City side from scoring both home and away in a #PL season, after Man Utd in 2020/21 #CRYMCI pic.twitter.com/EvrlrjTxNz
— Premier League (@premierleague) March 15, 2022
Por outro lado, o segundo tempo do Manchester City (embora De Bruyne tenha acertado a trave direita de Guaita) foi marcado mais pela ocupação do campo de ataque do que por conclusões a gol. Isso porque Patrick Vieira fechou ainda mais Crystal Palace com as entradas de Jordan Awey e Odsonne Édouard nos lugares de Olise e Mateta. Com o veloz Zaha puxando os contra-ataques partindo da esquerda para dentro e Gallagher aparecendo mais no campo ofensivo, o time londrino chegou a dar alguns sustos em Ederson em algumas escapadas pelos lados do campo. O volume ofensivo do Manchester City ainda era bem alto, mas a confiança dos jogadores ia diminuindo conforme o tempo ia passando. Acabou que o empate sem gols foi o resultado mais justo diante de tudo o que se viu no Selhurst Park.

Patrick Vieira mandou Jordan Awey e Odsonne Édouard para o jogo e deixou Zaha mais à frente. Já Pep Guardiola não fez nenhuma modificação no Manchester City.
Não é todo dia que uma equipe consegue passar uma temporada inteira sem levar gols do poderoso Manchester City de Pep Guardiola. É sim uma marca que merece ser celebrada e exaltada por todos aqueles que acompanham o futebol internacional e apreciam o trabalho tático. Vale destacar que essa análise não é uma “ode à retranca”, mas sim o reconhecimento do sucesso de uma estratégia. Patrick Vieira sabia muito bem que sua equipe não tinha condições de encarar os Citzens de peito aberto e organizou seus jogadores de modo a bloquear as linhas de passe e a movimentação constante na frente da área. Por mais que a trave e o goleiro Guaita tenham salvado o Crystal Palace, o que se viu nesta segunda-feira (14) foi um time que sofreu para criar jogadas de ataque e impor seu estilo.
Acabou que o Crystal Palace pode ter influenciado diretamente na briga pelo título da Premier League. O Manchester City segue na liderança, mas viu a diferença para o Liverpool diminuir para quatro pontos (sendo que os Reds têm um jogo a menos). Se o time de Jürgen Klopp vencer o Arsenal na próxima quinta-feira (17), a distância cai para apenas um ponto. Fazia bastante tempo que uma retranca não fazia tanto estrago na vida do escrete comandado por Pep Guardiola.