Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Cuca e Guto Ferreira no jogo que marcou o título do Galo depois de 50 anos de espera
Nem mesmo o mais louco dos roteiristas poderia pensar num desfecho como o dessa quinta-feira (2). O Atlético-MG precisava vencer o Bahia na Arena Fonte Nova para assegurar um título que não via há meio século. Depois de um primeiro tempo sem que nenhuma das duas equipes conseguisse balançar as redes, o Galo sofreu dois gols em quatro minutos. Quando todo mundo pensava que a festa seria adiada por mais alguns dias, o escrete comandado por Cuca virou o jogo no mesmo espaço de tempo para assombro geral e delírio da torcida atleticana. Avassalador, intenso, incrivelmente veloz e extremamente consistente. Essa, aliás, é a característica que forma campeões de torneios por pontos corridos. O Atlético-MG fez por merecer o título por ter sido fiel à sua identidade e ao estilo de jogo durante todo o Brasileirão. Mesmo nos momentos mais complicados. Méritos de Cuca e dos jogadores que compraram as ideias do seu treinador.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #BAHxCAM 2-3
⚽️| Luiz Otávio e Gilberto
⚽️| Hulk e Keno (2x)
——
📊 Estatísticas:📈 Posse: 48% – 52%
👟 Finalizações: 13 – 19
✅ Finalizações no gol: 3 – 9
🛠 Grandes chances: 2 – 1
☑️ Passes certos: 295 – 341💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/JHnJKqrnJs
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) December 2, 2021
O início da partida na Arena Fonte Nova nos mostrava um cenário já bastante familiar. O Bahia de Guto Ferreira se fechava em duas linhas na frente da área do goleiro Danilo Fernandes e adotava uma postura mais reativa diante de um Atlético-MG bastante modificado. Cuca não podia contar com Réver (lesionado), Allan, Jair e Diego Costa (suspensos), Savarino e Dylan Borrero (por conta do limite de estrangeiros). Mesmo assim, apostou numa equipe ofensiva. Zaracho jogou um pouco mais recuado (ao lado de Tchê Tchê), Vargas, Nacho Fernández e Keno formaram o trio de meias do 4-2-3-1 do treinador atleticano e Hulk jogava mais avançado. Embora ocupasse mais o campo de ataque, o Atlético-MG sentia muito a falta de Allan e Jair (principalmente deste último) na saída de bola e na transição para o ataque. Mesmo assim, dominava as ações no campo e concedia pouco espaço para o Bahia atacar a última linha.
É interessante notar que toda essa intensidade do Atlético-MG era facilmente perceptível por conta da movimentação dos jogadores no campo ofensivo. E sobre “ser intenso” entenda “pensar rápido”. O Galo é um time que faz isso com muita rapidez e até de forma automática. Guilherme Arana abre o jogo pela esquerda. Com isso, Keno tende a vir um pouco mais por dentro. Do outro lado, Mariano vira mais um armador, Nacho Fernández ataca o espaço às costas de Matheus Bahia e Vargas se junta a Hulk mais por dentro. Tudo é feito em cima do 4-2-3-1 inicial de Cuca e com o claro objetivo de furar a retranca imposta por Guto Ferreira. Além de posicionar o Tricolor de Aço em bloco baixo, foi possível perceber em alguns momentos que Rossi e Raí Nascimento se transformavam em “laterais adicionais” para conter as investidas do seu forte adversário pelos lados do campo e ganhar fôlego nos contra-ataques.
As duas equipes voltaram do intervalo com posturas diferentes. Enquanto o Atlético-MG buscava controlar mais o jogo (e até guardar fôlego para todo o segundo tempo), o Bahia avançou suas linhas e aproveitou bem essa diminuição do ritmo do seu forte adversário. Luiz Otávio abriu o placar após cobrança de escanteio da direita (aos 16 minutos) e Gilberto ampliou a vantagem do Tricolor de Aço aos vinte da segunda etapa. Cuca respondeu rápido. Vargas e Nacho Fernández deixaram o jogo para as entradas de Nathan e Eduardo Sasha. E foi este último quem sofreu a penalidade (claríssima de Luiz Otávio) que Hulk cobrou com categoria para diminuir o placar aos 27 minutos. E com todo o volume de jogo do Atlético-MG, o Bahia sofria demais para fechar o espaço entre as suas linhas e a entrada da área do goleiro Danilo Fernandes. E como se veria posteriormente, esse seria o grande erro da equipe de Guto Ferreira.
