Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Arthur Elias montou sua equipe para superar o São Paulo de Lucas Piccinato na Neo Química Arena
A noite desta quarta-feira (8) dificilmente será esquecida por todos aqueles que amam o esporte e que lutam para que o Futebol Feminino tenha o espaço que merece. Isso porque o Corinthians venceu o São Paulo por 3 a 1 de maneira épica diante de 30.077 torcedores presentes na Neo Química Arena (recorde de público em jogos da modalidade no Brasil) no jogo que decidia o campeão do Paulistão Feminino desse ano de 2021. E isso com Arthur Elias fazendo das suas e realizando modificações que só foram compreendidas quando a bola rolou e o Timão foi se impondo diante do escrete comandado por Lucas Piccinato na base da velocidade, da imposição física e do mais puro duelo de estratégias. O Corinthians escreve mais uma bela página da sua belíssima história com a conquista do Campeonato Paulista e fecha 2021 com a Tríplice Coroa e a expectativa de que o próximo ano deve nos trazer ainda mais motivos para sorrir.
🔎 Corinthians Feminino na temporada 2021:
⚔️ 42 jogos
✅ 37 vitórias (!)
❌ 2 derrotas (!)
📊 90.5% aproveitamento
⚽️ 143 gols marcados (3.4 / j!)
🚫 25 gols sofridos (0.6 / j!)🏆 Brasileirão
🏆 Libertadores
🏆 PaulistaTríplice coroa conquistada! 👏👏 pic.twitter.com/PlSy18XFQc
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) December 9, 2021
Quem viu o jogo de ida realizado no Morumbi deve se lembrar deste que escreve afirmando que o São Paulo tinha um plano e o executou muito bem. Diante disso, podemos afirmar que Arthur Elias TAMBÉM TINHA UM PLANO. Por mais que muita gente tenha estranhado a escalação inicial do Timão, ela se mostrou a mais acertada assim que Edna Alves Batista iniciou a partida desta quarta-feira (8). Natascha entrou no lugar de Kemelli e Tarciane fez dupla de zaga com Campiolo. Mas o “pulo do gato” estava mais à frente. Ao invés do seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro, o Corinthians se organizou num 4-3-3/4-1-4-1 com Gabi Zanotti jogando como referência no ataque, Gabi Portilho e Vic Albuquerque como interiores e Diany organizando a saída de bola desde o campo de defesa. Tudo para que o São Paulo provasse do próprio remédio e perdesse a compactação e a organização tática vistas no “primeiro round” da final do Paulistão Feminino.
Gabi Portilho e Vic Albuquerque tinham uma função bem clara nessa formação utilizada por Arthur Elias. As duas se movimentavam atrás de Gabi Zanotti e buscavam ocupar o espaço entre as zagueiras Thaís e Lauren e as volantes Maressa e Yaya. Ao mesmo tempo, Adriana e Tamires abriam o campo e as laterais Katiuscia e Yasmim apareciam um pouco mais por dentro na inversão do 4-1-4-1 para o 2-3-5 já registrada por este que escreve em vários jogos desse Corinthians. Do outro lado, as dificuldades do São Paulo para fazer a bola chegar em Gláucia e encaixar os contra-ataques era nítida. Tudo porque a transição defensiva do escrete de Arthur Elias estava ajustada e também porque Diany e Tarciane tiveram atuações impecáveis na marcação e na cobertura dos espaços no campo de defesa. O gol de Gabi Zanotti (marcado aos 24 minutos do primeiro tempo) consolidava essa superioridade tática e técnica.
