Egito foi muito mais aguerrido do que organizado em jogo de altíssima tensão contra Camarões
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como os “Faraós” seguraram os “Leões Indomáveis” e passaram para a final da Copa Africana de Nações
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como os “Faraós” seguraram os “Leões Indomáveis” e passaram para a final da Copa Africana de Nações
O Egito não chegou na final da Copa Africana de Nações por obra da sorte. O escrete comandado por Carlos Queiroz (que acabou expulso da partida no final do primeiro tempo) tem um padrão tático bem definido apesar de sofrer um pouco de dependência do talento de Mohamed Salah. Mas o atacante do Liverpool (e principal jogador dos “Faraós”) não é o único que faz a diferença. A partida contra Camarões mostrou muito bem que o time do Egito tem alternativas e, se não consegue superar seus adversários na base da organização, o faz através de uma força mental notável. Foram três prorrogações e duas decisões por penalidades até a passagem para a final do próximo domingo (6), no Olembe Stadium, em Yaoundé. Para Camarões, resta apenas o “prêmio de consolação” com a decisão do terceiro lugar e a sensação de que o time de Toni Conceição chegou o mais longe que podia nessa Copa Africana de Nações.
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— CAF (@CAF_Online) February 3, 2022
É interessante notar que o jogo disputado nesta quinta-feira (3) foi amplamente marcado pelo equilíbrio e pela altíssima tensão que uma semifinal única traz consigo. Qualquer erro pode ser fatal. E a estratégia dos “Leões Indomáveis” era bem clara. A escalação inicial indicava um esquema mais ousado, com três zagueiros (Jean-Charles Castelletto, Michael Ngadeu e Nouhou Tolo), Collins Fai um pouco mais solto pela direita (quase como um ala) e praticamente quatro jogadores no ataque. No entanto, Camarões se fechava em duas linhas na frente da área nos momentos defensivos com Nicolas Moumie Ngamaleu e Martin Hongla fechando os lados. Um 4-4-2 que deixava Aboubakar e Toko Ekambi um pouco mais à frente.
O “pulo do gato” (ou do leão, como queiram) estava na marcação a Mohamed Salah. Eu e você sabemos que o craque egípcio inicia as jogadas de ataque saindo da direita para o meio com a bola dominada para acionar os companheiros de equipe que fazem a ultrapassagem buscando o espaço aberto pelo camisa 10 entre as linhas do adversário. O objetivo principal do escrete de Toni Conceição era deixar o principal jogador de Egito “encaixotado” e sem tempo e espaço para trabalhar essas jogadas. Enquanto os defensores tiveram fôlego e concentração para bloquear Salah e interceptar os passes que chegariam nele, Camarões teve uma leve superioridade na partida ainda que com poucas chances claras de gol.
As melhores chances do primeiro tempo saíram dos pés de Salah (num chute que passou à direita do gol de André Onana) e de uma cabeçada de Michael Ngadeu que acertou a trave de Gabaski. E se Camarões apostava numa proposta mais móvel de jogo, Egito mantinha a mesma formação dos jogos contra Costa do Marfim e Marrocos. Omar Marmoush voltava pela esquerda para fechar a segunda linha e Mostafa Mohamed fechada o outro lado. Tudo para liberar o camisa 10 de obrigações defensivas e ter no seu principal jogador a grande válvula de escape para o ataque. Era por conta disso que os “Leões Indomáveis” passaram a jogar praticamente num 4-2-4 no segundo tempo. Mesmo assim, o jogo seguia amarrado e bastante nervoso. Salah quase abriu o placar depois de recuo de bola errado de Martin Hongla, Ngameleu fez Gabaski trabalhar em cobrança de falta e André Zambo Anguissa acertou belo chute de fora da área.
A prorrogação acabou marcada pelo claro desgaste das duas seleções. Principalmente para Egito, que se encaminhava para a sua terceira prorrogação num intervalo de apenas oito dias. Mesmo assim, Salah manteve o nível do tempo regulamentar e deu sustos em Onana com suas finalizações de fora da área. Do outro lado, James Léa Siliki levou perigo com cobrança de falta da intermediária que quase enganou o goleiro Gabaski. Mas estava claro que as duas equipes bem cansadas. E isso se refletia na maneira como elas se defendiam e atacavam. A grande chance do tempo extra veio dos pés de Ramadan Sobhi. O camisa 11 (substituto de Omar Marmoush) aproveitou a recomposição ruim de Camarões, se livrou da marcação e cruzou para dentro da área, mas nenhum dos atacantes do Egito conseguiu aproveitar a oportunidade. Tudo isso era fruto do desgaste dos jogadores e da alta tensão da partida.
A decisão por penalidades acabou consagrando o goleiro Gabaski. Ele é reserva de Mohamed El-Shenawy (que se lesionou no decorrer da Copa Africana de Nações) e mostrou segurança quando exigido no tempo normal. Além disso, o camisa 16 de Egito defendeu as cobranças de Harold Moukoudi e James Léa Siliki e viu Clinton N’Jie finalizar para fora. Difícil não concluir que os “Faraós” foram muito mais aguerridos do que organizados. Mas também é preciso levar em consideração o contexto do jogo desta quinta-feira (3). Além de ser o país-sede da competição, o escrete de Camarões mostrou um futebol vertical e de muita imposição física. Pode ser que tenha faltado nos “Leões Indomáveis” aquele jogador que faça a diferença e que dê um toque a mais de qualidade. Assim como Sadio Mané e Mohamed Salah fazem em Senegal e Egito, os dois finalistas dessa empolgante Copa Africana de Nações.
Os números do SofaScore comprovam o equilíbrio e a alta tensão da partida. Camarões teve 53% de posse de bola e finalizou nove vezes a gol (mas com apenas três no alvo). Egito teve 47% de posse e acertou sete finalizações, mas apenas uma foi na direção do gol de Onana. De chances claras, apenas duas para os “Leões Indomáveis”. Ninguém queria errar diante do que estava em jogo nesta quinta-feira (3). Só que os “Faraós” foram mais aguerridos e mostraram uma força mental impressionante para se garantir em mais uma final de Copa Africana de Nações.
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