Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca os conceitos do treinador italiano e analisa a vitória sobre o Vitesse pela Liga Conferência da Europa
Antes de mais nada, é sempre preciso lembrar que qualquer análise mais profunda de um trabalho que acabou de começar pode soar precipitada e até mesmo leviana. Por outro lado, é plenamente possível entender o que um determinado clube deseja com a chegada de um novo treinador, ainda que ela tenha sido realizada no “modo aleatório”. Não é o caso do Tottenham. A contratação de Antonio Conte diz muito sobre o que o clube londrino deseja para seu futuro e sobre o futebol que quer jogar num futuro próximo. Num momento em que o rival Arsenal está em processo de reconstrução com Mikel Arteta e o Manchester United ainda não “decolou” conforme o esperado, a tendência é que o técnico italiano possa ser a peça que faltava para colocar os Spurs no patamar que o clube ocupou há mais de 50 anos na Inglaterra. E já foi possível notar alguns dos conceitos quase que inegociáveis de Antonio Conte na vitória do seu Tottenham sobre o Vitesse, em jogo válido pela Liga Conferência da Europa.
Eu e você sabemos muito bem que o técnico campeão inglês com o Chelsea e campeão italiano com a Juventus e a Internazionale de Milão tem um modelo de jogo muito característico e praticamente autoral. Antonio Conte é adepto do 3-5-2/3-4-3 com movimentos bem definidos em todos os setores. Diante disso, ver o Tottenham escalado justamente no desenho tático acima não foi nenhuma surpresa. Conte tem predileção por zagueiros que aparecem no campo de ataque e usa dois alas com muita amplitude com um deles entrando na área mais do que o outro. Ao mesmo tempo, Antonio Conte gosta de centroavantes móveis, velozes e que possuam força física para fazer a jogada de pivô. Diego Costa e Lukaku foram dois jogadores que renderam demais com o treinador italiano (e a tendência é que Harry Kane também siga o mesmo caminho). Sem a bola, um 5-4-1/5-3-2 que fecha ao máximo a entrada da área para gerar campo para os contra-ataques. Mais ou menos o que vimos no Tottenham contra o Vitesse.
É evidente que a equipe iria apresentar alguns problemas nesse início de trabalho apesar dos conceitos já perceptíveis na vitória muito mais sofrida do que o necessário sobre um não mais do que aplicado Vitesse. Este colunista usa esse adjetivo por conta de tudo aquilo que se viu na partida desta quarta-feira (4) pela quarta rodada da Liga Conferência da Europa. Depois de um começo meio inseguro e até mesmo nervoso, o Tottenham se acertou na partida e conseguiu aproveitar bem os espaços que a equipe holandesa concedia entre as linhas comandado por Thomas Letsch. Não que os Spurs não tenham seus méritos na construção do resultado que o deixa vivo na briga pela primeira posição do Grupo G (que garante a passagem direta para as oitavas de final da competição). Mas é preciso deixar claro que o adversário também colaborou bastante. Principalmente no primeiro tempo, onde o Tottenham chegou a abrir três gols de vantagem antes de oscilar perigosamente e permitir a reação do Vitesse antes mesmo do intervalo.
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Os gols marcados antes dos trinta minutos da primeira etapa passavam a impressão de que o tal “fato novo” pela mudança no comando técnico fosse ser suficiente para que o Tottenham voltasse para os trilhos. Principalmente pela maneira como seus atacantes se entendiam no 3-4-3 utilizado por Antonio Conte nesta quarta-feira. Ainda que estejamos falando apenas do primeiro jogo do italiano no comando dos Spurs, alguns movimentos ofensivos ficaram bem nítidos, como o recuo de Harry Kane até a intermediária para permitir que Son e Lucas Moura pudessem entrar em diagonal no espaço aberto pelo camisa 10. Ou pela presença constante dos alas Reguilón e Emerson Royal (nome que pode crescer demais sob o comando do italiano pelas características que possui com e sem a bola) chegavam no ataque. Por mais que o Vitesse tenha colaborado ao abrir buracos enormes entre o seu meio-campo e a defesa, a equipe do Tottenham já mostrou que tem condições de se adaptar mais rapidamente a alguns conceitos de Conte.
Por outro lado, é bom que se diga que uma das grandes dificuldades do Tottenham estava na transição defensiva. Por mais que Cristian Romero, Dier e Ben Davies estivessem bem posicionados e que os alas Emerosn Royal e Reguilón fechassem bem os lados (na já mencionada linha de cinco utilizada por Antonio Conte nas suas equipes), os volantes Hojberg e Skipp demoravam tempo demais para encurtar o espaço entre eles e o sistema defensivo. O Vitesse diminuiu em cobrança de escanteio três minutos depois dos Spurs marcarem o terceiro gol e ainda voltaram para o jogo depois que Bero aproveitou toda a liberdade que teve dentro da área para tocar no canto esquerdo de Lloris (que faria pelo menos mais três defesas de cinema durante os noventa e poucos minutos). Ainda que o Vitesse tenha se desmontado com as expulsões do zagueiro Doekhi e do goleiro Schubert, o Tottenham (que já estava com um menos desde o inicio do segundo tempo) não encontrou forças para aumentar a vantagem no placar.
É verdade que não havia como esperar uma mudança mais profunda na equipe do Tottenham logo na sua estreia. E logo na Liga Conferência da Europa, competição onde o escrete londrino tenta se manter nas primeiras posições e se recuperar dos maus resultados. Diante desse cenário (que inclui a campanha ruim na Premier League e a passagem de apenas 17 jogos do português Nuno Espírito Santo), não é difícil concluir que os Spurs desejam seguir o mesmo caminho de Chelsea e Internazionale: a aposta no estilo único de Antonio Conte e na competitividade que implementa nas suas equipes. A obsessão pela ordem e a visão de um futebol que une “sacrifícios, suor e cansaço” como o próprio já comentou mais de uma vez. As sessões de treino costumam ser cansativas não por conta exigência física, mas pela atenção quase doentia com cada detalhe do plano de jogo. A aposta (alta) do Tottenham no italiano não foi feita por acaso. Há um desejo claro de retomar o patamar que o clube já ocupou há algumas décadas.
Antonio Conte ainda vai mexer muito no posicionamento e nas peças do Tottenham nesses próximos dias. Principalmente diante dos problemas no entendimento daquilo que o italiano deseja sobre o comportamento da sua defesa. Há também a possibilidade do 3-4-3 virar um 3-5-2 com a entrada de um jogador mais “marcador” no lugar de Lucas Moura ou até mesmo do brasileiro jogar numa das alas. Seja como for, a aposta dos Spurs mostram muito bem o que o clube deseja: um futuro que recupere os títulos e glórias do passado. Nem que seja na base do sacrifício, do suor e do cansaço.
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