Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Antonio “El Turco” Mohamed e Paulo Pezzolano e todas as polêmicas da partida
Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que, mesmo sendo bastante superior na partida deste domingo (6), o Atlético-MG sofreu mais do que deveria para vencer o clássico contra o Cruzeiro. Principalmente por conta das inúmeras chances desperdiçadas durante os noventa e poucos minutos e pelo claro nervosismo dos jogadores em determinados lances. Na prática, a equipe comandada por Antonio “El Turco” Mohamed precisou recorrer ao banco de reservas para superar a retranca do seu maior rival e conquistar um resultado importantíssimo na briga pelo título estadual. Ao mesmo tempo, Paulo Pezzolano viu sua equipe equilibrar o duelo contra o atual melhor time do Brasil e dar esperanças de que a atual temporada pode ser muito melhor do que a do ano passado. Capítulos de um clássico disputadíssimo entre dois clubes com ambições diferentes no ano.
Certo é que o Atlético-MG conseguiu dominar os espaços no Mineirão e encurralou o time do Cruzeiro no seu campo. Não foi por acaso que o goleiro Rafael Cabral foi um dos melhores em campo do lado celeste e que o ataque ficou tão isolado do resto da equipe. “El Turco” Mohamed e Paulo Pezzolano apostaram em formações semelhantes, mas com dinâmicas um pouco diferentes. O Galo jogava numa espécie de 4-2-3-1/4-3-3 com Jair se juntando a Nacho Fenández, Keno abrindo o corredor para Guilherme Arana e Allan distribuindo o jogo desde o campo defensivo. Já a Raposa também se organizava num 4-3-3, mas tinha Pedro Castro mais próximo de Willian Oliveira, Fernando Canesin tentando fazer a ligação do meio com o ataque e Vítor Roque e Daniel Júnior mais recuados. Na frente, Edu ficava mais isolado e brigava contra Nathan Silva e Godín por uma bola que acabou não vindo.
Mesmo se tratando de um dos clássicos mais disputados do país, precisamos reconhecer que o Atlético-MG possui um time muito superior ao do Cruzeiro em qualidade individual. E isso se refletiu nas chances criadas ao longo da partida (ver os números do Footstas mais abaixo). Keno, Jair, Hulk e Savarino desperdiçaram boas oportunidades logo nos primeiros minutos da partida no Mineirão, mas a impressão que ficava era a de que o Galo parecia disperso e nervoso demais em determinados momentos. E o Cruzeiro, por sua vez, aproveitou essa “pilha” para controlar as investidas do seu grande rival após os 20 minutos do primeiro tempo. E para piorar ainda mais a situação do escrete comandado por Antonio “El Turco” Mohamed, o experiente Mariano (justo um dos jogadores que auxiliava Allan na saída de bola) saiu do jogo por conta de uma lesão na coxa.
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O final dos primeiros 45 minutos acabou nos mostrando um Cruzeiro mais ligado e com mais posse de bola, mas o Atlético-MG seguia levando mais perigo com as suas investidas. Vale destacar a atuação de Rômulo e Oliveira pelo lado direito da defesa celeste na contenção de Guilherme Arana, Keno e Nacho Fernández. Na volta do intervalo, vimos uma Raposa marcando mais alto e criando problemas na saída de bola atleticana (Vítor Roque quase abriu o placar após erro de passe de Godín). E por mais que o Galo ainda levasse mais perigo com seu jogo vertical e intenso nas transições, a impressão que ficava era a de que a Raposa estava conseguindo controlar um pouco mais essa pressão.
Por outro lado, também é interessante notar que o gol de Vítor Roque saiu apenas cinco minutos depois que “El Turco” Mohamed atendeu aos pedidos da torcida e mandou Vargas e Ademir para o jogo nos lugares de Keno e Savarino respectivamente. E nesse ponto vale destacar muito toda a construção do lance desde o goleiro Rafael Cabral, passando por Fernando Canesin e chegando até Bruno Jose (que substituiu o atacante Edu após choque do camisa 99 com o goleiro Everson) às costas de Guilherme Arana. No entanto, este que escreve viu uma certa precipitação de Paulo Pezzolano nas substituições e na mudança de postura logo depois que sua equipe abriu o placar.
https://twitter.com/Footstats/status/1500607919003471874
Isso porque Pedro Castro e Daniel Júnior deixaram o jogo para as entradas de Machado e João Paulo. Com isso, as linhas do Cruzeiro foram sendo arrastadas pelo ímpeto ofensivo do seu adversário na busca pelo gol de empate que veio em penalidade bastante duvidosa sofrida e convertida por Hulk aos quarenta minutos do segundo tempo. Pezzolano deu ainda mais campo ao seu adversário quando mandou Bidu e Geovane para o jogo numa tentativa de se montar uma espécie de “ferrolho” na frente da área de Rafael Cabral, mas o Galo seguia ameaçando e martelando a defesa da Raposa. A persistência do time de Antonio Mohamed foi premiada aos 51 minutos do segundo tempo com Guilherme Arana encontrando Ademir atacando as costas da zaga cruzeirense dentro da área. O camisa 19 teve apenas o trabalho de deslocar o goleiro celeste com um leve toque e sair para o abraço.
Por mais que o Atlético-MG tenha realmente um time bastante superior, a grande verdade é que o Cruzeiro deixou boas impressões no clássico. A saída de Edu no segundo tempo fez com que Paulo Pezzolano perdesse a sua referência ofensiva, mas Vítor Roque foi bem se revezando com Bruno José por dentro e pela direita. Ao mesmo tempo, Fernando Canesin mostrou que pode ser útil no 4-3-3 preferido do treinador uruguaio. Faltou aquela dose de ousadia e a concentração necessária para afastar seu forte adversário da sua área e garantir ao menos um ponto no clássico. Sobre o Galo, a impressão que fica é a de que faltou um pouco de controle dos nervos em determinados momentos. Além disso, a ausência de quem desse a pausa, isto é, quem cadenciasse o jogo no meio-campo foi bem sentida. Por mais que o estilo seja mais ofensivo, o time tende a abrir espaços na sua defesa.
É possível sim afirmar que a vitória do Atlético-MG sobre o Cruzeiro era um resultado esperado diante da qualidade individual dos dois elencos. Mesmo assim, a impressão deixada pela Raposa contra um oponente claramente superior foi positiva. Do outro lado, o Galo fez aquilo que se esperava dele, mas encontrou mais dificuldades do que o normal e se complicou em lances até certo ponto simples por conta do excesso de nervosismo. Sinais de que a temporada ainda pode nos reservar algumas surpresas nos próximos meses.