Chelsea sofre mais do deveria e apresenta problemas que podem ser aproveitados pelo Palmeiras
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos Blues na vitória sobre o Al-Hilal e projeta a decisão do Mundial de Clubes da FIFA
É verdade que a expectativa de todos nem era de uma goelada histórica, mas de um jogo muito mais tranquilo e de uma atuação muito mais tranquila por parte do Chelsea em cima do Al-Hilal de Leonardo Jardim. Mesmo com o técnico Thomas Tuchel cumprindo quarentena em Londres depois de testar positivo para a COVID-19. Só que as coisas não funcionaram conforme a nossa expectativa. Isso porque a impressão que ficou do jogo desta quarta-feira (9) foi a de que os Blues entraram em campo entraram em campo com um ar meio “blasé” e a certeza de que resolveriam a partida rapidamente. Acabou que o Chelsea sofreu muito mais do que deveria e teve alguns de seus problemas escancarados pela atuação do escrete saudita. O tal “milagre” pode parecer mais simples do que parece para o Palmeiras no sábado (12).
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— Chelsea FC (@ChelseaFC) February 9, 2022
Os números do SofaScore nos mostram que o escrete comandado pelo auxiliar Zsolt Low terminou o jogo com 53% de posse de bola e com 15 finalizações a gol, mas com apenas cinco no alvo. Do outro lado, o Al-Hilal teve 47% de posse e doze finalizações a gol com três no alvo (duas defendidas de maneira brilhante pelo goleiro Kepa e uma bloqueada pelo brasileiro Thiago Silva). Quem esperava um amplo domínio do Chelsea até viu isso no primeiro tempo, com boas jogadas pelos flancos e a clara preocupação de Leonardo Jardim com a marcação na frente da área do goleiro Abdullah Al-Mayouf por conta da movimentação de Ziyech (o ponta canhoto que cortava para dentro) e Lukaku mais por dentro.
Não era por acaso que o 4-4-2/4-2-3-1 inicial do Al-Hilal tinha Cuellar na frente da zaga, Mohamed Kanno mais próximo do colombiano e o brasileiro Matheus Pereira um pouco mais recuado do que o normal. Tudo para congestionar a entrada da área e tentar retomar a posse para acionar Marega e Al-Dawsari às costas de Azpilicueta e Marcos Alonso. A equipe saudita tentava competir usando as armas que tinha, mas sofria com o nível de intensidade alto colocado pelo Chelsea no primeiro tempo e a boa circulação pelos lados do campo. Mesmo assim, esse ar meio indiferente e despreocupado incomodava bastante este que escreve. A comemoração dos Blues no único gol do jogo deixa isso bem claro.
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O primeiro tempo foi marcado pelo amplo domínio do escrete londrino por dois motivos básicos. O primeiro era o onze inicial. Jogando no seu 3-4-2-1 costumeiro (com Ziyech e Havertz formando boas duplas com os alas Azpilicueta e Marcos Alonso pelos flancos), o Chelsea esteve bem organizado e executou os movimentos do desenho tático preferido de seu treinador de maneira satisfatória. Nada muito além disso. A solução encontrada pelo Chelsea para superar esse “ônibus” estacionado na frente da área do Al-Hilal foi espalhar seus jogadores no ataque com uma linha de cinco auxiliada por um dos três zagueiros zagueiros se alinhando a Jorginho e Kovacic no meio-campo. A postura extremamente retraída do time de Leonardo Jardim permitia, por exemplo, que Thiago Silva chegasse até a intermediária para tentar a finalização de média e longa distância.
O Chelsea teve 62% de posse de bola no primeiro tempo e dez finalizações a gol, mas com apenas três no alvo. Na prática, o gol de Lukaku só saiu por conta da falha do lateral Yasir Al-Shahrani após sobra da zaga do Al-Hilal. E quem esperava uma atuação mais segura por parte do Chelsea, viu o escrete londrino cair drasticamente de produção no segundo tempo. A entrada de Kanté no lugar de Jorginho inexplicavelmente fez com que o time de Thomas Tuchel e Zsolt Low perdesse o meio-campo e deixasse a sua linha de cinco completamente desprotegida. E isso sem mencionar que o volante francês entrou muito mal no jogo. Do mesmo modo, Mason Mount também somou pouco.
O grande erro do Chelsea foi a queda no ritmo e a intensidade baixa até mesmo para um jogo de pré-temporada. E é interessante notar que o Al-Hilal utilizou a mesma estratégia do seu oponente para criar espaços no terço final. Leonardo Jardim espetou Ighalo, Marega, Al-Dawsari e Matheus Pereira no ataque. Estes ainda contavam com a presença de um dos laterais que subiam conforme a posição da bola. Se ela estava na esquerda, quem subia era Mohammed Al-Burayk pelo outro lado. E Yasir Al-Shahrani fazia o mesmo quando o escrete saudita iniciava as jogadas pela direita. Aos poucos, o Chelsea foi recuando e concedendo espaços demais. O bicho não parecia tão feio assim.
Difícil não afirmar que o Al-Hilal não competiu. Ele o fez com as armas que tinha e aproveitando o cenário favorável do segundo tempo da partida no estádio Mohammed Bin Zayed. No entanto, ainda que Carrillo e Michael tenham entrado no segundo tempo, o time de Leonardo Jardim acabou pecando um pouco pela pressa para atacar seu forte adversário. Marega teve a grande chance do jogo após belíssimo passe em profundidade de Matheus Pereira às costas de Rüdiger e Thiago Silva. Kepa salvou o Chelsea nessa e em outra oportunidade ao defender finalização de Kanno no ângulo esquerdo. Com 55% de posse de bola e oito finalizações a gol no segundo tempo, o Al-Hilal poderia ter sido mais feliz se seus atacantes tivessem a mesma eficiência de Lukaku, por exemplo. Mesmo assim, a atuação do time saudita foi muito boa dentro do contexto que nos era apresentado.
É verdade que o Chelsea ainda é o favorito ao título do Mundial de Clubes da FIFA e negar isso soaria leviano e até oportunista diante de todo o histórico que eu e você conhecemos das duas equipes. Mas a impressão que ficou da vitória sobre o Al-Hilal foi a de que o Palmeiras sofreu muito menos do que os Blues e está mais inteiro fisicamente. E a certeza que fica é a de que o escrete comandado por Abel Ferreira pode sim aprontar mais uma vez. Só que desta vez, o favoritismo do Chelsea não é mais tão amplo como no início da competição. Há pontos que podem sim ser muito bem explorados por Dudu, Rony, Raphael Veiga e companhia. Ainda mais sabendo que o Chelsea já carrega consigo o peso de ter sido o último europeu vice-campeão mundial e que o time de Thomas Tuchel parece estar fisicamente abaixo dos jogadores palmeirenses.
É impossível prever o que pode acontecer na decisão do Mundial de Clubes. Ainda mais diante de todo o caos que o velho e rude esporte bretão nos proporciona. O que existe é a convicção de que o Palmeiras de Abel Ferreira tem sim condições de surpreender até mesmo quem se nega a aceitar que os times europeus seguem menosprezando as equipes de fora do continente. Essa pode ser a grande arma do escrete alviverde na grande final deste sábado (12). A conferir.