Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Rogério Ceni montou sua equipe para superar o “mistão” de Abel Ferreira na casa do adversário
Nada como uma vitória num clássico para acalmar os ânimos e dar confiança para a sequência da temporada. É assim aqui no Brasil e em qualquer lugar do mundo quando o assunto é o nosso velho e rude esporte bretão. Os 2 a 0 do São Paulo sobre o Palmeiras se encaixam nesse cenário. Rogério Ceni vinha sob pressão por conta dos últimos resultados da sua equipe no Brasileirão (incluindo a goleada sofrida em casa diante do Flamengo) e precisava de uma resposta rápida diante da proximidade do Tricolor Paulista da zona do rebaixamento. É verdade que Abel Ferreira apostou suas fichas num “mistão” para descansar seus principais jogadores para a final da Libertadores daqui a alguns dias, mas esse fato pouco importa nesta análise. O São Paulo foi intenso, concentrado e altamente competitivo como não se via há algum tempo. E Rogério Ceni ganhou boas opções para essa reta final do Campeonato Brasileiro.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #PALxSPFC 0-2
⚽️| Gabriel Sara e Luciano
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📊 Estatísticas:📈 Posse: 56% – 44%
👟 Finalizações: 16 – 16
✅ Finalizações no gol: 4 – 6
🛠 Grandes chances: 0 – 1
☑️ Passes certos: 346 – 267💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/q4w63edFaK
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) November 18, 2021
É preciso reconhecer que o Tricolor Paulista começou a assimilar alguns dos conceitos trabalhados pelo seu treinador nos últimos dias. O 4-4-2 trazia “wingers” (os meias que jogam pelos lados) com os “pés trocados” e estes aproveitavam bem a indecisão dos defensores do Palmeiras na marcação e ainda abriam o corredor para os avanços de Igor Vinícius e Reinaldo. A tendência era a de um São Paulo que se posicionava um pouco mais recuado (em bloco médio para bloco baixo) com forte marcação no meio-campo e alta velocidade nos contra-ataques. Não havia nenhum receio de usar bolas longas quando necessário. Exatamente como aconteceu no golaço de Gabriel Sara, aos 23 minutos do primeiro tempo. Renan e Jorge vacilaram na marcação, Luciano ganhou pelo alto e o camisa 21 carregou a bola, cortou para o meio e mandou uma bomba no canto direito do goleiro Weverton. O São Paulo impunha seu estilo e não dava chances ao rival.
É de se compreender a escolha de Abel Ferreira por um time alternativo e quase que completamente composto por reservas. Perder um jogador importante por lesão às vésperas da decisão da Copa Libertadores da América seria um golpe muito duro para uma equipe que sente demais a maratona de jogos e o calendário insano do futebol brasileiro. Neste ponto, este que escreve vê certa justiça e coerência nas reclamações do treinador português. Qualquer escolha realizada pelo comandante do escrete alviverde será questionada e terá seus riscos. Por outro lado, mesmo com o “mistão” em campo, havia como o Palmeiras apresentar um futebol minimamente mais competitivo nesta quarta-feira (17). O 4-3-3 de Abel Ferreira não fechou os espaços entre as suas linhas, se mostrou muito desorganizado em determinados momentos e ainda “aceitou” a marcação do São Paulo sem muita resistência. E tudo isso diante da sua torcida.
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Por mais que o Palmeiras tentasse, o time de Abel Ferreira quase não encontrava espaços para atacar a área do goleiro Tiago Volpi. Isso porque o São Paulo se manteve fechado no seu campo e bloqueou todo o espaço de movimentação e circulação da bola entre as suas linhas. O 4-4-2 de Rogério Ceni funcionava bem para isolar Patrick de Paula do resto do time. Com isso, a única maneira de se chegar ao campo de ataque era na base das bolas longas e das ligações diretas. Some a isso a fase ruim de Luiz Adriano e o desempenho mais abaixo de Breno Lopes e Willian Bigode. Faltava a intensidade que sobrava no Tricolor Paulista no perde-pressiona, na retomada da posse na construção dos contra-ataques que quase sempre pegavam a defesa alviverde desprotegida. Nesse ponto, o trabalho feito por Rodrigo Nestor, Igor Gomes, Gabriel Sara e todo o meio-campo do São Paulo era muito eficiente. E isso fazia a diferença.
O segundo gol do São Paulo (marcado por Luciano) mostra muito bem como o perde-pressiona e a boa marcação do time de Rogério Ceni funcionou diante de um Palmeiras apático demais. Mesmo com entrando em campo com um time repleto de reservas. É verdade que as coisas melhoraram um pouco quando Abel Ferreira mandou Wesley, Raphael Veiga, Rony e Gustavo Scarpa para o jogo. O camisa 14 ainda acertou a trave de Tiago Volpi nos minutos finais. Mas foi só isso. O desempenho coletivo alviverde estava muito aquém do que a partida desta quarta-feira (17) exigia. E com isso, o Tricolor Paulista seguia o planejamento do seu treinador. Muita marcação no meio-campo, perde-pressiona, intensidade na movimentação com amplitude e profundidade. É muito difícil não cravar que Rogério Ceni superou Abel Ferreira no “duelo de estratégias” travado no Allianz Parque. Mesmo diante do contexto específico da partida.
A grande verdade é que o São Paulo só não vencer a partida por uma diferença maior de gols porque o goleiro Weverton salvou o Palmeiras com pelo menos duas boas defesas. De resto, o time de Rogério Ceni fez uma das suas melhores exibições coletivas nesses últimos dias. Ao mesmo tempo, a vitória sobre o Palmeiras (mais uma num clássico) foi importante para acalmar as coisas lá pelos lados do Morumbi (com as incertezas para a próxima temporada e a proximidade da zona do rebaixamento) e fundamental para que o treinador tricolor encontrasse mais opções para montar a equipe. Pelo que se viu nesta quarta-feira (17), o 4-4-2 encaixou bem as características de Rodrigo Nestor, Gabriel Sara e Luciano, todos fundamentais com e sem a bola. Já o Palmeiras vê a bronca da torcida aumentar e as escolhas de Abel Ferreira serem ainda mais questionadas às vésperas da final da Libertadores da América.
Certo é que o caminho do São Paulo ainda é longo. O elenco tem qualidade e bola para estar numa posição muito melhor na tabela do Campeonato Brasileiro. E por mais que Rogério Ceni encontre certa resistência nos bastidores, é preciso admitir que ele acertou em cheio na estratégia e tem responsabilidade direta pela vitória no clássico. E como dito anteriormente, nada como vencer seu rival para encontrar um pouco de paz e tranquilidade.
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