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Seleção Feminina segue as orientações do “caderninho” à risca e conquista boa vitória sobre a Venezuela

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Pia Sundhage conseguiu organizar sua equipe depois do início de jogo ruim neste domingo (28)

Por Luiz Ferreira em 29/11/2021 02:06 - Atualizado há 10 meses

Thais Magalhães / CBF

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Pia Sundhage conseguiu organizar sua equipe depois do início de jogo ruim neste domingo (28)

A Seleção Feminina apresentou todas as características de uma equipe em início de ciclo na goleada sobre a Venezuela, neste domingo (28), na Arena da Amazônia, em Manaus. Oscilações, problemas no posicionamento defensivo, desentrosamento entre as jogadoras e por aí vai. Por outro lado, a maneira como do escrete comandado por Pia Sundhage retomou o controle da partida e retomou a concentração e se impôs na base da técnica deixam sim uma ponta de esperança com relação ao futuro dessa equipe. Também foi possível ver que as jogadoras seguiram à risca todas as orientações do “caderninho” da treinadora sueca na construção dos 4 a 1 sobre “La Vino Tinto”. Velocidade nas transições, intensidade, objetividade e organização ofensiva foram algumas das boas notícias da vitória deste domingo (28). E isso sem falar nas grandes atuações de Gabi Nunes, Kerolin, Ivana Fuso e (principalmente) Angelina.

Mas é preciso reconhecer que a Seleção Feminina não começou a partida contra a Venezuela da melhor maneira. Desentrosadas e ainda sem confiança, Tainara, Lauren e todo o sistema defensivo brasileiro vacilaram no gol de Villamizar, marcado logo aos dois minutos da primeira etapa. A impressão deste que escreve era a de que faltava concentração em cada jogada. E isso se refletia nos erros bobos dentro de campo. Por mais que o 4-4-2/4-2-4 de Pia Sundhage estivesse organizado e bem posicionado, o escrete canarinho concedia espaços entre as suas linhas e permitia que Denya Castellanos (jogadora do Atlético de Madrid) encontrasse espaço para circular na frente da defesa. Demorou um pouco para a Seleção Feminina se acertar diante de uma Venezuela que “achou” um gol a partir de uma bola mal rebatida pela defesa brasileira. Fora isso, o time também pecava pela afobação em diversos lances.

Pia Sundhage fez diversas mudanças no time que entrou em campo neste domingo (28) e viu sua equipe demorar muito para “entrar” no jogo. O 4-4-2/4-2-4 foi mantido apesar do claro desentrosamento e do nervosismo das atletas mais novas no teste contra a Venezuela. Faltava concentração e tranquilidade. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

A forte jogada de bola parada da Seleção Feminina (e tão bem trabalhada por Pia Sundhage) descomplicou as coisas aos 19 e aos 24 minutos da primeira etapa. Ao mesmo tempo, Kerolin e Gabi Nunes mostraram que podem ser muito úteis no modelo de jogo defendido e trabalhado pela treinadora sueca. A camisa 21 foi importante fechou o lado direito do meio-campo e ainda apareceu por dentro (entrando em diagonal) para aproveitar o espaço aberto pela movimentação de Debinha e da já mencionada Gabi Nunes. Esta, por sua vez, provou que pode ser a “camisa nove” mais móvel ou a segunda atacante de um 4-4-2 mais nítido. Seja como for, é uma jogadora que Pia procurou por muito tempo. E a jogada do terceiro gol da Seleção Feminina (marcado por Kerolin) nos apresentou um pouco das orientações do “caderninho” da treinadora sueca. Movimentação, velocidade e intensidade para abrir espaços na defesa adversária.

