Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Tatiele Silveira e Anne Barros no jogo deste domingo (19) e a evolução das duas equipes em 2021
Quiseram as deusas do velho e rude esporte bretão que a partida que decidiria o campeão da primeira edição da Brasil Ladies Cup fosse o mais divertido e o mais emocionante de toda a competição. Times ofensivos, gols, lances de talento (e alguns duvidosos), reclamações e o mais puro entretenimento que o só o futebol feminino pode proporcionar. Acabou que o São Paulo conquistou a taça ao bater o Santos de Tatiele Silveira com autoridade por 3 a 2 na manhã deste domingo (19), no Allianz Parque. Sem Lucas Piccinato, suspenso pelo acúmulo de cartões amarelos, o Tricolor Paulista teve a auxiliar Anne Barros na beira do gramado e controlou bem as ações do jogo com uma equipe muito bem organizada e bastante concentrada em cada chance que as Sereias da Vila concederam durante os noventa e poucos minutos. Foram quatro jogos, quatro vitórias, seis gols marcados e apenas quatro sofridos. Título merecido.
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O grande desfalque da finalíssima não podia ser outro senão a atacante Gláucia, grande referência técnica do São Paulo. Para seu lugar, Anne Barros e Lucas Piccinato optaram por um ataque de muita mobilidade e força física com Jaqueline, Naná, Duda e Micaelly. A escalação inicial passava a impressão de que o Tricolor Paulista fosse jogar num 4-4-2, mas a equipe do Morumbi se organizava num 4-2-3-1, num 4-1-4-1 e até mesmo num 2-3-5 conforme a movimentação das jogadoras no campo de jogo. Do outro lado, Tatiele Silveira mandava o Santos a campo no seu tradicional 4-4-2, com Cristiane e Ketlen no comando de ataque, duas linhas na frente da goleira Camila Rodrigues, bom toque de bola e jogadas de ultrapassagem. No entanto, por mais que as Sereias da Vila conseguissem manter a posse da bola, faltava alguém que carregasse a bola até a área adversária. E esse seria o grande problema do time de Tatiele Silveira.
Duda iniciou a partida jogando mais adiantada com Naná pela direita, Jaqueline pela direita e Micaelly jogando mais por dentro. Em alguns momentos, a camisa 11 do São Paulo aparecia quase como mais uma volante ao lado de Cris e à frente de Maressa. Em outros, se lançava pela esquerda como uma ponta e ocupava o comando de ataque quando Duda caía pelo lado do campo. A grande mobilidade e a intensidade nos movimentos ofensivos foi o grande trunfo da equipe comandada (interinamente) por Anne Barros na decisão dessa Brasil Ladies Cup. Isso porque a auxiliar percebeu que as Sereias da Vila apresentavam alguns problemas na sua recomposição defensiva e na cobertura das laterais. Com Cris muito atenta nos botes (e ainda pisando na área) e Maressa firme na marcação à frente da dupla de zaga, o São Paulo conseguiu se impor no primeiro tempo e só concedeu chances quando diminuiu o ritmo do seu jogo no Allianz Parque.
O primeiro gol da partida saiu aos 30 minutos da primeira etapa e num momento em que o Santos estava com uma jogadora a menos em campo (Sassá estava recebendo atendimento médico na beira do gramado). Mesmo assim, toda a jogada envolvendo a movimentação de Nanaá, Giovana e Duda é uma belíssima amostra da intensidade do São Paulo com e sem a bola. Do outro lado, as Sereias da Vila sofriam com as tomadas de decisão ruins e com os problemas no posicionamento defensivo. É por isso que o Tricolor Paulista teve tanta facilidade para construir toda a jogada do segundo gol desde a linha do meio-campo com toques rápidos, ultrapassagens, passes em profundidade e movimentação correta. Jaqueline aparece na direita e tabela com Naná. A camisa 21 avança, troca passes com Giovana e passa para Micaelly que Vê Duda atacando o espaço às costas de Bruninha. Naná ainda precisou de dois chutes para fazer o gol mais bonito da manhã.
As Sereias da Vila melhoraram consideravelmente no segundo tempo com a entrada da jovem (e altamente promissora) Gi Fernandes no lugar de Analyuza e os ajustes feitos por Tatiele Silveira no intervalo da decisão da Brasil Ladies Cup. Com o time mais encorpado e mais presente no campo de ataque, o Santos conseguiu diminuir numa das únicas vezes em que conseguiu acertar o passe na intermediária e pisou na área do São Paulo. Gi Fernandes se livrou da marcação e lançou para Ketlen. A camisa 7 do Peixe avançou e viu Cristiane atacando o espaço às costas de Giovana, fez o passe e arrastou toda a marcação do Tricolor Paulista para que a veterana cruzasse para o meio da área e encontrasse Brena livre de marcação. O primeiro gol das Sereias da Vila aumentou bastante o nível de entretenimento e emoção do San-São que decidia a Brasil Ladies Cup além de confirmar que Tatiele Silveira mexeu bem demais no time.
Por mais que as Sereias da Vila tenham sim melhorado seu desempenho no segundo tempo, elas acabaram pecando novamente pela falta de concentração e desatenção no lance do gol marcado pela zagueira Thaís aos 14 minutos. O terceiro gol do São Paulo foi um senhor balde d’água fria na equipe de Tatiele Silveira e fez a equipe da Vila Belmiro perder um pouco a concentração na partida. Aos poucos, o Santos foi se reencontrando à medida em que o time comandado por Anne Barros foi diminuindo o ritmo (apesar de ainda encontrar espaços generosos no campo de ataque) e voltou para o jogo quando Ketlen completou escanteio de Júlia Daltoé para as redes aos 31 minutos do segundo tempo. Com o desgaste do Tricolor Paulista, o Santos foi levando vantagem nas bolas longas às costas da dupla de zaga formada por Thaís e Lauren. No entanto, faltou caprichar mais nas conclusões a gol para se manter vivo na disputa pelo título.
A conquista da Brasil Ladies Cup não apenas confirma o nítido crescimento técnico do São Paulo após a disputa do Brasileirão Feminino. Ela também consolida o trabalho feito no clube por profissionais como Lucas Piccinato, Anne Barros e vários outros. A atuação da equipe nas finais do Paulistão e toda a evolução conquistada dentro de campo é a prova de que o trabalho precisa continuar no Tricolor Paulista. Do outro lado, o Santos de Tatiele Silveira mostrou poder de reação e revelou jovens como Sassá, Gi Fernandes e Camila Rodrigues. Jogadoras que entregaram demais em toda a competição e que podem dar muitas alegrias daqui a alguns anos. O trabalho feito pela comissão técnica das Sereias da Vila tem o claro objetivo de construir uma equipe forte e coesa para a temporada de 2022. E por mais que o escrete santista tenha cometido erros na decisão, fica a certeza de que o futuro parece ser muito promissor.
Entretenimento puro. Foi isso que a grande final da Brasil Ladies Cup nos entregou nesse domingo (19). A competição surgiu no calendário do futebol feminino como mais uma janela para que os clubes pudessem colocar suas jogadoras em atividade, termina com a certeza de que as coisas podem ser feitas de maneira muito mais organizada em todos os sentidos. Imaginem o nível técnico que teríamos se ela fosse realizada em campos e horários mais adequados. Melhorar é preciso. Até para que a modalidade evolua mais e mais.
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