Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do time de Fábio Carille e o discurso incoerente da diretoria do Corinthians
No dia 14 de dezembro do ano passado, este que escreve publicou aqui mesmo no TORCEDORES.COM algumas impressões sobre o trabalho de Sylvinho no Corinthians. Havia pontos negativos como a insistência numa formação e o apego excessivo a demasiados conceitos. Por outro lado, também era possível enxergar pontos positivos. Principalmente por conta dos reforços que chegaram ao clube e pela classificação para a fase de grupos da Libertadores. A derrota (justa) para o Santos de Fábio Carille nesta quarta-feira (2) foi suficiente para que a diretoria corintiana perdesse a convicção (?) no trabalho de Sylvinho depois de bancá-lo no final de 2021 e optasse por uma “correção da rota” (???) de acordo com o presidente Duilio Monteiro Alves. Por mais que o trabalho do agora ex-técnico do Timão tivesse problemas, demitir alguém com três partidas na temporada é algo bem difícil de entender.
Sylvinho não é mais o técnico do Corinthians.
⚔️ 43 jogos
✅ 16 vitórias
❌ 13 derrotas
📊 48.0% aproveitamento
⚽️ 42 gols marcados
🚫 40 gols sofridos
🛠 50 grandes chances
🔓 53 grandes chances cedidas
👟 365 chutes (165 no gol)
⚠️ 393 chutes (172 no gol)
📈 55% posse pic.twitter.com/JTreXigLnm— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) February 3, 2022
Isso porque pouco se observa o contexto da chegada de Sylvinho e a maneira como imprensa e torcida o trataram ao longo dos últimos meses. Além dos problemas táticos já levantados aqui neste espaço em outras ocasiões, havia uma clara má vontade com alguém que era diferente do perfil de treinador brasileiro. Mas é preciso deixar claro que o problema não é a demissão de Sylvinho em si, mas o momento e a maneira como ela aconteceu. E principalmente o fato de alguém ter a “convicção” de que o trabalho era bom o suficiente para que o treinador permanecesse no comando do Corinthians em 2022. Isso, de onde eu vim, tem nome: AMADORISMO. Inclusive de boa parte da imprensa que ajudou a apagar o fogo com gasolina.
Vale lembrar que Sylvinho fez toda a pré-temporada com o Corinthians. Implementou conceitos, treinou os jogadores e expôs sua filosofia de jogo. E isso num período de apenas dez dias e com casos de COVID-19 no elenco. Embora isso não apague os problemas que sua equipe tinha (e vamos ver isso mais à frente), sua demissão escancara o erro de avaliação da diretoria corintiana. Se o objetivo era uma “correção da rota”, por que apostaram na manutenção de Sylvinho no cargo? Não era melhor ter começado o ano com um técnico novo e com tempo para que ele implementasse sua maneira de enxergar o futebol? Difícil não ver nessa demissão como uma maneira de jogar as próprias decisões equivocadas para debaixo do tapete.
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Sobre o jogo contra o Santos em si, é preciso dizer também que o Corinthians teve atuação razoável até sofrer o gol de empate. Sylvinho repetiu seu 4-1-4-1 costumeiro com Du Queiroz na frente da zaga, Duilio Monteiro Alves e Roger Guedes pelos lados e Gustavo Mantuan no comando de ataque. O Timão tentava executar as triangulações e chegava com força na área principalmente através dos volantes Renato Augusto e Giuliano. Do outro lado, Fábio Carille mudou a formação do Santos para adaptar Ricardo Goulart na sua equipe. Ao invés do 3-4-2-1, um 4-4-1-1 que liberava o camisa dez das obrigações defensivas e fechava muito bem a entrada da área. E quando o escrete de Sylvinho conseguia superar a marcação e pisar na área, o ótimo goleiro João Paulo estava lá para salvar a pátria santista. Apesar do primeiro tempo sem gols, o Corinthians teve as melhores chances e foi mais agressivo no ataque.
