Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Roberta Batista e os problemas das Guerreiras Grenás na partida contra o Santa Fe
É preciso dizer que a Ferroviária sofreu com problemas semelhantes aos descritos no título desta humilde análise na vitória sobre o Cerro Porteño. Tanto que este colunista havia mencionado a necessidade de se colocar a bola no chão e manter a concentração como requisitos para que o escrete de Roberta Batista pudesse garantir presença nas semifinais da Libertadores Feminina. Diante disso, é difícil não enxergar na eliminação diante do competitivo Independiente Santa Fe a repetição dos problemas das quartas de final. A diferença é que o “gol do alívio” (se é que podemos usar essa expressão) só saiu aos 30 minutos do segundo tempo (quando as Guerreiras Grenás perdiam o jogo) com Rafa Mineira marcando em cobrança de falta digna das mais completas enciclopédias de futebol. Na disputa por penalidades, no entanto, a concentração do escrete colombiano falou mais alto. Monalisa parou na ótima Katherine Tapia, Raquel acertou a trave e as Guerreiras Grenás viram o sonho do título acabar diante da festa das adversárias.
⏱️49' 2T – Final de partida no estádio Manuel Ferreira. As Guerreiras se despedem da Libertadores após serem superadas por 4 a 2 nas cobranças de pênaltis.
Durante o tempo regulamentar, a partida terminou em 1 a 1, Rafa Mineira marcou para a AFE.#GuerreirasGrenás #Libertadores pic.twitter.com/Vk2K4Zc4VR— Guerreiras Grenás (@guerreirasgrena) November 15, 2021
Roberta Batista praticamente repetiu a formação que venceu o Cerro Porteño na última sexta-feira (12). Estava bem claro para este que escreve que a ideia era repetir a estratégia das quartas de final com Sochor como uma espécie de “enganche” no 4-3-3/3-4-1-2 que trazia Carol Tavares e Barrinha abrindo o campo, Luana recuando para fazer a saída de três e Raquel e Larhy mais soltas e saindo da diagonal para dentro buscando o espaço aberto pela movimentação da sua camisa 10 na intermediária. No entanto, toda essa estratégia acabou não funcionando como o esperado, já que o Santa Fe não concedia esse espaço. A equipe de Albeiro Erazo se fechava em duas linhas bem compactadas na frente da sua área e bloqueava bem as linhas de passe das Guerreiras Grenás. A Ferroviária tinha a posse da bola, mas só conseguia levar perigo com chutes de longa distância ou com ligações diretas. Do outro lado, a equipe colombiana fazia um jogo de imposição física e não tinha medo de apelar para faltas mais duras.
Não demorou muito para que o Independiente Santa Fe começasse a gostar do jogo e a aproveitar essa afobação das Guerreiras Grenás com bolas longas às costas de Carol Tavares, Gessica e Ana Alice. Aos 41 minutos da primeira etapa, Liana Salazar (que atacou o espaço entre Suzane e Rafa Mineira) recebeu passe com liberdade dentro da área e foi derrubada por Luana. Pênalti cristalino que Gisela Robledo cobrou sem chances para Luciana. E quem esperava ver um Santa Fe mais recuado no segundo tempo viu uma equipe que pressionou bastante a saída de bola da Ferroviária e bastante concentrada em cada movimento. Não foi por acaso que Sochor apareceu no campo de defesa com certa frequência para dar opção de passe e desafogar o jogo das Guerreiras Grenás. O problema é que isso gerava um efeito cascata que é explicado por uma matemática bastante simples: quanto mais jogadoras você tem no campo de defesa, menos atletas você terá no campo ofensivo. O cenário da partida estava todo favorável ao Santa Fe.
Quando a Ferroviária conseguia vencer essa pressão no seu campo, ela conseguia levar certo perigo para Katherine Tapia. Exatamente como aconteceu no início do segundo tempo com Rafa Mineira testando a goleira do Santa Fe com um chutaço de fora da área. Sochor pegou o rebote e obrigou a camisa 12 a fazer nova defesa. No entanto, aos 30 minutos, nem duas Tapias conseguiriam defender a cobrança de falta de manual realizada pela mesma Rafa Mineira (talvez a jogadora mais lúcida do meio-campo das Guerreiras Grenás). O gol mexeu com o Santa Fe e a equipe colombiana se desarrumou um pouco, mas a Ferroviária não conseguiu o gol da virada mesmo encontrando espaços na intermediária ofensiva e tendo uma certa facilidade para trocar passes na frente da área. Faltou aquela objetividade e também um pouco de concentração para “ler” os movimentos da defesa adversária. Nos minutos finais da partida desta segunda-feira (15), Luciana evitou gol certo de Gisela Robledo e Tapia fez defesa de cinema em finalização de Raquel.
Nas penalidades, Monalisa e Raquel acabaram desperdiçando suas cobranças e as Guerreiras Grenás viram o sonho do segundo título consecutivo acabar diante da festa das adversárias no Estádio Manuel Ferreira. A eliminação ainda vai ecoar por algum tempo na cabeça das jogadoras, mas é preciso deixar claro que as Guerreiras Grenás competiram e só não passaram para a final por questão de detalhes mínimos, daqueles que decidem um jogo de futebol. Ficam as lições para a temporada de 2022 e a certeza de que esses pequenos detalhes precisam ser trabalhados por toda a comissão técnica. O elenco tem qualidade e Roberta Batista mostrou ter uma proposta de jogo muito clara. Recuo de uma das volantes para fazer a “saída de três”, Sochor tendo liberdade para circular por todo o campo como “enganche”, triangulações, amplitude com o avanço das laterais ao ataque e qualidade com a bola no pé com infiltrações em alta velocidade dos lados para dentro. Fora isso, o elenco parece ter comprado a ideia da sua treinadora.
Faltou o “próximo passo”. A atuação segura que consolidaria esse modelo de jogo altamente promissor e que pode resultar em grandes coisas num futuro próximo. A eliminação diante do bom time do Independiente Santa Fe deixa um gosto amargo sim. Ainda mais sabendo que as Guerreiras Grenás tinham condições de chegar muito mais longe nessa Libertadores Feminina. No entanto, por mais que tenha faltado objetividade e concentração nos momentos decisivos, fica a certeza de que Roberta Batista e todo o time da Ferroviária estão no caminho certo.
CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO:
Vitória suada da Argentina sobre o Uruguai indica o “mapa da mina” para Tite e a Seleção Brasileira