Adriana abre o campo, Debinha arrasta a marcação e Kerolin ataca o espaço. O “caderninho” de Pia Sundhage era seguido à risca pela Seleção Feminina. Imagens: Reprodução / SPORTV / GE

O quarto gol brasileiro nasce justamente de um dos pontos mais trabalhados pela treinadora sueca: a pressão pós-perda. Kerolin aperta, a zagueira venezuelana recua mal e Debinha aparece na frente da goleira Cáceres para ampliar a vantagem brasileira. Podemos criticar o trabalho de Pia Sundhage. Mas nunca podemos afirmar que não há uma ideia de jogo clara sendo colocada em prática na Seleção Feminina. E como acontece em todo início de ciclo, os erros vão acontecer. Principalmente na organização de um sistema defensivo forte e bem organizado. Apesar de preocupantes, os erros da zaga brasileira não surpreendem. Mesmo assim, Pia Sundhage sabe que precisa fazer ajustes. Os erros cometidos contra a Venezuela não podem se repetir. Ainda mais sabendo que o nível de exigência técnica, física e mental devem aumentar consideravelmente nos próximos meses. O “caderninho” precisa ser seguido à risca.

Denya Castellanos arrasta a marcação de Tainara e Ana Vitória e abre o espaço que Daniuska Rodríguez ataca no lance do gol da Venezuela anulado por impedimento. A Seleção Feminina ainda precisa de tempo para se acertar na defesa, mas alguns erros precisam ser corrigidos o quanto antes por Pia Sundhage. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Com as entradas de Gio, Marta, Ivana Fuso e Yasmim, a Seleção Feminina se reorganizou num 4-2-3-1 mais nítido com a camisa 10 posicionada mais próxima da entrada da área. Nesse ponto, é difícil não ver como a equipe deixou de depender dos lampejos da Rainha para tê-la como referência técnica dentro de campo, como a jogadora que descomplica as coisas com o toque diferenciado, mas que joga para o time. Isso é fruto das orientações do “caderninho” de Pia Sundhage e da maneira como o escrete canarinho vem comprando as suas ideias. O lance em que Ivana Fuso parte com a bola dominada pela direita e percebe a movimentação de Marta e Gio por dentro é o resumo perfeito de tudo que a treinadora sueca defende e tenta implementar na sua equipe. Velocidade, movimentação, transições rápidas e organizadas e imposição técnica. Está tudo lá. O “caderninho” vem sendo muito bem utilizado pela Seleção Feminina.

Ivana Fuso avança, Marta ataca o espaço e Gio percebe o buraco na defesa e recebe o passe. Uma pena essa bola ter acertado o travessão da Venezuela. Imagens: Reprodução / SPORTV / GE

Todo início de ciclo em qualquer time de futebol do mundo requer TEMPO e PACIÊNCIA. Eu e você podemos não gostar do estilo de jogo de um determinado treinador (ou treinadora) e isso é completamente válido e normal. Mas é somente dentro dele que as análises podem ser realizadas de com coerência e respeito aos fatos. E ficou claro que Pia Sundhage tem um modelo de jogo sendo implementado e assimilado pelas suas jogadoras. Não será da noite para o dia que a Seleção Feminina vai se transformar na grande potência que todos imaginam que ela seja. O trabalho de base sempre tão pedido por todas as jogadoras só começou a ser implementado agora e várias das nossas atletas ainda precisam de vivência de competição em ligas fortes tecnicamente. Assim como a nossa liga nacional precisa ser fortalecida. Falar em “regresso” não parece ser adequado. Ainda mais quando a palavra em questão significa retorno. E não “retrocesso”.

Mas talvez a grande lição da partida tenha sido deixada por Marta. A nossa Rainha fez questão de lembrar após a partida contra a Venezuela que “individualidade demais” pode prejudicar a Seleção Feminina como um time. É fácil de se compreender esse ponto, já que várias jogadoras são novas e querem mostrar serviço para Pia Sundhage. Por outro lado, essa é uma questão que precisa ser ajustada para os próximos testes do escrete canarinho. Principalmente contra equipes mais fortes e na Copa América do ano que vem.

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