Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas do treinador para os jogos contra Chile e Bolívia pelas Eliminatórias da Copa do Mundo
Há como se discordar de Tite sobre várias coisas. O futebol é democrático e permite essa troca de ideias e debates até um pouco mais acalorados na imprensa esportiva (ainda que a linha do respeito e da educação venha sendo ultrapassada com certa frequência nesses últimos meses). Mas está bastante claro para este que escreve que o treinador da Seleção Brasileira tem se pautado pela coerência. E a lista de convocados para os jogos contra Bolívia e Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo prova essa tese. Na prática, Tite optou por manter a espinha dorsal do escrete canarinho e fez apostas interessantes. Principalmente na lembrança de Gabriel Martinelli e Gabriel Magalhães, ambos jogadores do Arsenal.
É verdade que a lista ainda recebeu críticas. As ausências de jogadores como Gabigol, Hulk, Pedro e Raphael Veiga foram contestadas por boa parte dos colegas e a convocação do volante Arthur (da Juventus) foi talvez um dos pontos mais discutidos da entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira (11), na sede da CBF. Mesmo assim, precisamos reconhecer que o grupo chamado por Tite já fez muito com a camisa da Seleção Brasileira em partidas recentes e que sua equipe é muito difícil de ser batida. São realmente os homens de confiança do treinador do escrete canarinho e todos fizeram por merecer mais uma chance. Cabe a nós fazer as análises e entender o que se passa na cabeça do comandante da equipe nacional.
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A boa fase de Gabriel Martinelli já havia sido assunto desta coluna no mês de dezembro do ano passado, quando o atacante do Arsenal foi o grande nome da vitória por 4 a 1 sobre o Leeds United de Raphinha e foi apontado por este que escreve como opção interessante para Tite pensar sua equipe. O camisa 35 dos Gunners é o típico ponta que pisa na área para finalizar a gol e ainda tem fôlego para ajudar o sistema defensivo. No Arsenal, Gabriel Martinelli joga mais pelo lado esquerdo do 4-2-3-1/4-2-4 de Mikel Arteta e já arrancou elogios do treinador espanhol mais de uma vez nessa temporada. A sua presença na Seleção Brasileira era mais do que natural. Era até certo ponto esperada diante das opções de Tite.
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Talvez a grande discussão dessa lista gire em torno do nome de Arthur. O volante da Juventus surgiu como grande aposta para o futuro no Grêmio de Renato Gaúcho campeão da Libertadores em 2017, mas acabou fora da lista final de Tite para a Copa do Mundo de 2018. A sua ida para o Barcelona apontava para a subida de patamar definitiva do jogador num time que contava com Messi, Piqué, Busquets e Jordi Alba, mas o que se viu foi um certo deslumbramento com o futebol europeu e a sua consequente queda de rendimento. Sua adaptação na Juventus acabou prejudicada por uma lesão grave que exigiu intervenção cirúrgica e um longo tempo afastado dos gramados. Houve quem dissesse que Arthur estava acabado para o futebol.
A partir do momento em que se recuperou, Arthur começou a ganhar minutos e começou a ser mais utilizado. Foi titular nas últimas três partidas da Juventus, vem mostrando evolução técnica e tática e pelo menos dá a impressão de estar recuperando a forma antiga. Este que escreve entende bem a bronca de todos com relação à escolha de Tite justamente por se tratar de um jogador que ainda está longe do nível ideal. Por outro lado, Arthur é o tipo de volante que entrega muito controle de bola no meio-campo, capacidade de sair da pressão adversária e um jogo cada vez mais vertical. É sim uma surpresa na lista de convocados da Seleção Brasileira. Mas está muito longe de ser um absurdo completo. Ainda mais diante de sua evolução no futebol italiano.
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Ainda há o retorno de Richarlison à Seleção Brasileira, mas isso não chega a ser uma grande surpresa diante do que o atacante do Everton já entregou na equipe. Fora isso, a lista segue uma linha bastante coerente dentro do trabalho desenvolvido por Tite. Sabe-se que ele já utilizou o 4-1-4-1, o 4-3-3, o 4-2-3-1 e até mesmo o 4-2-4. Sempre com linhas compactadas, uma organização defensiva quase obsessiva e a soma de talentos variados na frente. Há como se pensar num time que tenha Philippe Coutinho junto de Fred e Casemiro no meio-campo, Neymar como “falso nove”, Lucas Paquetá pela esquerda (para dar suporte às subidas de Alex Telles) e Raphinha partindo em direção ao gol adversário no espaço vazio. Podemos discordar de Tite em muitas de suas escolhas para a Seleção Brasileira. Mas precisamos reconhecer que o time abaixo é sim muito forte.
Richarlison parece ter largado na frente por uma vaga no comando de ataque junto de Neymar no 4-2-4 utilizado mais de uma vez por Tite na Seleção Brasileira. Ao mesmo tempo, o retorno de Danilo à Seleção Brasileira pode dar mais equilíbrio ao sistema defensivo diante do estilo mais ofensivo de Alex Telles e Guilherme Arana. E ainda há Vinícius Júnior e Antony, jogadores insinuantes e que não têm medo de encarar adversários mais fortes. E isso sem falar em Bruno Guimarães, nome que já merecia ser lembrado há bastante tempo. Conforme mencionado anteriormente, há uma linha de raciocínio muito clara e uma espinha dorsal definida. Faltam apenas preencher algumas lacunas e escolher os jogadores com as características certas para a disputa da Copa do Mundo do Catar.
As escolhas de Tite para as partidas contra Chile e Bolívia são sim coerentes diante de tudo o que vimos nos últimos jogos. E diante do contexto que antecede a disputa do Mundial, vale mais assentar as bases com seus jogadores de confiança do que ouvir os apelos de parte da imprensa por este ou aquele nome mais badalado pelo torcedor. Podemos discordar dos nomes escolhidos e da maneira como o treinador pensa a sua Seleção Brasileira. Mas não dá pra dizer que esse time não é competitivo.
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