Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Maurício Salgado e Roberta Batista e explica por que o Internacional mereceu a vitória
A expressão “saber sofrer” é uma das mais utilizada no meio futebolístico nesses últimos anos. Ela indica que uma equipe suportou as investidas do seu adversário durante um período considerável de tempo, seja na base da boa marcação ou com grandes defesas da sua goleira, sem ser vazada. É possível dizer que o Internacional de Maurício Salgado fez exatamente isso na partida desta terça-feira (14), pela Brasil Ladies Cup. As Gurias Coloradas sofreram bastante com o ataque da Ferroviária de Roberta Batista e tiveram na goleira Vivi a grande heroína do dia em Santana de Parnaíba. Mas também souberam explorar bem os problemas defensivos e de cobertura das Guerreiras Grenás nos gols marcados por Fabi Simões e Mai em lances muito semelhantes. Não foi uma partida marcada pela técnica. Bem longe disso, aliás. Mas as Gurias Coloradas mostraram mais concentração (em todos os quesitos) quando foi necessário.
Na partida de hoje, nossa goleira @viviholzel foi eleita a craque da partida! Parabéns, paredão! PEGOU ATÉ PENSAMENTO 🔒🏆🧤 pic.twitter.com/IwAhbGeUOa
— Gurias Coloradas (@GuriasColoradas) December 14, 2021
Internacional e Ferroviária entraram em campo nesta terça-feira (14) precisando da vitória para se manterem vivas na disputa por uma vaga na final da Brasil Ladies Cup. Esse talvez seja o principal motivo dos primeiros minutos de intensa “trocação” entre as equipes comandadas por Maurício Salgado e Roberta Batista. Mesmo assim, o que se via eram erros nas tomadas de decisão e uma certa afobação por parte das jogadoras em campo. Barrinha criou as melhores chances das Guerreiras Grenás antes da parada técnica. Mas o que se via do lado da Ferroviária era uma equipe que pecava demais na recomposição defensiva (principalmente no que se refere ao conhecido ato de “correr para trás” e fechar as entradas da sua área). Nesse ponto, as Gurias Coloradas pareciam um pouco mais concentradas e mais organizadas na saída de bola em velocidade pelos lados do campo. Principalmente às costas das laterais da Ferroviária.
Notava-se aí uma diferença na postura das duas equipes com relação às derrotas para América de Cali e São Paulo na primeira rodada da Brasil Ladies Cup. Enquanto o Internacional encontrava mais espaço para atacar, a Ferroviária fazia um jogo mais vertical e explorava bastante o lado direito de ataque. Mas o grande problema da equipe comandada por Roberta Batista estava na transição defensiva. Mai (uma das melhores em campo na opinião deste que escreve), Djeni, Mariana Pires e Rafa Travalão encontravam espaços generosos para distribuir o jogo e encontrar a companheira melhor posicionada. O primeiro gol das Gurias Coloradas mostra bem isso. Ana Alice simplesmente ficou vendo Fabi Simões atacar o espaço às suas costas e deslocar a goleira Luciana com um leve toque. As Gurias Coloradas conseguiam se impor por que souberam explorar a principal deficiência das suas adversárias na partida disputada em Santana de Parnaíba.
Vale lembrar aqui que tanto Mariana Pires como Rafa Travalão (autora do passe que resultou no gol de Mai, o segundo do Internacional na partida) tiveram tempo suficiente para pensar na melhor jogada a ser feita. Assim como Fabi Simões e Mai se movimentaram para se desmarcar atacando as costas da zaga da Ferroviária. Roberta Batista ainda tentou dar sangue novo para sua equipe no segundo tempo, mas as Guerreiras Grenás apresentaram outro tipo de problema. A afobação para igualar o marcador e se manter viva na Brasil Ladies Cup fez com que a Ferroviária errasse demais nas finalizações a gol e tomassem as piores decisões possíveis quando conseguiam entrar na área. E olha que as Gurias Coloradas contribuíram demais para isso com muitas falhas nas perseguições individuais e botes errados. Não foi raro ver uma jogadora escolhendo o chute a gol com várias companheiras de equipe melhor posicionadas para isso.
É impossível não destacara a boa atuação da goleira Vivi, autora de pelo menos três grandes defesas no segundo tempo e eleita a melhor em campo pela organização da Brasil Ladies Cup. No entanto, enquanto as Gurias Coloradas comemoravam o resultado e a atuação muito mais segura e muito mais consistente do que a estreia diante do América de Cali, as Guerreiras Grenás lamentavam os erros defensivos e a falta de concentração para entender qual era a melhor decisão a ser tomada nos momentos críticos do jogo. Mesmo tendo criado mais chances e colocado mais volume nas transições ofensivas. Ficam as lições para as comadadas de Roberta Batista para o início da temporada de 2022 e a certeza de que as Guerreiras Grenás podem (e devem) render muito mais do que renderam nessa Brasil Ladies Cup. Há como se tirar coisas boas das duas derrotas sim. Por mais que elas não agradem jogadoras e comissão técnica num primeiro momento.
O Internacional nos mostrou que “saber sofrer” não é apenas uma frase já bastante batida dos nossos dias. Entender o jogo e trabalhar para que a sorte esteja do seu lado também faz parte do entendimento e das escolhas que o velho e rude esporte bretão exigem das suas equipes. Ser efetivo e saber aproveitar as chances que aparecem durante os noventa minutos também é fundamental.
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