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Seleção Feminina controla o nervosismo, coloca a bola no chão e faz história no Campeonato Sul-Americano Sub-17

Por Luiz Ferreira em 20/03/2022 03:38 - Atualizado há 10 meses

Reprodução / Staff Images Woman / CONMEBOL

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Simone Jatobá na vitória sobre a forte equipe da Colômbia neste sábado (19)

Sete vitórias em sete jogos, 33 gols marcados (média de 4,71 por partida), nenhum sofrido (!!!) e atuações que encheram os olhos nesses últimos dias. A campanha da Seleção Feminina no Campeonato Sul-Americano Sub-17 fala por si só. A superioridade técnica e tática do escrete comandado por Simone Jatobá só foi realmente colocada à prova na partida contra a ótima equipe da Colômbia neste sábado (19). E não é exagero afirmar que o Estádio Charrúa (em Montevidéu) serviu de palco para que uma série de jogadoras promissoras como Aline Gomes, Jhonson, Linda Caicedo, Karla Torres, Carol, Ana Júlia e várias outras mostrassem seu talento. A conquista do Campeonato Sul-Americano Sub-17 (o quarto da história da nossa Seleção Feminina) nos deixa a certeza de que o futuro nos reserva ótimas notícias.

A equipe comandada por Simone Jatobá finalmente teve seu sistema defensivo testado de verdade contra a veloz e bem organizada Colômbia. E nesse ponto, também é preciso destacar o nervosismo do escrete canarinho nos primeiros minutos da partida deste sábado (19). A bola parecia queimar os pés de Carol, Aline Gomes e companhia e todo o setor de meio-campo não conseguia trocar mais de três passes sem que pelo menos duas colombianas fizessem a pressão em cima das nossas atletas. Até retomar o controle da partida (e dos nervos), a Seleção Feminina viu suas adversárias desperdiçarem pelo menos duas grandes chances de balançar as redes. Uma com Linda Caicedo e outra com Gabriela Rodríguez.

O gol colombiano só não saiu porque a goleira Elu fez duas grandes defesas e evitou que a Seleção Feminina fosse vazada pela primeira vez no Campeonato Sul-Americano. Mesmo assim, as dificuldades que o escrete brasileiro encontrava para trabalhar mais a bola eram evidentes e só facilitavam a vida das suas adversárias. Sabendo que o time de Simone Jatobá precisa de espaço e intensidade para trabalhar a bola e fazê-la chegar na frente, o técnico Carlos Paniagua apostou em ligações diretas e num jogo mais físico. As bolas longas para o ataque eram a principal arma ofensiva do escrete colombiano. Yessica Muñoz fazia a popular “casquinha” e Linda Caicedo atacava o espaço atrás da última linha brasileira.

Brasil e Colômbia iniciaram a partida deste sábado no 4-2-3-1 com pequenas variações. Mas quem começou melhor a partida foi o escrete de Carlos Paniagua com as bolas longas para Linda Caicedo nas costas da defesa brasileira. Foto: Reprodução / SPORTV

A grande verdade é que a Seleção Feminina só começou a impor seu estilo de jogo no final da primeira etapa, quando Simone Jatobá corrigiu o posicionamento defensivo e tirou o espaço de circulação da bola entre as linhas brasileiras. Com Dudinha e Aline Gomes bem abertas, Jhonson arrastando a defesa adversária para trás e as laterais Luana e Kedima se transformando em armadoras, o escrete canarinho foi ocupando o campo de ataque e reequilibrando um pouco as ações. Foi nesse momento que o futebol de Carol começou a aparecer mais. E a camisa 10 foi muito importante para dar a cadência às jogadas de ataque e tirar a velocidade das jogadas quando se fazia necessário. Ao mesmo tempo, Lara e Ana Júlia passaram a pisar na área colombiana com mais frequência e arriscavam finalizações de média e longa distância.