O gol de empate do Atlético-MG nasceu da movimentação de Keno entre as linhas do Bahia (foto acima) e de toda a profundidade gerada por Hulk, Eduardo Sasha e Nathan. Aliás, a avalanche provocada pelo escrete comandado por Cuca é o retrato perfeito do que foi o time nesse Campeonato Brasileiro. Agressividade e intensidade altas, velocidade com a posse da bola para atacar e definir as jogadas o mais rápido possível e muita movimentação no campo ofensivo. O gol da virada épica sobre um Bahia completamente atordoado nasceu de um contra-ataque em que o Galo tinha superioridade numérica em cima da defesa adversária (seis contra cinco). Enquanto Nathan abre o campo pela direita, Eduardo Sasha e Zaracho empurram a última linha para trás e abrem o espaço onde Keno aparece para receber o passe, ajeitar o corpo e marcar o gol do título. Lance com a marca registrada de Cuca, o grande mentor dessa equipe.
Enquanto este que escreve e todos os que viam o jogo realizado na Arena Fonte Nova tentavam entender o que havia acontecido em míseros quatro minutos, o Atlético-MG se impunha na base da técnica e da agressividade nas transições. Bem ao estilo que Cuca tanto buscou ao longo do ano. Ainda que o time tenha demorado para engrenar, não faltou material humano para o treinador atleticano montar uma equipe que liderou todos os quesitos num Campeonato Brasileiro histórico por uma série de fatores. E vale sempre lembrar que qualquer torneio de pontos corridos do mundo pede CONSISTÊNCIA. E isso sobrou no Galo Forte e Vingador. Mesmo nos momentos mais complicados e nas oscilações (nromais em qualquer equipe ao longo de uma extenuante temporada), o escrete atleticano sempre conseguiu se recuperar se impondo tecnicamente e usando do famoso “abafa” de Cuca quando foi necessário.
O @Atletico é o campeão brasileiro de 2021!
1° em mais vitórias (25)
1° em menos derrotas (5)
1° em menos gols sofridos (27)
1° em menos chances claras cedidas (36)
1° em jogos sem sofrer gols (16)
1° em chances claras convertidas (54%)
2° em gols marcados (60)— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) December 2, 2021
O treinador atleticano, aliás, é o grande personagem dessa conquista. Ainda que seu trabalho tenha apresentado problemas no início do Campeonato Brasileiro, Cuca é um dos maiores conhecedores do contexto do futebol brasileiro. Adaptar-se para ele não é uma tarefa das mais complicadas. E talvez seu grande mérito tenha sido a fidelidade a um estilo de jogo ofensivo, intenso e que resume bem seu pensamento sobre o velho e rude esporte bretão. Difícil não notar que o Atlético-MG teve uma identidade, uma “cara” durante toda a campanha vitoriosa do bicampeonato nacional. E a virada épica sobre um Bahia perdido e frouxe demais para quem luta contra o rebaixamento foi o resumo perfeito de tudo o que vimos ao longo dessa temporada. Por mais que alguns insistam em “teorias da conspiração” totalmente sem sentido, precisamos reconhecer os méritos e a qualidade do Galo Forte e Vingador.
Toda a matemática apontava para o título do Atlético-MG. O que os roteiristas dessa história não nos contaram é que o desfecho dela nos reservaria uma das viradas mais épicas da história do Campeonato Brasileiro. Virada essa que teve a marca de um treinador que gosta de futebol ofensivo e que sabe se adaptar ao contexto complicadíssimo do futebol brasileiro. O tão sonhado bicampeonato não aconteceu por acaso.
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