Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação dos “Faraós” contra os “Elefantes” no confronto das oitavas da Copa Africana de Nações
O futebol é um esporte tão espetacular que existem empates sem gols que trazem mais emoções do que algumas goleadas. Esse é exatamente o caso do confronto entre Egito e Costa do Marfim, jogo válido pelas oitavas de final da Copa Africana de Nações. De acordo com os números do SofaScore, “Faraós” e “Elefantes” finalizaram incríveis 31 vezes (com treze delas indo na direção do gol) durante os 120 minutos de bola rolando. Ainda que não tenha sido um confronto marcado pelo rigor técnico e pelo aprimoramento na conclusão das jogadas, as equipes comandas pelo francês Patrice Beaumelle e pelo português Carlos Queiroz entregaram bom desempenho e executaram bem aquilo que havia sido proposto pelos dois treinadores. Acabou que o Egito (que perdeu o goleiro Mohamed El-Shenawy no final do tempo normal) foi mas preciso nas cobranças de pênaltis e ficou com a vaga nas quartas de final.
#TeamEgypt are through to the #TotalEnergiesAFCON2021 quarter-finals after beating #TeamCotedIvoire in an intense encounter ✅#AFCON2021 | @EFA pic.twitter.com/4ybhPByWzw
— CAF (@CAF_Online) January 26, 2022
É bom que se diga que os olhares estavam todos na direção de Mohamed Salah, talvez o grande astro dessa Copa Africana de Nações junto com Sadio Mané (de Senegal), seu companheiro de equipe no Liverpool. O camisa 10 dos “Faraós” era o jogador mais avançado do 4-3-3/4-4-2 de Carlos Queiroz (que tinha clara inspiração no desenho tático utilizado por Carlo Ancelotti no Real Madrid campeão da Champions League em 2013/14). Omar Marmoush voltava pelo lado esquerdo (e acompanhando as descidas do lateral marfinense Serge Aurier) e Mohamed Elneny fechava o lado direito. Tudo para liberar Salah para sair da direita para dentro e buscar os espaços entre as linhas do escrete da Costa do Marfim.
Já os “Elefantes” jogavam no mesmo 4-3-3 do Egito com o atacante Pépé (do Arsenal) saindo da direita para dentro e buscando a tabela com Sébastien Haller e Max Gradel na intermediária ofensiva. Dos volantes, Ibrahim Sangaré, além de faze boa dupla com Serge Aurier pelo lado direito, era aquele que mais pisava na área e quem mais se apresentava para tentar as jogadas em profundidade ou as tabelas. É verdade que Patrice Beaumelle viu o desempenho da sua equipe cair um pouco após a saída de Franck Kessié logo aos trinta minutos da primeira etapa. Mas quando Serey Dié finalmente “esquentou”, Costa do Marfim criou problemas sérios para o Egito numa partida cheia de alternativas.
Omar Mamoush acertou o travessão no primeiro tempo após bola interceptada no meio-campo por Amr Al-Sulaya. No entanto, mais do que o volume de jogo do escrete egípcio (que era altamente objetivo e veloz nas suas transições) tinha em Salah a sua grande válvula de escape. Costa do Marfim só começou a equilibrar o jogo quando os jogadores começaram a executar o plano de jogo de Patrice Beaumelle. Com o avanço dos jogadores para frente com o ataque buscando dar mais profundidade às jogadas, os “Elefantes” criaram boas chances ainda no primeiro tempo. Na melhor delas, Ibrahim Sangaré acertou um belo voleio de dentro da pequena área que Mohamed El-Shenawy defendeu com segurança. Mesmo assim, o time marfinense ainda sofria bastante com as transições em altíssima velocidade do Egito. E este que escreve ainda não compreendeu por que Jerémie Boga não é titular nesse time.
Mas a impressão que ficava era a de que Egito era mais fluido e mais móvel do que seu adversário. Isso porque Carlos Queiroz também apostou em inversões, triangulações e no controle da profundidade. Notem que sempre que Salah pegava a bola, pelo menos dois jogadores se lançavam para receber o passe. Sem a bola, o camisa 10 dos “Faraós” sempre buscava o espaço vazio, seja nas costas da última linha ou entre zagueiros e volantes. Difícil não colocar o goleiro marfinense Badra Ali Sangaré (junto com o zagueiro Eric Bailly) como um dos melhores em campo por conta das grandes defesas realizadas durante os 120 minutos de partida. E por mais que as duas seleções fizessem por onde, o confronto no Japoma Stadium (em Douala) só foi mesmo decidido na marca de cal. E ali brilhou a estrela do goleiro Gabaski, substituto do lesionado Mohamed El-Shenawy. A vaga era dos “Faraós”.
Conforme escrito no primeiro parágrafo, o futebol é tão cheio de nuances e detalhes que Eric Baily, justamente um dos poucos jogadores de Costa do Marfim que estava conseguindo levar vantagem nos duelos contra os atacantes egípcios, acabou desperdiçando sua penalidade. De forma esquisita, diga-se de passagem. Seja como for, a impressão que fica dos “Elefantes” é a de que falou aquele “algo mais”, aquele aprimoramento na conclusão das jogadas e um pouco de concentração nos momentos decisivos. Melhor para o Egito de Carlos Queiroz, que eliminaram uma seleção fortíssima e jogando um futebol de qualidade. Infelizmente, apenas um poderia passar para as quartas de final da Copa Africana de Nações e, diante de tudo o que foi visto em Douala, os “Faraós” tiveram mais força mental para superar as adversidades da partida. Mesmo quando perdeu seu goleiro titular por lesão no final do tempo normal.
A grande verdade é que Egito e Costa do Marfim nos entregaram aquele que pode ser considerado o jogo mais animado e mais movimentado da competição até o momento. Tudo porque as duas seleções resolveram fazer aquilo que sabem fazer de melhor: jogar futebol. Mais uma prova de que é necessário olhar além do senso comum para perceber que há sim esporte de qualidade sendo pensado e jogado além da nossa visão. É por isso que a Copa Africana de Nações é tão maravilhosa.
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