Veio o segundo tempo e Sylvinho teve a leitura de jogo óbvia: sua equipe precisava de profundidade e de alguém que conseguisse fazer segurar os zagueiros Eduardo Bauermann e Kaiky. E esse alguém era Jô. O camisa 77 entrou no lugar de Mantuan e mudou o jeito de jogar do Corinthians ao prender a dupla de zaga adversária e abrir espaços no terço final. Com isso, Renato Augusto e Giuliano ganharam mais campo para atacar e criar as jogadas num Timão mais envolvente e mais vertical. Enquanto isso, o Santos tentava entender como seu adversário estava arrumado em campo e buscava fechar a entrada da sua área. Foi nesse momento o Corinthians construiu a jogada do primeiro gol da partida desta quarta-feira (2).
Gabriel Pereira recebeu a bola pela direita e viu Jô se aproximar. Enquanto isso, Fagner atacava o espaço às costas de Felipe Jonatan. De GP para Jô e de Jô para Fagner. A triangulação saiu e o camisa 23 fez o cruzamento rasteiro para a área buscando Giuliano. Na sobra, o camisa 77 chutou sem defesa para João Paulo. Era o tipo do gol que poderia dar uma certa tranquilidade ao time do Corinthians. Ainda mais sabendo que o Santos teria que se expor para conseguir o empate e, consequentemente, abrir espaços no seu campo. Mas que se viu na Neo Química Arena foi exatamente o contrário. Difícil não notar no escrete de Sylvinho uma certa passividade depois que Jô abriu o placar aos seis minutos do segundo tempo.
Fábio Carille respondeu com as entradas de Lucas Pires e Marcos Guilherme nos lugares de Felipe Jonatan e Lucas Braga. Sem modificar a estrutura do seu 4-4-1-1, o treinador do Santos conseguiu explorar uma das grandes deficiências do time do Corinthians: a recomposição defensiva. Com dois jogadores descansados em campo, o Peixe conseguiu aumentar a intensidade na marcação e explorar esse problema (crônico) do escrete comandado por Sylvinho. A jogada do primeiro gol de Marcos Leonardo nasceu de bola roubada por Lucas Pires e de passe em profundidade de Marcos Guilherme para o camisa 9 se lançar às costas de João Victor e Fagner. O posicionamento dos defensores do Corinthians no lance só facilitaram a vida do atacante santista, que entrou na área, se livrou da marcação e tocou na saída de Matheus Donelli. O belo gol de Marcos Leonardo simplesmente destruiu o time de Sylvinho.
O que já estava ruim ficou ainda pior quando João Victor (que estava em noite para ser esquecida) derrubou Marcos Leonardo dentro da área no lance que originou o gol da virada do Santos. Vimos um Corinthians passivo e sem ímpeto para tentar reagir. Ao mesmo tempo, a situação acabou ficando insustentável. Natural. Não será a primeira e nem a última vez em que coisas desse tipo acontecem. Por outro lado, isso tudo poderia ter sido evitado se a diretoria tivesse agido com firmeza no final de 2021. Por mais que a demissão de Sylvinho no final do Brasileirão pudesse ter gerado controvérsia, o Corinthians estaria hoje com um trabalho novo em curso e se preparando para as principais competições da temporada com uma nova filosofia de jogo e novos conceitos. Mais uma vez: o que incomoda não é a saída em si. É a maneira como as coisas foram conduzidas e o discurso incoerente de “correção da rota”.
Na prática, tudo está ligado ao resultado. Será que Sylvinho teria sido demitido se o Corinthians tivesse vencido o Santos mesmo jogando mal? Difícil saber. Mas aqui vai mais uma verdade inconveniente. Demitir o treinador é fácil. O dirigente fica bem com a torcida e tira o “fiofó” dele da reta. Quero ver é esse mesmo dirigente assumir o erro gigante de avaliação e sair pela mesma porta que o treinador saiu depois de demitir um treinador depois de TRÊS JOGOS na temporada. Isso eles nunca vão fazer.
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