Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos “Leões da Teranga” no confronto válido pelas oitavas de final da Copa Africana de Nações
É verdade que Senegal entrou em campo nesta terça-feira (25) como favorito no confronto contra a equipe de Cabo Verde. Também é verdade que, por contar com jogadores como Sadio Mané, Idrissa Gueye, Kalidou Koulibaly e Edouard Mendy que os “Leões de Taranga” também são apontados como um dos times favoritos ao título da Copa Africana de Nações. A questão, no entanto, é toda essa teoria costuma ser bem diferente da prática assim que a bola rola. A equipe comandada por Ailou Cissé só conseguiu transformar sua superioridade técnica e tática depois que o árbitro argelino Lahlou Benbraham expulsou dois jogadores dos “Tubarões Azuis” após consulta ao VAR. É verdade que Senegal tem muito mais recursos e alternativas do que Cabo Verde em termos táticos, mas as dificuldades para fazer a bola chegar na frente chamaram a atenção de quem estava vendo a partida.
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— CAF (@CAF_Online) January 25, 2022
Já era de se esperar que o escrete comandado por Pedro Leitão Brito (o popular Bubista) fosse apostar numa formação mais cautelosa e reativa diante de um adversário superior em todos os aspectos e favorito ao título da Copa Africana de Nações. É interessante notar que a escalação inicial de Senegal sugeria um 4-3-3 com a dupla Idrissa e Pape Gueye se aproximando do trio ofensivo formado por Sadio Mané, Bouayle Dia e Famara Diédhiou. Foi possível notar esse desenho tático e também uma inversão para um 2-3-5 de altíssima intensidade com laterais aparecendo na frente e muita movimentação no terço final. Foram 16 finalizações a gol com sete no alvo e 63% de posse de bola.
Do outro lado, Cabo Verde se organizava numa espécie de 5-3-2/5-4-1 com as linhas muito recuadas e tentando acionar Ryan Mendes e Jamiro Monteiro se lançando às costas da zaga senegalesa, mas sem muito sucesso. Os números do SofaScore mostram que os “Tubarões Azuis” finalizaram apenas duas vezes na direção do gol de Edouard Mendy. O grande problema é que o escrete comandado por Ailou Cissé não conseguia transformar toda essa superioridade em gols. Inclusive, o time de Senegal parecia afobado e mais nervoso do que Cabo Verde. Pode ser que todo o “peso” do favoritismo venha influenciado e mexido com a concentração dos “Leões da Teranga”. Mas o que se via em Bafoussam preocupava e muito.
Com a expulsão do volante Patrick Andrade aos 21 minutos do primeiro tempo, Cabo Verde teve que se reorganizar numa espécie de 4-4-1 que isolou ainda mais o atacante Ryan Mendes entre Koulibaly e Diallo. Senegal continuava encontrando espaços na defesa dos “Tubarões Azuis” e muita facilidade para fazer a bola circular entre as linhas do seu adversário. Só faltava aprimoramento e capricho no último passe. É interessante notar aqui a movimentação de Sadio Mané por todo o campo para fazer com que os “Leões da Teranga” tivessem alternativas e mais criatividade. O atacante do Liverpool bem que tentou aparecer mais atrás para organizar o jogo e ainda partir da esquerda para dentro em diagonal quando Senegal retomava a posse da bola e acelerava na direção do gol defendido por Vozinha. Mesmo com um a mais, a equipe de Ailou Cissé ainda encontrava problemas.
O alívio só veio aos 12 minutos do segundo tempo, quando Lahlou Benbraham expulsou o goleiro Vozinha após nova consulta ao VAR. Com dois jogadores a menos, a vida de Cabo Verde ficou extremamente complicada. Bastaram mais seis minutos para que Sadio Mané abrisse o placar no Kouekong Stadium após cobrança de escanteio. Apesar da vantagem no placar, era bem difícil não perceber que Senegal ainda encontrava dificuldades para imprimir um jogo mais coletivo e que não dependesse tanto do seu camisa 10 para fazer a bola chegar no ataque. Mais para o final do jogo, quando Cabo Verde tentou o gol que levaria o confronto para a prorrogação, Ahmadou Bamba Dieng e Famara Diédhiou roubaram a bola na intermediária defensiva e pegaram a defesa dos “Tubarões Azuis” completamente desarrumada. Era o gol do alívio para uma equipe que demorou demais para engrenar num confronto relativamente tranquilo
Este que escreve até entende que a Copa Africana de Nações premia muito mais aqueles que vencem seus confrontos do que aqueles que pensam em dar espetáculo. Há aqui a necessidade de ser um pouco mais pragmático e objetivo nesse sentido. Ainda mais quando falamos de fases eliminatórias em que todo erro é punido sem dó. Mas ficou nítido que Senegal, mesmo com toda a qualidade do seu elenco, ainda encontra muitas dificuldades para imprimir um jogo coletivo mais consistente. Prova disso são os números das duas seleções na CAN. Enquanto que os “Leões de Teranga” se classificaram na primeira posição do Grupo B com cinco pontos (uma vitória e dois empates com apenas um gol marcado), Cabo Verde se garantiu nas oitavas de final como a melhor terceira colocada (no Grupo A). Foram quatro pontos, com uma vitória, um empate e uma derrota. Dois gols marcados e dois sofridos.
Campanhas semelhantes de duas seleções muito diferentes no estilo de jogo, na tradição e na qualidade do elenco que os dois treinadores têm à disposição. É por isso que a atuação de Senegal preocupa bastante. Por mais que Mendy, Koulibaly e Mané tenham vasta experiência internacional, ainda falta aquele ingrediente que transforma um bom elenco num bom time. Essa é a grande missão de Ailou Cissé. A única pergunta que fica é: ainda há tempo para isso nessa Copa Africana de Nações?
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