Home Futebol Corinthians recupera a consistência, conquista o Paulistão Feminino e fecha ano mágico com chave de ouro

Corinthians recupera a consistência, conquista o Paulistão Feminino e fecha ano mágico com chave de ouro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Arthur Elias montou sua equipe para superar o São Paulo de Lucas Piccinato na Neo Química Arena

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Arthur Elias montou sua equipe para superar o São Paulo de Lucas Piccinato na Neo Química Arena

A noite desta quarta-feira (8) dificilmente será esquecida por todos aqueles que amam o esporte e que lutam para que o Futebol Feminino tenha o espaço que merece. Isso porque o Corinthians venceu o São Paulo por 3 a 1 de maneira épica diante de 30.077 torcedores presentes na Neo Química Arena (recorde de público em jogos da modalidade no Brasil) no jogo que decidia o campeão do Paulistão Feminino desse ano de 2021. E isso com Arthur Elias fazendo das suas e realizando modificações que só foram compreendidas quando a bola rolou e o Timão foi se impondo diante do escrete comandado por Lucas Piccinato na base da velocidade, da imposição física e do mais puro duelo de estratégias. O Corinthians escreve mais uma bela página da sua belíssima história com a conquista do Campeonato Paulista e fecha 2021 com a Tríplice Coroa e a expectativa de que o próximo ano deve nos trazer ainda mais motivos para sorrir.

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Quem viu o jogo de ida realizado no Morumbi deve se lembrar deste que escreve afirmando que o São Paulo tinha um plano e o executou muito bem. Diante disso, podemos afirmar que Arthur Elias TAMBÉM TINHA UM PLANO. Por mais que muita gente tenha estranhado a escalação inicial do Timão, ela se mostrou a mais acertada assim que Edna Alves Batista iniciou a partida desta quarta-feira (8). Natascha entrou no lugar de Kemelli e Tarciane fez dupla de zaga com Campiolo. Mas o “pulo do gato” estava mais à frente. Ao invés do seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro, o Corinthians se organizou num 4-3-3/4-1-4-1 com Gabi Zanotti jogando como referência no ataque, Gabi Portilho e Vic Albuquerque como interiores e Diany organizando a saída de bola desde o campo de defesa. Tudo para que o São Paulo provasse do próprio remédio e perdesse a compactação e a organização tática vistas no “primeiro round” da final do Paulistão Feminino.

Arthur Elias apostou num 4-1-4-1 que trazia Gabi Zanotti como referência e Gabi Portilho e Vic Albuquerque como interiores. O objetivo da formação era espaçar o São Paulo e ocupar os espaços entre as linhas do time comandado por Lucas Piccinato. Foto: Reprodução / YouTube / Paulistão

Gabi Portilho e Vic Albuquerque tinham uma função bem clara nessa formação utilizada por Arthur Elias. As duas se movimentavam atrás de Gabi Zanotti e buscavam ocupar o espaço entre as zagueiras Thaís e Lauren e as volantes Maressa e Yaya. Ao mesmo tempo, Adriana e Tamires abriam o campo e as laterais Katiuscia e Yasmim apareciam um pouco mais por dentro na inversão do 4-1-4-1 para o 2-3-5 já registrada por este que escreve em vários jogos desse Corinthians. Do outro lado, as dificuldades do São Paulo para fazer a bola chegar em Gláucia e encaixar os contra-ataques era nítida. Tudo porque a transição defensiva do escrete de Arthur Elias estava ajustada e também porque Diany e Tarciane tiveram atuações impecáveis na marcação e na cobertura dos espaços no campo de defesa. O gol de Gabi Zanotti (marcado aos 24 minutos do primeiro tempo) consolidava essa superioridade tática e técnica.

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Aliás, a camisa 10 do Corinthians deu aula de movimentação ofensiva na partida desta quarta-feira (8). Arrastou a marcação, soube jogar de costas para as zagueiras, atacava os espaços e ainda orientou as companheiras de equipe. Parecia jogar na posição há anos. E o segundo gol de Gabi Zanotti (e do Corinthians) foi uma ótima demonstração de como Arthur Elias compreendia o que acontecia dentro de campo e organizava sua equipe como se estivesse num jogo de xadrez. A inversão do 4-1-4-1 para o 2-3-5 tinha profundidade, amplitude e muita velocidade nas transições. Difícil não perceber as dificuldades do São Paulo para compreender essa formação e responder à altura no jogo. E se Gabi Zanotti estava em noite inspirada, o mesmo precisa ser dito de Vic Albuquerque. Mesmo jogando mais afastada da área, a camisa 17 mostrou visão de jogo e distribuiu ótimos passes. Como o que iniciou a jogada do segundo gol.