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Aliás, a camisa 10 do Corinthians deu aula de movimentação ofensiva na partida desta quarta-feira (8). Arrastou a marcação, soube jogar de costas para as zagueiras, atacava os espaços e ainda orientou as companheiras de equipe. Parecia jogar na posição há anos. E o segundo gol de Gabi Zanotti (e do Corinthians) foi uma ótima demonstração de como Arthur Elias compreendia o que acontecia dentro de campo e organizava sua equipe como se estivesse num jogo de xadrez. A inversão do 4-1-4-1 para o 2-3-5 tinha profundidade, amplitude e muita velocidade nas transições. Difícil não perceber as dificuldades do São Paulo para compreender essa formação e responder à altura no jogo. E se Gabi Zanotti estava em noite inspirada, o mesmo precisa ser dito de Vic Albuquerque. Mesmo jogando mais afastada da área, a camisa 17 mostrou visão de jogo e distribuiu ótimos passes. Como o que iniciou a jogada do segundo gol.
Mas Lucas Piccinato também tinha suas armas. O gol de Naná (uma das jogadoras que mais mostrou evolução nessas duas finais) recolocou o São Paulo no jogo e levava a decisão para as penalidades. A volta do intervalo nos mostrou um Tricolor Paulista mais compactado e mais organizado com a entrada de Duda no lugar de Micaelly (que esteve em noite muito mais discreta do que na partida de ida) com a mudança no desenho tático do 4-4-2 para um 4-1-4-1 com Maressa entre as linhas e Jaqueline e Naná pelos lados. Por mais que o Corinthians ainda levasse perigo ao gol de Carla, o São Paulo esteve mais concentrado e mais intenso nas suas transições no segundo tempo e por pouco não marcou o segundo gol após cobrança de escanteio de Dani e cabeçada de Gláucia que parou no travessão. Lucas Piccinato mostrava que também estava atento ao que acontecia na partida disputada na Neo Química Arena.
Com Maressa jogando entre as linhas, Gabi Portilho e Vic Albuquerque já não encontravam o mesmo espaço para circular e encostar numa já desgastada Gabi Zanotti. Arthur Elias respondeu com Jheniffer no lugar de Yasmim e o deslocamento de Tamires para a lateral. Tudo para ter uma jogadora descansada trombando com as zagueiras Thaís e Lauren (sendo que esta última fazia grande jogo) e para ganhar ainda mais fôlego para tentar o gol do título. E ele veio no último minuto do tempo regulamentar num lance iniciado no campo de defesa do Corinthians. Tamires sai da pressão, passa para Jheniffer que vê Adriana com liberdade. A camisa 16 recebe, avança e vê o avanço de Poliana pela direita às costas de Dani. Ao mesmo tempo, Vic Albuquerque aparece na frente e faz a parede para que a mesma Adriana aparecesse na entrada da área e finalizasse no canto esquerdo de Carla. Gol com a cara do Corinthians de Arthur Elias.
Todo o intenso duelo tático na beira do gramado, a atuação das duas equipes e público na Neo Química Arena nos deixam a certeza de que o Futebol Feminino está crescendo a passos largos apesar de todos os problemas bem conhecidos de todos nós. É por isso (e por mais uma série de motivos) que o jogo desta quarta-feira (8) dificilmente será esquecido por quem ama e batalha para que a modalidade conquiste o espaço que merece. Exaltamos o Corinthians com toda a justiça. Mas também precisamos reconhecer os méritos de um São Paulo competitivo, organizado e aguerrido. A equipe de Lucas Piccinato fez dois grandes jogos contra uma equipe mais forte e mais técnica. Venceu o primeiro e por pouco não levou a decisão do Paulistão Feminino para as penalidades. Jogou na bola e não apelou para os pontapés em nenhum momento. É mais um ótimo trabalho que precisa de continuidade, incentivo e reconhecimento.
E o Corinthians fecha 2021 com os títulos do Brasileirão, da Libertadores e do Campeonato Paulista. Mas nem mesmo a conquista da tão sonhada e perseguida Tríplice Coroa é capaz de nos dar um mínimo de noção do tamanho do legado que Arthur Elias, Gabi Zanotti, Adriana, Vic Albuquerque, Gabi Portilho, Tamires, Katiuscia, Yasmim e várias outras estão deixando para o futuro. Talvez só compreendamos tudo isso e o tamanho dessa equipe apenas daqui a alguns anos. Mais uma bela página foi escrita nessa história.
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