Aline Gomes e Dudinha abriam o campo, Jhonson arrastava a zaga colombiana para trás e Carol aparecia na intermediária no espaço aberto pela movimentação ofensiva brasileira. A Seleção Feminina foi se encontrando aos poucos no jogo. Foto: Reprodução / SPORTV

A Seleção Feminina seguiu sofrendo com as bolas longas para Linda Caicedo e Karla Torres. E nesse ponto, o problema nem estava tanto na última linha, mas na maneira como o meio-campo brasileiro permitia que as jogadoras colombianas encontrassem as atacantes na intermediária ofensiva. Na prática, o Brasil só conseguiu reequilibrar a partida quando fez a Colômbia provar do próprio remédio. Simone Jatobá agiu mais uma vez e posicionou Dudinha e Aline Gomes de modo a explorar o espaço às costas das laterais colombianas. Ao invés das ligações diretas, o popular passe para a frente e a entrada das duas ponteiras brasileiras em diagonal na direção do gol de Luisa Agudelo. Mas ainda faltava alguma coisa.

Foi aí que a treinadora da Seleção Feminina fez as mudanças que mudaram o panorama da partida. Lara e Jhonson deixaram o jogo para as entradas de Rebeca e Rhaissa (respectivamente). Ao invés de um 4-2-3-1, o Brasil passou a jogar em algo mais parecido com um 4-3-3 com uma atacante de mais movimentação e mais uma armadora jogando ao lado de Carol no meio-campo brasileiro. Tudo isso foi fundamental para que os lançamentos para Aline Gomes e Dudinha pudessem surtir o efeito desejado pela treinadora. Era o fôlego que faltava no escrete canarinho e a dose certa de intensidade para superar uma Colômbia que já dava alguns sinais de desgaste por conta da alta exigência da partida deste sábado (19).

Aline Gomes e Dudinha passaram a atacar as costas da última linha colombiana e fizeram suas adversárias provarem do próprio remédio no segundo tempo. As entradas de Rebeca e Rhaissa deram mais movimentação ao escrete canarinho. Foto: Reprodução / SPORTV

Mas ainda faltava o gol. E ele veio aos 30 minutos do segundo tempo e num momento em que a Colômbia ensaiava mais uma “blitz” na frente da área brasileira. Rebeca roubou a bola ainda no meio-campo e partiu na direção do ataque. Rhaissa saiu da esquerda para dentro e atacou o espaço às costas da (desarrumada) defesa colombiana. A camisa 19 aproveitou o vacilo da zagueira, entrou na área e tocou na saída da goleira Luisa Agudelo. Era o gol do título e o prêmio para o esforço de todo um time extremamente organizado e comprometido com os conceitos da sua treinadora. E a goleira Elu ainda salvou a Seleção Feminina com mais duas grandes defesas. Uma em chute de Gabriela Rodríguez de fora da área e outra em finalização de Karla Torres na marca do pênalti após novo vacilo da defesa do escrete canarinho.

O título do Campeonato Sul-Americano Sub-17 (o quarto da história da Seleção Feminina em toda a história) é o prêmio para todo o trabalho desenvolvido por Simone Jatobá. Aliás, mesmo com a campanha histórica na competição, vale lembrar que a treinadora brasileira sempre deixou claro nas suas entrevistas que ainda há muito a evoluir. Ao mesmo tempo, a preparação da equipe não foi das melhores por conta de uma série de fatores que vão desde a pandemia de COVID-19 e chegando na falta de amistosos de preparação para o torneio no Uruguai. E apesar da atuação abaixo da média contra a Colômbia, ficou bem claro que o escrete canarinho melhorou bastante com as mexidas de Simone Jatobá. As dificuldades da preparação não impediram que uma linha de trabalho fosse desenvolvida e muito bem executada.

Este que escreve espera agora que a preparação para a Copa do Mundo da Índia esteja de acordo com a capacidade enorme desse elenco e dessa comissão técnica. A Seleção Feminina tem condições de ir longe no Mundial da categoria se a CBF tratar a modalidade a seriedade que ela merece. Todo o elenco brasileiro já provou sua qualidade com a conquista do Campeonato Sul-Americano. Falta o passo seguinte, a subida definitiva de patamar.

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