Botafogo mantém estilo vertical e objetivo, mas ainda precisa de tempo para atingir o nível ideal
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória dos comandados de Enderson Moreira e sobre o Bangu de Felipe Loureiro neste domingo (30)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória dos comandados de Enderson Moreira e sobre o Bangu de Felipe Loureiro neste domingo (30)
Todo início de temporada nos traz alguns pontos que merecem a nossa atenção quando o assunto é o velho e rude esporte bretão. Os principais deles estão diretamente relacionados com o fato dos clubes do país estarem voltando das férias, recuperando a forma física e se reacostumando com o nível de exigência dos nossos principais campeonatos. É o que acontece, por exemplo, com o Botafogo de Enderson Moreira. A vitória do atual campeão brasileiro da Série B sobre o Bangu (muito bem comandado por Felipe Loureiro) neste domingo (30) e nos mostrou alguns ingredientes do que podemos esperar do Glorioso em 2022. Estilo mais vertical e objetivo, linhas bem compactadas, perseguições curtas no meio-campo e muita velocidade nas transições. O início de temporada, no entanto, também mostrou que o Botafogo ainda precisa de tempo para atingir o nível ideal.
DEU FOGÃO! 🔥⭐️
Botafogo vence o Bangu por 2 a 0, com gols de Felipe Ferreira e Diego Gonçalves. #VamosBOTAFOGO pic.twitter.com/9zG54v85nP
— Botafogo F.R. (@Botafogo) January 30, 2022
Boa parte desses conceitos trabalhados por Enderson Moreira foram facilmente percebidos na campanha vitoriosa do Brasileirão da Série B no ano passado. O desenho tático (apesar dos desfalques por lesões e saídas de nomes importantes) permeneceu o mesmo. O Glorioso entrou em campo armado no 4-2-3-1 que eu e você nos acostumamos a ver no Botafogo em 2021. Felipe Ferreira (por dentro), Vitinho e Diego Gonçalves (pelos lados) formavam a linha de três meias que jogava logo atrás de Matheus Nascimento, a referência ofensiva do escrete de Enderson Moreira. Mais atrás, Fabinho e Breno protegiam a dupla de zaga e os laterais Daniel Borges e Carlinhos eram presença constante no ataque.
É verdade que o Bangu teve mais a posse da bola e tudo mais. De acordo com os números divulgados pela ACERJ (a Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro), o time comandado por Felipe Loureiro (que apresentou ótimas ideias durante o jogo) teve incríveis 62% de posse de bola e finalizou 14 vezes a gol (seis no alvo). Nesse ponto, não é difícil concluir que o gol marcado por Felipe Ferreira logo aos nove minutos condicionou todo o restante da partida. Com a desvantagem no placar, o escrete de Moça Bonita tentava ocupar o campo de ataque e encontrar espaços para atacar a área de Gatito Fernández sem muito sucesso. Isso porque o Botafogo esteve sempre bem organizado na defesa.
A estratégia de Enderson Moreira era simples, porém muito eficaz. Sua equipe fechava a entrada da área com marcação em bloco e alguns jogadores saltando para a pressão em determinados momentos. Assim que a posse da bola era retomada, os pontas Vitinho e Diego Gonçalves partiam em velocidade procurando Matheus Nascimento no comando de ataque. Só que estamos em início de temporada e algumas ideias ainda precisam de tempo para serem melhor trabalhadas por Enderson Moreira. Uma delas é a transição defensiva. Não foram poucas as vezes em que Fabinho e Breno deixaram a última linha desprotegida. Ao mesmo tempo, o quarteto ofensivo pouco ajudava na marcação dos laterais Carlos Eduardo e Baggio sempre que o Bangu variava do 4-3-3 para um 2-3-5 altamente ofensivo quando acelerava nas transições. Kanu e Joel Carli sofreram com os passes em profundidade às suas costas.
O gol de Diego Gonçalves (marcado aos trinta minutos do segundo tempo) deu mais tranquilidade ao Botafogo apesar do Bangu ainda seguir controlando mais as ações dentro do campo e ficando mais com a bola. No entanto, sempre que o escrete de Felipe Loureiro conseguia vencer a pressão, os jogadores alvirrubros esbarravam na ótima apresentação do goleiro Gatito Fernández. E um ponto interessante sobre a maneira com a qual o time de Enderson Moreira se comporta em campo pode ser vista nos números divulgados pela ACERJ. Mesmo com apenas 38% de posse de bola, o Botafogo finalizou treze vezes a gol (com cinco no alvo). Uma finalização a menos do que o adversário deste domingo (30). Esse estilo mais vertical e objetivo foi notado várias vezes. Principalmente quando um dos laterais avançava para o ataque e Felipe Ferreira (depois Luiz Fernando) atacavam o espaço às costas da última linha.
É sempre bom lembrar que a grande maioria dos principais clubes do país disputou nesse final de semana apenas a sua SEGUNDA PARTIDA na temporada. Impossível não perceber cobranças excessivas e completamente desproporcionais em determinados casos. Desonestas até. É por isso que qualquer análise deve manter o foco início do trabalho e nas ideias que estão sendo implementadas com os jogadores e esquecer a praga dos “caça-likes” que tomaram conta das redes sociais. É possível sim perceber conceitos e modos de se compreender o jogo e do que se deve fazer em cada cenário. Por conta do pouquíssimo tempo, a execução do que foi planejado nos treinamentos ainda não será a ideal. Foi mais ou menos esse o panorama da vitória do Botafogo sobre o interessantíssimo time do Bangu. Aliás, Felipe Loureiro é um treinador que merece a nossa atenção. Boas ideias sendo colocadas em prática.
A tendência é vermos Botafogo e as demais equipes do país atingindo o nível ideal depois de um certo período de tempo. Temos jogadores afastados por lesão, jogadores que estão chegando e buscando entrosamento e jogadores que ainda buscam a melhor forma física. Tudo faz parte do processo. E querer que qualquer time do país apresente um futebol vistoso na segunda partida da temporada é ignorar que o futebol bem jogado depende dos fatores colocados acima. Não adianta colocar a carroça na frente dos bois.
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