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Vic Albuquerque aparece na intermediária, vê Tamires atacando o espaço às costas de Giovana e inicia a jogada do segundo gol do Corinthians na partida. O 4-1-4-1 de Arthur Elias tinha profundidade, amplitude e muita velocidade nas trocas de passe. Foto: Reprodução / YouTube / Paulistão

Mas Lucas Piccinato também tinha suas armas. O gol de Naná (uma das jogadoras que mais mostrou evolução nessas duas finais) recolocou o São Paulo no jogo e levava a decisão para as penalidades. A volta do intervalo nos mostrou um Tricolor Paulista mais compactado e mais organizado com a entrada de Duda no lugar de Micaelly (que esteve em noite muito mais discreta do que na partida de ida) com a mudança no desenho tático do 4-4-2 para um 4-1-4-1 com Maressa entre as linhas e Jaqueline e Naná pelos lados. Por mais que o Corinthians ainda levasse perigo ao gol de Carla, o São Paulo esteve mais concentrado e mais intenso nas suas transições no segundo tempo e por pouco não marcou o segundo gol após cobrança de escanteio de Dani e cabeçada de Gláucia que parou no travessão. Lucas Piccinato mostrava que também estava atento ao que acontecia na partida disputada na Neo Química Arena.

Duda entrou no lugar de Micaelly e o São Paulo espelhou o 4-1-4-1 do Corinthians com Maressa entre as linhas e muita velocidade pelos lados com Jaqueline e Naná. Lucas Piccinato conseguiu colocar sua equipe no jogo com uma simples alteração. Foto: Reprodução / YouTube / Paulistão

Com Maressa jogando entre as linhas, Gabi Portilho e Vic Albuquerque já não encontravam o mesmo espaço para circular e encostar numa já desgastada Gabi Zanotti. Arthur Elias respondeu com Jheniffer no lugar de Yasmim e o deslocamento de Tamires para a lateral. Tudo para ter uma jogadora descansada trombando com as zagueiras Thaís e Lauren (sendo que esta última fazia grande jogo) e para ganhar ainda mais fôlego para tentar o gol do título. E ele veio no último minuto do tempo regulamentar num lance iniciado no campo de defesa do Corinthians. Tamires sai da pressão, passa para Jheniffer que vê Adriana com liberdade. A camisa 16 recebe, avança e vê o avanço de Poliana pela direita às costas de Dani. Ao mesmo tempo, Vic Albuquerque aparece na frente e faz a parede para que a mesma Adriana aparecesse na entrada da área e finalizasse no canto esquerdo de Carla. Gol com a cara do Corinthians de Arthur Elias.

O Corinthians vence a pressão do São Paulo no seu campo e encontra muito espaço na frente. A bola vai de Adriana para Poliana, de Poliana para Vic Albuquerque e de Vic Albuquerque para Adriana. O gol do título tinha a cara do time comandado por Arthur Elias. Foto: Reprodução / YouTube / Paulistão

Todo o intenso duelo tático na beira do gramado, a atuação das duas equipes e público na Neo Química Arena nos deixam a certeza de que o Futebol Feminino está crescendo a passos largos apesar de todos os problemas bem conhecidos de todos nós. É por isso (e por mais uma série de motivos) que o jogo desta quarta-feira (8) dificilmente será esquecido por quem ama e batalha para que a modalidade conquiste o espaço que merece. Exaltamos o Corinthians com toda a justiça. Mas também precisamos reconhecer os méritos de um São Paulo competitivo, organizado e aguerrido. A equipe de Lucas Piccinato fez dois grandes jogos contra uma equipe mais forte e mais técnica. Venceu o primeiro e por pouco não levou a decisão do Paulistão Feminino para as penalidades. Jogou na bola e não apelou para os pontapés em nenhum momento. É mais um ótimo trabalho que precisa de continuidade, incentivo e reconhecimento.

E o Corinthians fecha 2021 com os títulos do Brasileirão, da Libertadores e do Campeonato Paulista. Mas nem mesmo a conquista da tão sonhada e perseguida Tríplice Coroa é capaz de nos dar um mínimo de noção do tamanho do legado que Arthur Elias, Gabi Zanotti, Adriana, Vic Albuquerque, Gabi Portilho, Tamires, Katiuscia, Yasmim e várias outras estão deixando para o futuro. Talvez só compreendamos tudo isso e o tamanho dessa equipe apenas daqui a alguns anos. Mais uma bela página foi escrita nessa história.

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