Derrota para o Internacional é a consequência direta da apatia de um Grêmio sem lenço e sem documento
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Diego Aguirre e Vagner Mancini no emocionante e polêmico Gre-Nal 434
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Diego Aguirre e Vagner Mancini no emocionante e polêmico Gre-Nal 434
Poucos jogos no mundo decidem tanta coisa quanto um Gre-Nal. Por mais que você seja de outra região (ou até de outro país), não reconhecer a grandeza de um dos clássicos mais disputados do planeta é não enxergar um palmo na frente dos olhos. Do mesmo modo, a impressão que ficou neste que escreve depois do jogo deste sábado (6) é a de que o Grêmio está cada vez mais afundado nos próprios problemas. Ainda que o Internacional não tenha feito uma partida assim tão brilhante. Mas jogou de maneira correta dentro do contexto que se apresentava no Beira-Rio, explorou as deficiências do time comandado por Vagner Mancini e conquistou vitória importantíssima para a sequência do Brasileirão. Por outro lado, se o escrete comandado por Diego Aguirre fez o que tinha que fazer, fica difícil entender o que se passa no Grêmio. O que é certo, meus amigos, é que a derrota no Gre-Nal 434 nada mais é do que a consequência direta de uma inexplicável onda de apatia que tomou conta do Tricolor Gaúcho nesses últimos meses.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #INTxGRE 1-0
⚽️| Taison
——
📊 Estatísticas:📈 Posse: 40% – 60%
👟 Finalizações: 9 – 9
✅ Finalizações no gol: 2 – 5
🛠 Grandes chances: 1 – 1
☑️ Passes certos: 211 – 360💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/nBSfbQjc7O
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) November 6, 2021
É interessante notar que o Grêmio levava perigo ao gol de Marcelo Lomba quando acelerava as jogadas com Douglas Costa e Ferreirinha se movimentando muito. No entanto, o time de Vagner Mancini sofria de dois problemas crônicos. O primeiro estava na péssima noite do colombiano Borja, facilmente anulado por Bruno Méndez e Victor Cuesta. E sem profundidade, o Tricolor Gaúcho penou para entrar na área colorada. E o segundo (e talvez o mais grave) estava na péssima transição defensiva. Mesmo jogando com três volantes (Lucas Silva, Thiago Santos e Villasanti), a equipe de Vagner Mancini sofria demais para tirar o espaço entre as suas linhas e conter as boas investidas do setor ofensivo do Internacional. Do outro lado, Diego Aguirre apenas posicionava sua equipe de modo a explorar todos os problemas coletivos do maior rival e tinha nas descidas rápidas pelo lado esquerdo a maior arma ofensiva. Principalmente quando Moisés e Patrick tinham campo para atacar e Yuri Alberto se deslocava pelos lados do campo.
O jogo do Internacional de Diego Aguirre era correto. A equipe colorada se fechava em duas linhas e deixava Taison mais solto para puxar os contra-ataques e ainda contava com a polivalência de Edenílson e Patrick nos lados do 4-2-3-1/4-4-1-1 escolhido pelo treinador uruguaio. Difícil não perceber como os dois sempre levavam vantagem nos duelos físicos contra Rafinha e Cortez sempre que os dois partiam na direção do ataque. Há quem veja o Internacional jogando com quatro volantes. Este que escreve, no entanto, prefere enxergar apenas a adaptação de Diego Aguirre ao elenco que encontrou quando assumiu a equipe. O maior problema do escrete colorado estava no lado direito de defesa, onde Saravia não fazia boa partida e era facilmente superado por Douglas Costa e Ferreirinha. Mesmo assim, o Grêmio seguia abatido, apático, sem profundidade e sem vibração (essa talvez uma das marcas registradas do Tricolor Gaúcho clássicos contra o maior rival). Parecia questão de tempo para que o Internacional aproveitasse todo esse cenário.
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A péssima transição defensiva cobrou seu preço aos 39 minutos da primeira etapa. Edenílson teve toda a liberdade do mundo para cruzar duas vezes da direita buscando a investida de Taison no espaço deixado pelo avanço de Rafinha ao ataque. Na primeira vez, a zaga do Grêmio afastou, mas a bola permaneceu com o escrete colorado. Rodrigo Dourado devolveu a bola para o camisa 8 e que parou, viu a movimentação do camisa 10 novamente e fez o cruzamento buscando o espaço às costas do lateral gremista que, por sua vez, se mostrou completamente perdido na marcação e não percebeu a chegada do adversário. Como todo o sistema defensivo do Grêmio. Ao mesmo tempo, também era muito difícil não perceber o semblante de cada jogador após o gol marcado por Taison. A falta de vibração diante do maior rival e num jogo que poderia servir de divisor de águas no Campeonato Brasileiro era nítida. Do mesmo modo, o Internacional mostrava que estava muito mais inteiro e muito mais focado do que o escrete comandado por Vagner Mancini.
O Grêmio criou mais chances no segundo tempo com as entradas de Campaz, Vanderson e Diego Souza e uma postura mais ofensiva e aguerrida do que a apresentada nos primeiros 45 minutos. No entanto, o nervosismo na hora de finalizar as jogadas fez com que as investidas do Tricolor Gaúcho parassem nas boas defesas do goleiro Marcelo Lomba. Mesmo assim, a transição defensiva seguia com seríssimos problemas e o Internacional só não ampliou a vantagem no placar porque Yuri Alberto, Patrick e Maurício não foram felizes nas tomadas de decisão. O que não faltava entre as linhas do time de Vagner Mancini era espaço. O time de Diego Aguirre acabou assumindo riscos desnecessários no final da partida diante de um adversário ainda disperso e sem a concentração necessária para explorar os espaços que encontrava através dos avanços de Vanderson, da habilidade de Douglas Costa e da profundidade que Diego Souza (mesmo visivelmente “pesadão”) davam às jogadas de ataque. Mesmo assim, o repertório do Grêmio era quase inexistente.
Estava mais do que claro que vencer o Internacional na casa do maior rival poderia ser a injeção de ânimo que faltava no escrete gremista. No entanto, o resultado final chamava menos a atenção do que a enorme apatia e da absoluta falta de repertório de uma equipe perdida, sem rumo, sem lenço e sem documento. Ao mesmo tempo, Vagner Mancini parece não se ajudar ao manter Vanderson e Campaz no banco de reservas e insistir nas escalações de Rafinha e Thiago Santos, ambos em fase técnica terrível e sendo bastante cobrados pela torcida gremista. Por mais que o Gre-Nal 434 tenha sido muito mais brigado do que jogado, venceu a equipe que esteve melhor organizada e que melhor aproveitou as deficiências do seu adversário. E repetimos: mesmo não tendo feito uma partida brilhante (esteve bem longe disso, aliás), o Internacional de Diego Aguirre foi muito mais feliz. Seja por conta das escolhas táticas, pela maneira como encarou o clássico e pela partida que fez. O Grêmio esteve muito mal em todos os sentidos. Mais uma vez.
Foram apenas quatro pontos conquistados nos últimos dez jogos. Difícil acreditar que o Tricolor Gaúcho vai se livrar do Z4 e se manter na primeira divisão diante de tudo o que vem sendo mostrado dentro de campo. A derrota para o Internacional foi mais um capítulo dessa inexplicável onda de apatia que tomou conta do clube nos últimos meses. Renato Gaúcho, Tiago Nunes, Luiz Felipe Scolari e agora Vagner Mancini. Nenhum deles conseguiu tirar alguma coisa de um Grêmio que possui sim bons valores individuais, mas que parece ter se esquecido de que o futebol é um esporte coletivo.
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