Palmeiras mostra a maturidade que não teve em 2021 e supera o Al Ahly sem abrir mão do seu estilo de jogo
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos comandados de Abel Ferreira e a classificação para o Mundial de Clubes da FIFA
“Cabeça fria” para manter o foco dentro de campo, executar aquilo que foi planejado nos treinamentos e não cair nas armadilhas do seu adversário. “Coração quente” para se entregar de maneira completa na busca por aquele que pode ser o título mais importante da história do clube. O Palmeiras seguiu à risca o lema tão repetido por Abel Ferreira na vitória por 2 a 0 sobre o Al Ahyl nesta terça-feira (8) para se garantir na decisão do Mundial de Clubes da FIFA. Após a frustração de 2021 (quando a equipe alviverde terminou a competição no quarto lugar), Dudu, Raphael Veiga, Luan e companhia teve maturidade, concentração e muita inspiração para fazer o escrete comandado por Pitso Mosimane provar do próprio veneno e conquistar a vaga na grande final. E isso tudo sem abrir mão do seu estilo pragmático, porém extremamente eficiente.
ESTAMOS NA FINAL! 💪
Com gols de Raphael Veiga e Dudu, vencemos o Al Ahly (EGY) e estamos na decisão do Mundial de Clubes! VAMOS JUNTOS PELO BI! 👊#AvantiPalestra #PALxAHL#JuntosPeloBi pic.twitter.com/7xaIskWW6E— SE Palmeiras (@Palmeiras) February 8, 2022
Quem viu o jogo contra o Monterrey percebeu que o Al Ahly é sim uma equipe muito bem organizada e que estava ciente de suas limitações. Não havia vergonha nenhuma em recuar suas linhas até a frente da área e atrair os jogadores adversários para surpreender nas transições ofensivas em altíssima velocidade (apesar da clara falta de aprimoramento da conclusão das jogadas). Com o tempo, o escrete mexicano foi perdendo a paciência e apelando para bolas longas e cruzamentos para a área sem trabalhar mais a posse e encontrar espaços. Tudo feito meio que na base do “abafa”. Abel Ferreira percebeu isso e traçou uma estratégia interessantíssima para o Palmeiras nesta terça-feira (8).
Ao invés de pressionar o Al Ahly no campo do adversário e forçar as jogadas em cima da linha de cinco montada por Pitso Mosimane, o Palmeiras rodou a bola com paciência entre Gustavo Gómez, Luan, Piquerez, Danilo e Zé Rafael até que a brecha na defesa adversária aparecesse para acionar o trio ofensivo. Enquanto isso não acontecia, a ordem de Abel Ferreira era clara: manter o posicionamento para não sofrer o contra-ataque e retomar logo a posse da bola. Tudo para que o escrete egípcio não tivesse campo para atacar. Mais do que nunca, o Palmeiras foi fiel ao seu estilo e fez aquilo que precisava fazer sem se importar com os críticos. O importante era o resultado e nada mais.
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A impressão que ficava era a de que o Al Ahly ia perdendo a paciência conforme o tempo ia passando. As perseguições mais curtas características da estratégia defensiva de Pitso Mosimane mais abriam espaços na defesa do que incomodavam os jogadores do Palmeiras. Ao mesmo tempo, o 5-4-1/3-4-2-1 já não conseguia fechar tão bem os espaços como no jogo contra o Monterrey. Do outro lado, Abel Ferreira apostava no seu esquema híbrido: no papel, um 4-3-3; na prática, um 3-4-3 com Raphael Veiga, Rony e Dudu se movimentando demais no terço final, PIquerez um pouco mais contido pelo lado esquerdo e quase alinhado a Gustavo Gómez e Luan, Marcos Rocha mais solto, Danilo e Zé Rafael protegendo e Gustavo Scarpa cumprindo função tática importantíssima pela esquerda. Não era apenas um meia ou mais um volante. O camisa 14 era tudo isso e muito mais.
De acordo com os números do SofaScore, o Al Ahly terminou o jogo com 58% de posse de bola e com 14 finalizações a gol, sendo que apenas cinco delas foram na direção do gol de Weverton. O Palmeiras teve 42% de posse e finalizou doze vezes. Dessas, quatro foram no alvo e duas balançaram as redes do goleiro Ali Lotfi. E tudo era feito dentro do planejamento de Abel Ferreira. Numa das primeiras vezes em que o escrete egípcio adiantou um pouco as suas linhas, o escrete alviverde respondeu de forma rápida e mortal. Bola de Gustavo Scarpa para Piquerez e dele para Danilo. O belíssimo passe vertical do camisa 28 achou Dudu que, por sua vez, acionou Raphael Veiga com um leve toque e o camisa 23 teve apenas o trabalho acertar o canto direito e correr para o abraço. A “cabeça fria” também era útil para aproveitar as (poucas) chances que apareceriam durante os noventa e poucos minutos (ou mais) de partida.
Logo no começo do segundo tempo, Dudu recebe passe de Raphael Veiga e acerta o ângulo. Podemos afirmar que a disputa tática entre Pitso Mosimane praticamente acabou aí, já que o Al Ahly perdeu a organização e passou a atacar de maneira mais aleatória. O único susto aconteceu na falha de Weverton no chute de Ahmed Hamdi Abdelkader. Por sorte, o atacante Mohamed Sherif estava impedido e o VAR agiu com precisão. Talvez o único susto sofrido numa atuação segura e marcada pela consolidação de um estilo próprio de jogo. Ainda mais com o cenário ao seu favor. E Abel Ferreira não teve vergonha nenhuma para recuar suas linhas e explorar o contra-ataque exatamente como o Al Ahly fez com o Monterrey. E isso tudo junto do lema do treinador. A “cabeça fria” para manter a concentração e o “coração quente” para manter a intensidade nos movimentos ofensivos e defensivos.
O que se viu no Estádio Al Nahyan foi uma boa amostra da maturidade que o elenco do Palmeiras adquiriu nos últimos meses. É possível não gostar o estilo e os conceitos trabalhados por Abel Ferreira. Mas é preciso reconhecer que todos compraram suas ideias e tentam executá-las com o máximo de perfeição possível. Fora a torcida palmeirense, que parece estar em nova lua de mel com o treinador português. Mesmo que o time esteja jogando no contra-ataque contra um oponente mais fraco (algo considerado crime hediondo e inafiançável por nove entre dez comentaristas da TV brasileira) ou apostando num pragmatismo quase radical para cansar seu adversário e aproveitar o primeiro piscar de olhos para encaixar o contra-ataque. Abel Ferreira coloca o Palmeiras na final do Mundial de Clubes da FIFA seguindo todos esses conceitos e uma filosofia bem clara.
Chelsea e Al Hilal fazem a segunda semifinal nesta quarta-feira (9) e a tendência é que o time inglês se classifique para a decisão num cenário que seria completamente favorável para o Palmeiras. Com muita moral no clube, Abel Ferreira pode implantar a estratégia que quiser. Tudo que for falado terá a chancela de torcedores, dirigentes e (principalmente) jogadores. A “cabeça fria” e o “coração quente” vão estar presentes. Afinal de contas, pra quê mexer em time que está ganhando?